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SÃO PAULO – Em meio ao cenário atual brasileiro de inflação resiliente, as discussões econômicas estão cada vez mais acirradas. E este quadro ficou bem claro em artigo publicado na Folha de S. Paulo pelo economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central. O economista, um notável crítico do atual governo brasileiro, fez críticas bastante contundentes ao professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Yoshiaki Nakano, um dos conselheiros do governo Dilma Rousseff em 2013.
Em artigo da Folha, Schwartsman criticou a coluna escrita por Nakano no jornal Valor Econômico do dia 18 de março, criticando os principais pontos do artigo, que avalia que um dos principais pontos para a queda da inflação entre os anos de 2004 e 2006 foi a apreciação cambial e não a política monetária, destacando que os juros altos não derrubam inflação.
Para Schwartsman, o artigo de Nakano é elucidativo, não por resolver o problema, “mas por cometer tantos equívocos em tão pouco espaço” e, por isso, iluminam algumas das dificuldades enfrentadas pelo BC para conter a inflação.
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O ex-diretor do BC contesta o professor e indica uma forte relação negativa entre a taxa real de juros e a inflação, o que indica que, taxas de juros mais altas estão associadas à inflação futura mais baixa e vice-versa. E ele avalia que esta evidência sobrevive aos testes mais sofisticados, o que sugere que o possível viés que Nakano menciona parece “se corresponder com a realidade muito melhor do que ele imagina”. E, para Schwartsman, oferece uma dica valiosa para a solução da ineficácia recente entre alta de juros e arrefecimento da inflação.
Schwartsman ressalta que a teoria e a evidência ressaltam que o nível de inflação depende do nível da taxa real de juros. Já a proposta de ter como meta apenas a inflação de preços livres, descartando os administrados, também é criticada pelo economista, “que parece ignorar que os primeiros têm superado os últimos desde 2010”. “Caso seguisse a sugestão de Nakano, a política monetária teria que ser mais apertada do que foi”, destacou.
O economista chegou a afirmar que chega a ser surpreendente que, num debate importante como o atual, “haja intervenções primárias”, afirmando que “um tanto de estudo antes parece ser absolutamente essencial”, referindo-se ao artigo de Nakano.
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Discussão vem de longe
Vale ressaltar que esta não é a primeira vez que Schwartsman critica Nakano. Em 2006, quando era economista-chefe do ABN Amro, ele afirmou que “Nakano não entendia nada de economia”, criticando a idéia do ex-diretor de usar a política monetária para equilibrar o balanço de pagamentos. Além disso, em relatório do banco, Schwartsman buscou desmontar a ideia do professor de que era necessário um choque de gestão para a redução da despesa pública em 3% do PIB.
Nakano reagiu às críticas contundentes e destacou: “ ele é um destes economistas que, quando saem do livrinho-texto, não sabem de nada”. E, provavelmente, a crítica mais recente de Schwartsman não deve ficar sem resposta.