Segundo trimestre deve ser pouco empolgante para mineradoras e siderúrgicas, mas Vale (VALE3) deve ser destaque positivo

Apesar de recuo da commodity, mineradora deve ser beneficiada por maiores volumes vendidos e por base fraca de comparação após chuvas

Vitor Azevedo

Mineração da Vale em Minas Gerais (Mario Tama/Getty Images)
Mineração da Vale em Minas Gerais (Mario Tama/Getty Images)

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A temporada de balanços do segundo trimestre se aproxima e deve ser mais uma de resultados fracos para as companhias dos setores de aço e mineração – mas não para a Vale (VALE3). Após os resultados históricos do ano passado, os recuos do minério de ferro e do aço devem pesar nos balanços de companhias como CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5). No entanto, a gigante deve se safar, ao menos sequencialmente, por conta dos maiores volumes vendidos.

“É difícil remediar o impacto dos preços mais baixos das commodities. Prevemos uma árdua temporada de resultados em geral, com contrações sequenciais dos Ebitdas [lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês] para a maioria de nossa cobertura, refletindo principalmente o impacto de preços mais baixos das commodities”, fala o time do Bank of America, chefiada pelo analista Caio Ribeiro.

O banco vê que o preço médio do minério de ferro deve ficar, na média, em US$ 111 – queda de US$ 13 frente ao primeiro trimestre deste ano. As sucessivas frustrações com a reabertura econômica da China, em grande parte, justificam o recuo.

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A CSN e a Usiminas também têm exposição ao setor de minério. No primeiro trimestre, a CSN, com a CSN Mineração (CMIN3), teve a commodity responsável por 36,6% da sua receita líquida, de R$ 11,3 bilhões, contra 51% da siderurgia. Na Usiminas, dos R$ 7,2 bilhões faturados, R$ 784 milhões foram provenientes do setor de mineração.

As duas companhias, em geral mais identificadas como siderúrgicas, serão também impactadas pelo recuo do minério de ferro.

Além disso, o fortalecimento do real também é visto como empecilho para todas. O dólar caiu, na média, 5% na base trimestral, para R$ 4,95, o que deve prejudicar as margens na hora das exportações, ainda de acordo com o BofA.

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“Com preços de minério de ferro mais baixos e um ambiente desafiador para aumentos de preços na indústria siderúrgica, esperamos um desempenho sequencial mais fraco para os nomes sob nossa cobertura. Do lado positivo, esperamos que a melhoria da produção da Vale posicione a empresa como o único nome a registrar alta do Ebitda no trimestre e a Gerdau reporte um melhor desempenho relativo em relação aos pares. Por outro lado, esperamos que Usiminas e CSN Mineração sejam os destaques negativos do trimestre no setor”, comenta o time da XP Investimentos.

Vale deve ser destaque

Para a Vale, contudo, o esperado é que a empresa traga uma melhora na base sequencial. Os ganhos, de acordo com analistas, serão puxados por volumes maiores de vendas, a despeito do recuo do minério de ferro.

No primeiro trimestre, as embarcações da mineradora foram prejudicadas pelo excesso de chuvas, que impediram a formação de pilhas de estoque no terminal marítimo Ponta da Madeira, no Maranhão. A XP prevê que os volumes irão avançar 42% trimestralmente, sendo que, de janeiro a março, a produção foi de 66,7 milhões de toneladas e as vendas ficaram em 45,8 milhões.

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“A Vale deve ser a única empresa que poderá relatar uma expansão de receita e de Ebitda, principalmente por conta das comparações fracas”, comenta a equipe do Credit Suisse, liderada por Vanessa Quiroga. “Os embarques de minério de ferro devem ter aumentado sequencialmente principalmente devido à sazonalidade, já que o estoque construído durante o primeiro trimestre deve ser vendido apenas no segundo semestre”.

Embora os preços do minério de ferro tenham diminuído 11,4%, nos cálculos da instituição suíça, na comparação entre os dois períodos, eles acreditam que os maiores volumes de vendas, combinados com uma qualidade de portfólio melhor, devem resultar em números positivos. O custo caixa (C1), apontam, também tende a diminuir marginalmente devido à maior diluição de custos e menor contribuição ponderada de compras de terceiros.

“Esperamos um aumento de 11% no resultado operacional, ou Ebitda, na comparação trimestral, impulsionado pela divisão de ferrosos, devido a maiores volumes e menores custos mais que compensando menores preços realizados. Na divisão de metais de base, esperamos queda sequencial de 19% no Ebitda”, corrobora o Itaú BBA. “Apesar de uma queda de aproximadamente 10% nos preços do minério de ferro no trimestre, prevemos que a Vale conseguirá manter resultados amplamente estáveis (ou mais altos), devido a uma recuperação sazonal (e também operacional) dos embarques”, diz o BTG Pactual.

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O BofA enxerga que a Vale trará um Ebitda de US$ 3,92 bilhões, com alta de 11% no trimestre, apesar da queda de 29% no ano. O Credit Suisse enxerga o número em US$ 3,95 bilhões, o BBA, em US$ 4,1 bi, e o BTG, em US$ 3,7 bi. A XP espera um Ebitda de US$ 4 bilhões.

A CSN Mineração não terá, de acordo com especialistas, a mesma sorte da Vale. O BTG pontua que a subsidiária deve enfrentar dificuldades entre abril e junho por conta de seus mecanismos provisórios de precificação, levando a resultados significativamente mais baixos, apesar de um sólido desempenho de produção de volume (próximo das máximas históricas). A companhia fechou vendas provavelmente utilizando preços de contratos futuros – que estão mais baixos do que o spot.

“Esperamos que a CSN Mineração apresente resultados fracos”, diz a XP. “O desempenho de preços pior mais do que deve compensar a melhoria de produção sequencial, que vemos em 14%”.

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Siderúrgicas não devem animar

Além de CSN Mineração, a CSN deve sofrer também por conta do seu braço de aço. A XP projeta uma margem Ebitda de 10,1% no 2º trimestre, versus 13,0% no 1º trimestre, e espera que as demais divisões da CSN (destaque à logística) mitiguem parcialmente o pior desempenho em nível consolidado (Ebitda da MRS de R$ 325 milhões +45% frente o 1º trimestre e Ebitda de cimento de R$ 206 milhões -7% na mesma base de comparação).

O BofA, por exemplo, enxerga que o preço do vergalhão no mercado brasileiro deve cair 4% na comparação trimestral, a R$ 3,9 mil a tonelada. Na base anual, o recuo é de 21%.

“Prevemos contrações sequenciais de Ebitda, especialmente para CSN e Usiminas, que estão expostas aos preços do minério de ferro e do aço plano brasileiro”, diz o time do banco americano.

O Credit Suisse vai no mesmo sentido. “Esperamos que as siderúrgicas apresentem resultados fracos, dada a ainda fraca demanda doméstica e as persistentes pressões de custos”, diz.

Com o mercado pouco aquecido, o projetado é que os volumes recuem ou fiquem basicamente estáveis e que os gastos das companhias com suas produções fiquem menos diluídos. As empresas muito dependentes do mercado brasileiro também devem fechar contratos com maiores descontos.

“Com as operações de mineração da CSN prejudicadas por preços realizados mais fracos e uma piora sequencial no desempenho da rentabilidade em meio a um ambiente de preços desafiador na divisão de aço, esperamos que as demais divisões, como a de logística, mitiguem um pouco o pior desempenho consolidado”, fala a XP sobre a CSN. “Vemos uma perspectiva de preços desafiadora (e que deve permanecer no 3T23) e um ambiente de custos mais pressionado do que o normal”, acrescenta a XP sobre a Usiminas.

Os especialistas destacam que tanto a CSN quanto a Usiminas também foram impactadas por dificuldades operacionais não recorrentes. A primeira teve gargalos de produção em seu forno de oxigênio básico em Volta Redonda (RJ), o que deve levar a empresa a aumentar suas compras de placas e afetar ainda mais os custos. A segunda está realizando uma manutenção em seu Alto Forno 3 em Ipatinga (MG), seu principal.

Para a CSN, o BofA tem projeção de Ebitda ajustado de R$ 2,1 bilhões, bem como o BTG e o Credit. O Itaú vê o lucro operacional ficando em R$ 2,02 bilhões e a XP, em R$ 2,2 bilhões. No caso da Usiminas, as projeções das instituições, seguindo a mesma ordem de citação, são de R$ 499 milhões, R$ 464 milhões, R$ 482,1 milhões e R$ 460 milhões e R$ 430 milhões.

Gerdau deve ser a melhor em metalurgia

A Gerdau, por fim, deve ser o destaque quando o assunto é metalurgia, mas, mesmo assim, tende a trazer resultados piores na base sequencial. A falta de exposição à mineração também, nesse caso, é um ponto positivo.

“Embora a Gerdau deva ser a menos afetada entre as siderúrgicas, esperamos que os resultados da empresa sejam ligeiramente piores sequencialmente, principalmente impactados por preços médios mais baixos e deterioração da margem no Brasil e na América do Norte”, fala o time de Vanessa Queiroga.

Na América do Norte, segundo a equipe do Credit, os volumes devem ter desacelerado, por conta do desaquecimento da economia, e isso deve afetar a diluição de custos (apesar da certa sustentação provida pelo pacote de infraestrutura governamental). No Brasil, a demanda tende a continuar fraca.

“Antecipamos uma queda na base trimestral diante de resultados mais fracos nas divisões do Brasil, com pior mix de vendas, e da América do Norte, com menor volume e diluição de custos fixos”, corrobora o BBA. “Para as divisões de América do Sul e de Aços Especiais, esperamos margens (rentabilidade) estáveis na comparação trimestral”.

O BofA, para a Gerdau, projeta um Ebitda de R$ 3,93 bilhões e o BTG, R$ 3,8 bilhões. O Credit espera R$ 3,78 bilhões, o BBA, R$ 3,85 bilhões, e a XP, R$ 4 bilhões.