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A iminente mudança do ciclo de juros no Brasil vem puxando os ativos de risco e impulsionando um discurso que aparece de tempos em tempos – que é o de que as ações das Small Caps, as companhias menores listadas na Bolsa, nessas horas, se saem melhor. Gestores, em parte, concordam que o cenário está propício para uma maior tomada de risco, mas pontuam que há também a necessidade de alguma cautela.
Na última semana, o Morgan Stanley, em relatório, defendeu que por enquanto não vê as small caps como boas opções de alocação, mesmo em um cenário de juros mais baixos no longo prazo.
Essas empresas, usualmente, tendem a oferecer retornos maiores em viradas de ciclos. Elas, em momentos de taxas altas, sofrem mais, por vários motivos: pois costumam ser mais alavancadas, com dívidas feitas para impulsionarem o crescimento; têm mais dificuldades em conseguir empréstimos, por oferecerem riscos maiores do que as companhias grandes; enfrentam dificuldades em crescer, por causa de todo o cenário que os juros altos criam.
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Para os estrategistas do banco americano, até então, é possível ter ações com o mesmo beta (indicador da volatilidade em comparação ao desempenho de um benchmark financeiro) entre ações que compõem o Ibovespa em relação a ações que compõem o índice de small caps, mas com liquidez muito superior.
Eles destacaram também que o benchmark de small caps é negociado com um desconto de cerca de 30% em relação ao grupo doméstico ex-bancos do índice principal, mas os investidores têm que pagar um preço em forma de menor liquidez.
Dito isso, preferem se posicionar em nomes como a Azul (AZUL4), Magazine Luiza (MGLU3), Lojas Renner (LREN3), entre outros.
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Ganhando confiança aos poucos
No ano passado, o Brasil já passou por uma tentativa de mudança de ciclo. Em meados de outubro, com a eleição e o recuo da inflação começando, os ativos tiveram um “voo de galinha”. Subiram, com investidores vendo uma possível mudança de ciclo, e logo recuaram, principalmente por conta de sinalizações políticas.
Na época, gestores também citavam a mesma questão – não se posicionando em small caps, priorizando a liquidez.
O grande ponto, em todos esses cenários, é saber se o ciclo realmente irá mudar ou não. As small caps, apesar de oferecerem a possibilidade de retornos mais atraentes do que as blue chips, oferecem menos liquidez. Caso as projeções de juros menores não se concretizem, pelo motivo que for, investidores que aportam nessas ações acabam ficando “presos a elas” e assumindo baixas maiores para se desfazerem dos papéis.
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Mas aparentemente, agora, há mais otimismo.
“É difícil esperar qualquer coisa que não seja a queda dos juros. Acho que o ciclo já começou, tanto pelo preço das ações quanto pelo recuo da curva. O último bastião de resistência à queda do juros é o Banco Central”, fala Leonardo Rufino, gestor da Mantaro Capital. “Vimos o que o ciclo de alta dos juros fez com a Bolsa. Foi uma destruição colossal. Claro que a mudança não é uma certeza, mas a probabilidade é razoável”.
O IPCA de maio, divulgado nesta semana, teve alta de apenas 0,23%, ante consenso de 0,33%. Nos últimos 12 meses, o acumulado é de 3,94%, patamar consideravelmente baixo.
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Para o gestor da Mantaro, se o cenário perdurar, há uma clara redução de risco à frente.
“Ainda temos um grande problema macro no Brasil que é o fiscal. O novo governo começou com declarações e uma PEC preocupante”, comenta, em referência à emenda constitucional de transição. “De lá para cá, depois de muito ruído, os ataques passaram para outras áreas. O Ministério da Fazenda passou a ganhar brigas. A ala mais barulhenta está calada. Depois do arcabouço, os cenários de expansão fiscal enorme sumiram”.
Para Leonardo Rufino, o cenário é diferente do do ano passado, e a Mantaro vem tomando mais riscos, de olho em empresas ligadas ao mercado interno.
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“Aumentamos nossa alocação em mercado de capitais via BTG (BPAC11), B3 (B3SA3), XP (XPBR31. Aumentamos posição em varejo, que sofreu muito, mesmo com as empresas trazendo um bom desempenho operacional bom. Não reagiam por causa do macro ruim mas, agora, devem reagir. Vivara (VIVA3), Soma (SOMA3), Grupo Mateus (GMAT3). Reduzimos um pouco no setor bancário”, menciona.
Small caps são risco dobrado
A Mantaro é uma das gestoras que, por enquanto, prefere empresas de mais liquidez ligadas ao mercado interno.
“Ainda não temos confiança suficiente para o risco combinado. São empresas mais arriscadas e não oferecem liquidez. O risco duplo ainda não estamos correndo. Uma característica do mercado é que está barato como um todo. Não precisamos tomar um super risco para pegar um retorno alto”, fala o gestor.
A gestora, porém, tem algumas posições “mais seguras” em small caps, caso da 3 Tentos (TTEN3) e Boa Safra (SOJA3), ambas ligadas ao agronegócio, setor que traz certa estabilidade. No futuro, as empresas menores e ligadas ao mercado interno podem ter espaço, no caso de as coisas continuarem como estão.
Rodrigo Melo, gestor da Tenax Capital, afirma que também está assumindo mais riscos – sendo que no fim do ano passado a posição da gestora em ativos brasileiros havia caído para apenas 10% do seu portfólio, com as apostas ficando no setor de minério, agronegócio e papel e celulose.
“Para 2023, nossa visão é que o mercado ganhou confiança por causa do arcabouço fiscal. Ganhou segurança. Então, criou-se um cenário de possível queda dos juros a partir do segundo semestre. O governo está trazendo boas notícias de como será o desenvolvimento e de como será a trajetória de estabilização da relação entre dívida e PIB”, diz Melo.
“É normal o mercado, em um movimento de adição de risco, comprar papéis mais líquidos. É difícil olhar para frente e falar que não temos mais nenhum risco político. Aqui é Brasil. A política está sempre dentro do nosso valor esperado. Há a imagem, contudo, de que o cenário para o Brasil está melhorando. É mais uma tentativa, mas, dessa vez, temos boas notícias na frente de inflação. Conforme a segurança for aumentando, isso vai melhorando”.
Possíveis riscos
Ao que tudo indica, se o otimismo persistir, é possível que as small caps se destaquem ainda mais. Mas há, também, a possibilidade de riscos, que justificam, justamente, a busca por liquidez.
“Ainda há, hoje, uma certa visão de que as ameaças não sumiram da pauta. Hoje, elas estão sendo, de certa maneira, encobertas pela questão da inflação. Os problemas fiscais, porém, ainda existem. Ainda há necessidade de o governo arrecadar R$ 150 bilhões, por exemplo”, avalia Paulo Clini, diretor de investimentos da Western Asset, em menção a um dos pontos do arcabouço fiscal. “Com isso, pode-se operar através da liquidez, montando posições em que pode, posteriormente, se desfazer rapidamente. Algumas small caps têm liquidez muito baixa. Talvez seja muito cedo [para apostar nelas]”, avalia.
Além do cenário interno, o especialista também lembra que parte da bonança recente vem de o Federal Reserve, o banco central americano, também sinalizar uma pausa em suas altas dos juros. As taxas mais altas nos Estados Unidos forçam uma reprecificação em ativos de todo o mundo.
“Esse movimento tem dado certo conforto. A desinflação ao menos permite que o Fed pare seu ciclo. Há divergência de ser na próxima ou não, mas a visão é que não há muito mais a ser feito, apenas na margem”, contextualiza. “A assimetria, que era claramente negativa, começa a ficar mais positiva. Eventualmente, em algum momento do tempo, ele terá de cortar e isso impacta muito o sentimento com mercados emergentes”.
Entra para a lista de riscos que podem frustrar o movimento, então, a macroeconomia global – ao lado da política e do fiscal brasileiros.
“Se for um voo de galinha, com a alta dos preços voltando, o Federal Reserve vai olhar para isso e pensar em novos arrochos. É um risco grande, talvez o principal”, fala o gestor da Western.
Em relatório recente, a equipe de estratégia da XP questiona: “será este o momento para as Small Caps?”
Os estrategistas acreditam que pode ser a hora de começar a adicionar algum risco, mas ainda com uma visão seletiva.
“Permanecemos cautelosos pois as taxas de juros ficarão em dois dígitos por um tempo, o que significa que empresas altamente alavancadas podem continuar sofrendo. Além disso, o ruído político continua no radar, com a reforma tributária potencialmente sendo discutida no segundo semestre de 2023. E, é claro, ainda existem riscos de recessão no exterior, com o crescimento dos Estados Unidos desacelerando. No entanto, vemos mais espaço para o Brasil ir bem se as taxas de juros caírem ainda mais em direção a níveis mais normalizados”, pondera a equipe de estratégia.
Portanto, eles decidiram adicionar mais risco em suas carteiras para o mês de junho, reduzindo algumas posições de ações defensivas e adicionando um pouco de duration (mais sensíveis a taxas de juros).
Em sua carteira Top 10, a XP cortou a exposição aos setores de Saúde e Utilidade Pública, realizando lucros com Hypera ([ativo=HYPE3)] e Equatorial (EQTL3); ao mesmo tempo, adicionou Petrobras (PETR4) devido ao seu valuation muito descontado.