Saiba como o mercado pode reagir a uma situação de guerra e quais seriam os setores mais impactados da Bolsa

Conflito armado tem potencial para gerar estouro inflacionário, segundo analistas, puxado por commodities e dólar

Mitchel Diniz

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O clima de diplomacia que vinha se desenhando sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia estremeceu de vez nesta quinta-feira (17), após a expulsão, pelo governo russo, do vice-embaixador americano Bart Gorman, que estava há cerca de três anos no país.

“Podemos confirmar que a Rússia expulsou o vice-chefe da embaixada dos EUA, Bart Gorman, que era a segunda pessoa da embaixada e um dos principais membros de sua equipe”, informou a embaixada americana.

Ainda que o Secretário de Defesa americano tenha dito que um conflito na Ucrânia pode ser evitado, as Bolsas em todo o mundo passaram a operar com perdas fortes, com temores de que uma guerra ainda possa acontecer.

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Nos últimos dias, informações desencontradas sobre movimentações de tropas russas na fronteira ucraniana trouxeram alívio momentâneo para os investidores. A nova escalada de tensões mostra o quanto o mercado financeiro é sensível ao tema. E mesmo as 10 mil quilômetros do potencial confronto, a Bolsa brasileira também teria muito a perder.

Para os analistas, a repercussão dependeria, em primeiro lugar, da extensão do conflito e como países da Europa e os Estados Unidos, aliados da Ucrânia, responderiam ao ataque russo. Sendo uma guerra geograficamente isolada, com retaliações apenas comerciais à Rússia, os reflexos seriam menores do que uma resposta bélica, com maior envolvimento de outras nações.

“Sabemos que os Estados Unidos tem um posicionamento pró-Ucrânia e, dependendo do posicionamento do Brasil nesse conflito, a gente poderia sofrer sanções. Poderíamos ter uma nova guerra comercial e uma pressão para as companhias exportadoras brasileiras”, afirma Anderson Meneses, da Alkin Research.

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Dólar e commodities em alta: quem ganha e quem perde

O setor de commodities já vem repercutindo as tensões geopolíticas no leste europeu há algumas semanas. A Rússia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e responsável por pelo menos um terço do abastecimento de gás natural na Europa.

“A intenção da tomada de posse pela Rússia da Ucrânia é ser competitiva em relação ao Oriente Médio, um dos maiores players de energia do mundo”, explica Ariane Benedito, economista da CM Capital.

Os preços do petróleo no mercado internacional chegaram ao maior nível desde julho de 2014 apenas com a possibilidade de um confronto armado entre as nações.

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Ariane explica que ações como Petrobras (PETR3, PETR4), PetroRio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) tendem a repercutir e ganhar com a valorização da commodity no mercado internacional. Mas vale lembrar que o Brasil também importa derivados de petróleo e a conta dessas empresas pode ficar mais cara em uma situação de guerra. Isso porque, assim como as commodities, o dólar tende a se valorizar.

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“A pessoa que tem dinheiro investido vai pensar em como trazer esses recursos para perto de si”, diz Alison Correia, fundador da Top Gain. A guerra alimenta o sentimento de aversão ao risco, que leva o investidor a fazer escolhas mais seguras. Numa situação de conflito, a tendência é que ele busque opções ainda mais conservadoras e o dólar é considerado porto seguro.

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O dólar mais alto, por sua vez, tende a refletir positivamente em ações de empresas exportadoras. É o caso das companhias de papel e celulose, como Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11), cujas receitas vêm, principalmente, das vendas para o exterior.

“São empresas que conseguem tirar um proveito da situação porque tem o dólar mais aquecido”, explica Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.

Efeito cascata

A combinação de commodities e dólar altos tende a impactar diversos outros setores da Bolsa e a economia como um todo. As aéreas, que mal se recuperaram da pandemia de Covid-19, enfrentariam um novo “baque” financeiro. Empresas como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) pagam em dólar pelo arrendamento das aeronaves, mesmo em um cenário de suspensão de voos. Além disso, as companhias tendem a ser impactadas pelo aumento no preço dos combustíveis.

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“O combustível de aviação é um dos principais custos das companhias aéreas e é derivado do petróleo”, explica Komura. Com as aéreas afetadas, fabricantes de aeronaves, como Embraer (EMBR3) e empresas de turismo, a exemplo de CVC (CVCB3) também tenderiam a ser fortemente impactadas.

Tempestade inflacionária

As tensões entre Rússia e Ucrânia ocorrem em um contexto de escalada da inflação global. As disparidades entre oferta e demanda, por conta da pandemia, ainda não foram ajustadas e o resultado é o avanço dos preços, com os países retirando estímulos e subindo juros aos poucos. Os analistas explicam que uma guerra agora teria potencial para provocar um estouro inflacionário.

Isso não só poderia levar os Estados Unidos a entrar em um ciclo mais severo de aperto monetário, como também frustraria os planos do Banco Central do Brasil em reduzir o ciclo de alta de juros. Para piorar, Rússia e Ucrânia, são grandes players globais de trigo e uma guerra fatalmente refletiria em uma alta dos preços dos alimentos.

O cenário complicaria ainda mais a situação de varejistas listadas na Bolsa. Ações de empresas como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) têm tido meses difíceis, respondendo negativamente a alta da inflação e perspectiva de alta de juros, o que diminui o poder de compra da população. “O  Brasil é um celeiro de commodities, mas tem um setor varejista que está bastante depreciado – e continuaria depreciando em um cenário de guerra”, conclui Gonçalvez.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados