Uma semana após o IPO, qual a visão dos investidores sobre as ações do Facebook?

Companhia fecha a 1ª semana de negociações com desvalorização de 16% e já enfrenta processos sobre a sua abertura de capital

Nara Faria

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SÃO PAULO – Passada uma semana da realização de um dos IPOs (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) mais comentados do mundo, as ações da rede social Facebook, de Mark Zuckerberg, acumulam no período entre o dia 18 de maio – quando começou a operar na bolsa de Nasdaq – até esta sexta-feira (25), desvalorização de 16,03%, cotado a US$ 31,91.

O mercado encerrou essa primeira semana de negociações das ações FB com uma ponta de preocupação sobre a viabilidade do investimento nas ações da companhia. Mas, afinal, o que tem trazido dúvidas aos investidores sobre a rentabilidade da área de atuação da companhia e da consequênte valorização de seus ativos? 

De fato, essa foi a melhor estreia de uma empresa de internet na bolsa de valores em termos de captação, superando a do Google. Ainda antes do IPO, cujo prospecto foi entregue em março deste ano, a ação da rede social de meio bilhão de usuários foi precificada em US$ 38,00, na máxima do intervalo estimado entre US$ 34,00 e US$ 38,00. Isso rendeu à companhia uma captação de US$ 16 bilhões e um valor de mercado de cerca de US$ 100 bilhões.

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Contudo, depois de sua abertura de capital, o desempenho dos papéis tem ficado aquém das expectativas do mercado e o noticiário não tem sido visto com bons olhos pelos investidores. Além disso, nesse período a companhia já mostrou interesse de deixar o Nasdaq, diante do baixo desempenho de seus ativos no início das negociações, e já vive o desconforto causado por processos envolvendo a precificação de seus ativos. 

Processo contra a empresa
Investidores do Facebook decidiram processar a rede social e os principais coordenadores do IPO da companhia, entre eles o Morgan Stanley, por considerarem que estes ocultaram menores previsões de crescimento da empresa antes da oferta de ações no montante de US$ 16 bilhões. 

Na terça-feira (22) a agência Reuters noticiou, com base em informações do Dow Jones, que um analista de internet do Morgan Stanley – principal subscritor do IPO – cortou sua previsão para as receitas da rede social norte-americana pouco antes da estreia das ações. O banco teria divulgado essa informação somente para seus clientes mais “importantes”. 

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O Facebook, por intermédio do porta-voz da companhia, Andrew Noyes negou as acusações e afirmou que a rede social se “defenderá vigorosamente” contra as acusações. 

Apesar da negativa, as incertezas envolvendo a oferta pública inicial de ações do Facebook podem afetar não só a companhia, mas também todo o setor de tecnologia. Com os detalhes da operação sendo revelados e processos surgindo, o mercado acredita que pode ser um desencorajador para os investidores, principalmente aos atrelados ao setor de tecnologia.  

“Acredito que isso vai congelar o mercado de IPO até que haja alguma estabilidade e algumas respostas para o que deu errado com o Facebook”, disse Scott Sweet, sócio-gerente sênior do IPO Boutique. 

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Estão dizendo por aí…
Apesar de ter sido considerada a melhor estreia de uma empresa de internet na bolsa de valores, as ações da rede social foram vistas com ceticismo por renomados conhecedores do mercado, que questionam a possibilidade desses papéis mostrarem uma boa rentabilidade no longo prazo, começa.

Bill Gross, co-fundador da Pimco, maior gestora de recursos de renda fixa do mundo, postou em seu twitter no dia da estreia dos papéis a fease: “Vai #Facebook! Eu não sei como usá-lo, mas eu reconheço uma bolha quando vejo uma!!!”. Nem um dos maiores gurus de investimentos, o megabilionário,Warren Buffett, acredita que comprar ações do Facebook é um bom investimento. “Nunca compramos em uma oferta”, disse Buffett.

O colunista da CNBC, apresentador do Mad Money, Jim Cramer, foi outro que demonstrou a sua visão adversa sobre os papéis. Referindo-se ao atraso de meia hora de atraso para o início das negociação, o colunista disso: “Para dar um contexto, após 11:30, Facebook = Espanha, Grécia…”.

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O atraso de meio hora para o início das negociações, previstas para iniciarem às 12h00 (horário de Brasília), foi justificado pelo Nasdaq como um “atraso operacional”, provavelmente causado pelo forte volume negociado com as ações.

O 2º dia e o fechamento da semana
Desde o primeiro dia de operação, os investidores acompanharam uma forte volatilidade dos ativos. O rendimento abaixo das expectativas das ações foi justificado por alguns analistas pelo fato de seu valor de abertura de capital ter sido realizado com múltiplos muito acima de seus pares.

O fato é que em seu primeiro dia na bolsa, 18 de maio, os papéis encerraram quase estável, com valorização de 0,61%. Contudo, no decorrer do pregão, elas chegaram a subir mais de 10,5%, quando chegaram a ser negociadas por volta de US$ 42,00. 

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Já o  segundo dia de negociação foi ainda menos animador. As ações do Facebook desabaram 10,99%, terminando aos US$ 34,03, desempenho muito abaixo da alta de 2,67% da própria Nasdaq e de 2,28% dos papéis do Google no dia 21 de maio. O cenário de perdas se estendeu pela semana e no dia 23 de maio os ativos chegaram a registrar perdas superiores a 18%.

No dia 24 de maio, as ações FB mostraram um início de recuperação e encerraram o dia cotadas a US$ 33,03, uma alta de 3,22%. Foi neste dia que a empresa manifestou o interesse de migrar para a rival NYSE, após frustrado início de suas operações na bolsa. Por fim, nesta sexta-feira (25), os papéis encerraram com forte desvalorização de 3,39%, contribuindo para o cenário negativo na semana. 

Quem já lucrou com o IPO?
O IPO milionário da rede social chamou a atenção de pessoas comuns e também de famosos e apesar do fraco desempenho das ações no início das operações, alguns investidores lucraram já no momento da abertura das operações.

Entre eles está o líder e vocalista da banda irlandesa U2, Bono Vox. A sua empresa, Elevation Partners, comprou em 2009 uma fatia de 2,3% da empresa de Mark Zuckerberg. O investimento, que na época foi de US$ 90 milhões, pode render ao líder do U2 e aos demais sócios da Elevation nada menos do que US$ 1,5 bilhão com a estreia da companhia na bolsa de valores.

Menos conhecida, mas que também ganhou a fama com o IPO, foi a história do grafiteiro David Choe. Ele foi pago com ações do Facebook para decorar a sede da empresa em 2005. Com a abertura de capital, Choe deve lucrar cerca US$ 200 milhões, de acordo com o jornal The New York Times.

Brasileiros também lucraram com o negócio. Eduardo Saverin, co-fundador do Facebook e o primeiro a investir capital na rede social, detendo uma participação entre 2% e 4% no Facebook, pode lhe render uma fortuna de até US$ 4 bilhões com a estreia na bolsa.