Varejistas esperam um 2024 melhor, mas ainda conturbado

Apesar de início de ciclo da queda dos juros, taxas ainda elevadas e endividamento das famílias são vistos como problemas

Vitor Azevedo Camille Bocanegra

Shopping Center (Pixabay)
Shopping Center (Pixabay)

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Com os juros ainda altos e a renda das famílias ainda comprometidas após um período de inflação elevada, os resultados de grande parte das companhias brasileiras seguem comprimidos, com 2023 se pintando, cada vez mais, como um ano difícil. E, para 2024, as perspectivas não são tão otimistas.

Durante o período das teleconferências de resultados do terceiro trimestre, ficou claro que a maioria das empresas ligadas ao consumo e ao mercado interno espera alguma melhora para o próximo ano. O início do ciclo de queda da Selic pelo Banco Central (BC), com a taxa saindo de 13,75% no começo do ano para 12,25% atualmente, deve começar a trazer impactos, mas longe ainda de serem suficientes para se chegar a um cenário totalmente positivo.

A Lojas Renner (LREN3), de varejo de moda, por exemplo, trouxe algumas falas otimistas. No entanto, elas foram mais acompanhadas de comentários sobre os avanços operacionais da empresa do que de projeções para a macroeconomia.

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“Entraremos em um ano de transição e temos um olhar cauteloso para 2024. Continuamos a investir e a nos preparar, mas estamos cientes dos desafios e incertezas do mercado”, falou o diretor financeiro (CFO) Daniel Martins dos Santos em entrevista ao InfoMoney.

“Estamos fazendo exercícios de orçamento. O cenário macroeconômico tende a evoluir positivamente, mas em uma velocidade mais lenta”, comentou.

De forma geral, essa posição foi uma constante dentro do setor, um dos que mais estão sofrendo.

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Sergio Zimerman, diretor executivo da Petz (PETZ3), falou que, por enquanto, a política da empresa que controla é de aceitar o recuo do mercado e trabalhar com as variáveis que consegue controlar e descartou grandes melhorias para 2024. “Nosso navio está muito bem, mas o tempo lá fora é de tempestade”, afirmou, no encontro com os analistas.

Alceu Demartini de Albuquerque, diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Grendene (GRND3) foi no mesmo sentido – apontando ainda que para além das decisões do BC é necessário ver quais serão as sinalizações do Governo Federal.

“Nós estamos começando a fazer o plano de 2024 agora, não temos fechado, mas não vemos muita mudança na economia para os próximos meses, nem para o próximo ano, pois ainda não se sabe quais serão os planos do Governo para a economia”, expôs.

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Varejistas, em sua maioria, seguem cautelosas

Com essas expectativas em vista, o próximo ano, ao que tudo indica, deve ser marcado ainda por buscas de eficiência operacional e pela diminuição da alavancagem.

“Quando o vento está contra, a melhor jogada é ser disciplinado e gerar caixa. Quando o mercado voltar, debilitado, teremos uma boa posição para aproveitar”, expôs o CEO do Grupo Soma (SOMA3), Roberto Jatahy Gonçalves. “Nosso jogo neste momento é de geração de caixa, ajuste de caixa e de trazer SG&A [despesas com vendas, gerais e administrativas] para baixo. Desmontamos algumas estratégias para ter disciplina em geração de caixa e assim vamos seguir em 2024”

Paulo Correa, CEO da C&A Brasil, ao ser indagado no Por Dentro dos Resultados, sobre como a companhia se portará no curto e médio prazo, defendeu que a empresa não deve mudar sua atual política – mesmo depois de trazer bons resultados e vir sendo considerada um destaque.

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“Com o preço do dinheiro nesse patamar, a régua fica mais alta para aprovar investimentos, para justificar iniciativas diferentes e para a performance. Começamos a austeridade no ano passado e, por agora, continua firme. Ainda estamos vivendo juros altos e o capital está caro”, falou.

Além de terem suas vendas impactadas, com as pessoas comprando menos, não raro as empresas também são impactadas negativamente por conta dos seus braços financeiros, que sofrem com a inadimplência e com provisões.

Cautela também nos braços financeiros

Como resultado dessa situação, as varejistas vêm oferecendo menos crédito ou, quando oferecem, optam por opções mais seguras, caso, por exemplo, do crédito pré-aprovado. Isso, no entanto, também acaba refletindo em menores vendas.

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“Se a Realize tivesse uma concessão de crédito maior, isso afetaria positivamente as vendas. Mas em um cenário como esse, de tanta gente na inadimplência, não é algo prudente. A gente tem sido bastante conservador, restritivo na concessão de crédito, não só para preservar a Realize, mas também para vender e receber, né?” falou o diretor financeiro da Renner.

“Quando a gente olha uma inadimplência alta no país, claro que isso também restringe o poder de consumo, principalmente nas classes sociais com menor poder aquisitivo, mas a gente vê que a coisa já tá num patamar um pouco mais estável e com sinalizações de uma gradual melhora. Não vai ser uma melhora tão rápida, mas acho que tende a ser cada vez um pouco melhor nesse sentido”, explicou.

Do lado positivo, está o fato de que o pior, possivelmente, já passou.

“A melhor notícia é que o pior ficou para trás. Neste último trimestre, vimos uma tendência forte de redução da inadimplência na nossa carteira. Com isso, o resultado do nosso braço financeiro, o LuizaCred, melhorou bastante, quase no zero a zero. É possível que voltemos ao lucro no quarto trimestre deste ano”, falou Roberto Belissimo, CFO do Magazine Luiza (MGLU3), em entrevista ao InfoMoney.

É claro que tanto no varejo quanto no oferecimento de crédito as empresas apresentam discrepância operacionais entre si, com algumas tendo lidado com o cenário de maneira melhor ou pior.

“No nosso caso, iniciativas internas em 2023 foram fundamentais para melhorarem as margens da companhia. No macro, vemos o jogo só começando. Tivemos algum reflexo dessa queda de um ponto percentual da Selic, tanto nas vendas quanto no crédito”, comentou o CFO do Magalu. “Ainda  estamos restritivos neste último ponto, sem flexibilização relevantes, mas já estamos vendo alguns resultados. É um novo ciclo, que tende a ser positivo”.