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Apesar de ser uma empresa de valor de mercado reduzido (menos de R$ 2 bilhões), de estar há menos de oito meses na Bolsa e representar um segmento pouco familiar aos investidores de ações, a Vittia (VITT3) está chamando a atenção de grandes gestoras, como Tarpon e JGP. Nos últimos meses, com a guerra na Ucrânia, a companhia ganhou notoriedade por estar em um ramo altamente impactado pelo conflito no leste europeu: o dos insumos agrícolas.
A Vittia produz fertilizantes especiais, defensivos biológicos e é pouco dependente dos micronutrientes importados da Rússia. A oferta de NPK (nitrogênio, potássio e fósforo) ficou restrita, resultado de problemas logísticos, por conta da guerra, e também de embargos comerciais. Edgar Zanotto, diretor comercial da Vittia, explica que apenas a Vitória Fertilizantes, unidade de produtos organominerais da empresa, utiliza matéria-prima importada.
Mesmo assim, somente 25% dos micronutrientes usados na produção dos fertilizantes especiais da Vitória vêm de fora. “Nosso maior fornecedor é o Chile e nossa maior demanda de importação é por boro”, explica Zanotto. A empresa tem conseguido repassar preços.
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Além da menor dependência de insumos mais escassos, a Vittia caiu nas graças dos investidores por um outro motivo. O principal chamariz do case é a parte de produtos biológicos da companhia. Isso inclui os inoculantes, bactérias que se fixam à raiz da planta e conseguem capturar nutrientes do ar, e os biodefensivos, como fungos e parasitas criados em laboratório, usados no controle de pragas e doenças na lavoura.
A empresa investiu pesado nesse segmento, com uma fábrica inaugurada em 2020, capaz de produzir 5 milhões de quilos dos insumos. Os resultados já estão sendo percebidos. A receita com produtos biológicos saltou 89% em 2021, para R$ 106,6 milhões. Ainda que represente menos de 20% do faturamento total da Vittia no período (R$ 858 milhões), é a linha do balanço que mais chama a atenção dos investidores, pela forma como vem crescendo.
“A margem dos biológicos é muito grande. O custo está muito mais na parte de pesquisa e desenvolvimento [P&D]. Uma vez que é desenvolvido o produto, o custo de produção não é tão alto”, afirma Marcelo Barros, analista da JGP. No ano passado, os investimentos da Vittia em pesquisa e desenvolvimento de produtos biológicos aumentaram em 52,9%, para R$ 12,2 milhões.
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“Já começamos a fase dois de crescimento, com o objetivo de dobrar a capacidade de fermentação sólida de fungos”, diz Zanotto. Ele diz que alguns clientes já fazem 100% do manejo de suas lavouras com insumos biológicos e “zero de químico”. Em muitas situações, o agricultor já consegue produzir mais com essa troca.
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Potencial para crescer junto
Os produtos biológicos, que hoje respondem por pouco mais de 2% do mercado de insumos, podem ampliar essa fatia para 30% ainda nesta década. “A transição do químico para o biológico atende a uma demanda ambiental e a uma necessidade de maior autonomia produtiva. Não só tem o lado da economia gigantesca, como também da segurança alimentar”, afirma José Pugas, sócio da área de ESG e agronegócio da JGP.
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O setor de insumos agrícolas no Brasil é um mercado de R$ 120 bilhões e a estimativa é que até 2030 chegue em R$ 250 bilhões. Sendo assim, a Vittia estaria bem posicionada para aproveitar as potencialidades desses cenários. “Se o setor continuar crescendo, a Vittia vai ganhar market share, porque nem todo mundo tem a mesma capacidade produtiva que ela para conseguir suportar esse crescimento”, afirmou Caio Lewkowicz, gestor de portfólio da Tarpon Capital em entrevista ao Stock Pickers.
Ele afirma que a empresa tem alto potencial de retorno sobre o capital, já que a maior parte dos investimentos em fábricas já foi desembolsado.
Rodrigo Heilberg, sócio-fundador e CIO da HIX Capital, acredita que a Vittia é uma empresa de menor capitalização com potencial para crescer “conservadoramente” a taxas de 20% ao ano. “Ou seja, a cada quatro anos, ela pode dobrar de tamanho. E estamos falando de uma companhia que já tem um tamanho razoável”, afirma.
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Recentemente, o Citibank elevou o preço-alvo para VITT3 de R$ 14,50 para R$ 15, ou potencial de alta de 23% em relação ao fechamento da véspera. Além de ver a empresa com pouca exposição ao conflito entre Rússia e Ucrânia, investindo fortemente em pesquisa e desenvolvimento, melhorando seus processos de distribuição e ganhando receita e participação de mercado com seus produtos. “Mantemos nossa recomendação de compra, pois vemos a companhia entregando resultados fortes em todas as suas linhas de negócio e aproveitando um bom momento do agronegócio”, escreveram os analistas.
A empresa comercializa seus produtos por meio de distribuidores ou vendas diretas, realizadas por uma equipe própria. A Vittia atende, sobretudo, cooperativas agrícolas ao redor do país. Essas associações são mais capitalizadas e têm menos risco de crédito. Para os analistas, isso ajuda a empresa a manter uma relação saudável com seus clientes e ter controle sobre sua política de crédito.
“Continuamos confiantes de que a empresa vai continuar com sua estratégia de aprofundar relações com os clientes, organizando a estrutura de seu time de vendas, de forma poder trabalhar lado a lado com os produtores, educando-os sobre os produtos da Vittia, sobretudo os defensivos biológicos, que representam uma sólida avenida de crescimento para a empresa”, afirmam os analistas do Citi.
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O banco também destaca que a Vittia está no caminho certo ao não diminuir o preço de seus produtos, – em vez disso, trabalha para mostrar que eles são superiores em termos de custo-benefício.
E os riscos?
A maior barreira para Vittia hoje é o próprio agricultor, que tende a ser conservador nas escolhas para o manejo da lavoura. Ele tende a aplicar o produto biológico em áreas pequenas e vai aumentando aos poucos, por isso a venda se torna um trabalho comercial e técnico, ao mesmo tempo.
“Um dos maiores obstáculos para biopesticidas é a complexidade de seu uso a falta de conhecimento entre os agricultores”, ponderam os analistas do Citi. O banco cita dados da Associação Brasileira de Empresas de Controle Biológico (ABCBio). Segundo levantamento, 43% dos produtores desconhecem produtos biológicos para controles de pragas e 39% utilizam biopesticidas nas lavouras.
No horizonte, a Vittia tende a esbarrar em problemas de aceitação e não de competição, segundo os analistas.
“Vários grandes produtores no Brasil já utilizam soluções biológicas. SLC (SLCE3), Brasil Agro (AGRO3) e vários outros grupos privados usam esses produtos e acabam sendo formadores de opinião para fazendeiros menores”, explica Lewkowicz, da Tarpon Capital.
Já o Citi acredita no risco de competitividade e avalia que grandes players do setor de insumos possam investir em novos produtos para competir com a Vittia, tanto pelo lado de biopesticidas quando de fertilizantes especiais. Além disso, segundo os analistas, as receitas e margens da companhia estão bem expostas ao preço das commodities agrícolas. Quanto mais alto ele for, mais o agricultor vai investir na lavoura e em aumento de produtividade.
“O produtor está com custos maiores e isso deixa o alerta ligado. Talvez a necessidade de crédito seja maior este ano. Mas as commodities também se valorizaram, então está tudo muito equilibrado no momento”, afirma Zanotto, da Vittia.
Por ser uma empresa de valor de mercado menor, a Vittia também enfrenta um problema de liquidez na Bolsa. Os fundos de investimentos têm dificuldades em montar posições relevantes, e precisam “calibrá-las” para entrar ou sair do papel. Cabe ressaltar que, mesmo em meio ao aumento dos preços dos fertilizantes com a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, as ações tiveram uma baixa de 7,52%. Contudo, gestores e analistas estão vendo oportunidade na ação.
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