XP vê “feridas ainda abertas” para Bradesco (BBDC4) e mantém recomendação neutra para ação; Citi eleva Santander (SANB11)

Bradesco segue pressionado por provisões e inadimplência, diz XP, enquanto Citi vê recuperação lenta para Santander, mas ações precificadas

Felipe Moreira Lara Rizério

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A sessão desta sexta-feira (18) é marcada por algumas revisões de teses para o setor bancário, com destaque para as instituições financeiras que, por mais um trimestre, não animaram na divulgação dos resultados: o Bradesco (BBDC4]) e o Santander (SANB11).

A XP Investimentos reiterou recomendação neutra para ações do Bradesco (BBDC4) após atualizar suas estimativas para banco, considerando os últimos resultados e projeções macroeconômicas. A casa prevê uma recuperação lenta do banco, mas elevou o preço-alvo dos ativos. Já o Citi elevou o preço-alvo e a recomendação para as units do Santander (SANB11), de venda para neutra, também vendo uma recuperação mais lenta, mas elevando a recomendação dado o desempenho relativamente mais fraco dos ativos.

XP mantém recomendação neutra para Bradesco

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Para o Bradesco, a XP reiterou recomendação neutra, destacando que “as feridas ainda estão abertas”. Os analistas apontam que, embora vejam o valuation atual precificando o momento negativo durando mais tempo, a falta de visibilidade sobre quais melhorias podem render frutos no curto prazo os impede de ficarem mais positivos.

Em termos de valuation, a casa avalia que a ação está precificada para um caminho difícil pela frente, ponderando também que a assimetria parece mudar para o lado positivo. “Nossa análise de sensibilidade sugere que uma redução mais rápida do que o esperado nas provisões poderia melhorar significativamente o preço-alvo”, aponta. Diante disso, optou por rolar o preço-alvo para R$ 19 por ação para o final de 2024 (de R$ 18,0 por ação para o final de 2023), ainda com um potencial de valorização de 26%.

De acordo com relatório, os resultados do Bradesco seguem pressionados pelo alto volume de provisões e inadimplência, o que levou a instituição a ser ainda mais seletiva na originação de crédito visando à melhoria da qualidade dos ativos. “No entanto, se a atual desaceleração durar muito tempo, o banco pode estar em uma posição menos favorável para competir não apenas com os outros bancos incumbentes, mas também com alguns dos neo-banks.”

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Nesse contexto, analistas veem o atual baixo nível de retorno do banco como decisivo para o crescimento mais lento da carteira de crédito e, consequentemente, deve levar o banco a ser um dos perdedores de participação de mercado no atual cenário macroeconômico.

Enquanto o Banco do Brasil (BBAS3) e o Itaú (ITUB4) parecem estar bem posicionados para aumentar o apetite ao risco assim que o ciclo econômico melhorar, o Bradesco ainda tem muito trabalho a ser feito para controlar a inadimplência. Mesmo que o banco tenha passado por situações semelhantes no passado, analistas veem o ambiente atual como ainda mais desafiador com concorrentes bem posicionados e neo-banks e fintechs afetando a dinâmica competitiva.

Olhando para o ciclo de flexibilização monetária, a XP comenta que ainda não viu sinais importantes de recuperação para o banco. A inadimplência (NPL) 15-90 dias melhorou marginalmente no 2T23, o que pode ser o início de uma tendência positiva, mas cedo para supor que o pior já passou.

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Ao analisar a rentabilidade do Bradesco, a XP ressalta que o banco viu seu retorno sobre patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) cair significativamente, impactado por uma tempestade quase perfeita, onde o Bradesco:” i) viu a Margem com o Mercado virar negativa; ii) a inadimplência cresceu, impactando o nível das provisões; e iii) as despesas operacionais seguiram crescendo”.

Diante disso, qualquer melhoria de ROE passará necessariamente por uma evolução positiva nessas duas linhas relevantes: inadimplência/provisões e margem financeira (NII, na sigla em inglês) com o mercado. Além disso, conforme apontam os analistas, o banco precisa acelerar o crescimento da carteira, encontrando nichos lucrativos com spreads mais altos e mantendo a inadimplência sob controle. “A maior exposição do banco às classes menos favorecidas também nos deixa mais preocupados com o ponto de inflexão do ciclo”, completam.

A equipe de research da XP ainda destaca que gostaria que a alta administração do Bradesco adotasse uma postura menos passiva, visando colocar o banco de volta nos trilhos (em termos de rentabilidade) o mais rápido possível. Na visão da XP, a falta de visibilidade sobre quais alavancas de melhoria poderiam ser utilizadas certamente contribuiu para o fraco desempenho das ações em relação aos seus pares.

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Citi eleva Santander

Já o Citi elevou a recomendação para as units do Santander (SANB11) de venda para neutro, com o preço-alvo passando de R$ 24 para R$ 26, ou uma queda de cerca de 1% em relação ao fechamento da véspera.

Os analistas do banco ainda esperam uma recuperação lenta, mas devido ao recente baixo desempenho da ação, percebem menos risco de queda dos ativos nos níveis atuais.

O banco americano se reuniu com o CFO do Santander, Gustavo Alejo Viviani, e a equipe de RI do banco, discutindo as tendências recentes para a instituição financeira.

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Alejo destacou a mudança do banco em direção a um balanço patrimonial mais diversificado, apontando a importância da gestão dos passivos para fornecer maiores retornos sobre o patrimônio líquido (ROE) com mais estabilidade e menores flutuações. A título de exemplo, a utilização de notas de crédito e e debêntures passou de 13% da captação total no 2T22 para 18% no 2T23. Além disso, os empréstimos/financiamento de clientes diminuíram constantemente, para 85,3% em 2023, de 89,5% um ano atrás.

Também foi discutido no encontro como a contribuição do segmento corporativo cresceu à medida que o banco evoluiu, de acordo com a decisão de criar uma oferta mais robusta para empresas.

A partir de 2023, o segmento corporativo passou a representar cerca de 41% dos empréstimos brutos entre PMEs (13%) e empresas maiores (28%). O segmento também está contribuindo positivamente por meio de taxas decorrentes de serviços de conta corrente (21% das taxas totais) e mercado de capitais (9% das taxas totais). O aumento da oferta de produtos permitiu ao banco acompanhar os clientes corporativos em sua evolução, com produtos para cada etapa das empresas.