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SÃO PAULO – Você já parou para pensar em como será sua vida depois que se aposentar? A maior parte das pessoas, especialmente quem é segurado pelo INSS, se preocupa com a capacidade de manter o padrão de vida, e teme uma perda relevante da qualidade justamente na fase em que terá uma idade mais avançada. Embora a questão deva, sim, ser prioritária, não é preciso desespero. Com um bom planejamento financeiro, você não precisa ter medo de depender exclusivamente da Previdência Social e pode garantir o conforto no longo prazo.
Quem se aposenta hoje geralmente enfrenta uma queda na renda mensal, o que, por si só, não seria um problema, se a redução fosse proporcional ao corte de despesas. Mas a perda do poder aquisitivo incomoda, especialmente se você está acostumado a ter uma renda mensal acima do teto do INSS — valor máximo que se pode receber ao se aposentar, atualmente de R$ 5.839,45.
A preocupação aumenta ainda mais em um cenário de reforma da Previdência, no qual as regras para se aposentar devem mudar drasticamente mais à frente. A saída é uma só: você precisa pensar em alguma forma de poupança e investimento por conta própria — e deve começar a fazer isso o quanto antes.
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A parte mais difícil de poupar por conta própria é começar. A disciplina costuma ser a maior dificuldade das pessoas. “É preciso um choque de realidade. Se você não poupar e investir agora, não terá dinheiro no futuro. Não tem mágica. Quando você deixa de fazer isso, terá que trabalhar a vida toda, pois essa será a sua única fonte de renda”, diz Márcia Dessen, planejadora financeira certificada CFP e diretora da Planejar.
“Quando você tem investimentos, o dinheiro vai render para você com o tempo. Você estará no controle e poderá decidir quando vai descansar, mantendo o seu padrão de vida”, completa a especialista. Confira a seguir cinco passos para conseguir se planejar para a sua aposentadoria, segundo especialistas consultadas pelo InfoMoney.
Identifique rendas e despesas
Você não vai poder fugir da regra básica de um planejamento financeiro pessoal: identifique exatamente qual é o seu fluxo de caixa mensal — quanto dinheiro você ganha e quanto dinheiro você gasta por mês. Aqui é fundamental colocar tudo na ponta do lápis, mas tudo mesmo, desde gastos essenciais e fixos até despesas supérfluas ocasionais.
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Separe as receitas recorrentes. Estime o valor mensal, como salário líquido, pensões, aluguéis e outras fontes de renda. Também contabilize valores que entrem em sua conta de vez em quando. Estime o valor anual e divida por 12 para saber a média mensal — entram na conta o 13º salário (no caso de celetistas), adicional de férias, comissões, vendas como freelancer e restituição de Imposto de Renda, por exemplo.
O mesmo se aplica às despesas. As rotineiras são aquelas do dia a dia, como aluguel, condomínio, água, luz, telefone, escola, transporte, alimentação, salário de empregados domésticos, farmácia, academia, TV a cabo, plano de saúde e seguros.
Já as eventuais são aquelas que acontecem uma ou poucas vezes no ano e têm valor mais significativo no seu orçamento, como viagens, troca de carro, reformas na casa, festas ou compra de objetos caros (uma joia, um notebook ou um celular, por exemplo).
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Aplicativos de bancos e outras plataformas, como o Guiabolso, podem auxiliá-lo na hora de identificar seus gastos e entradas mensais. Mas é preciso comprometimento para que você não deixe passar nada — ou o seu planejamento pode ficar comprometido.
Adote um controle financeiro
Uma vez que você esteja ciente de quanto ganha e quanto gasta todo mês, é hora de partir para o controle financeiro. Ele é diferente do orçamento, no qual se identifica o fluxo de caixa. Na fase do controle, você confere quais são os seus erros e acertos — e toma uma atitude. Por exemplo, ao descobrir que gasta mais do que ganha, é essencial que você encontre suas maiores despesas e tente reduzi-las.
“Pelo menos uma vez ao mês, é preciso lançar seus extratos de conta corrente e cartões de crédito em uma planilha ou aplicativo, categorizar as despesas de acordo com sua realidade [utilize os mesmos itens que definiu no seu orçamento] e analisar os resultados para ver se você está dentro ou fora do planejado”, diz Jailon Giacomelli, planejador financeiro certificado CFP da Par Mais.
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Independentemente da periodicidade escolhida para o lançamento das despesas, Giacomelli lembra ser importante anotar todos os gastos em dinheiro, já que esse movimento não fica registrado nos extratos de conta ou cartão. “Até criar o hábito, essa tarefa será bem desafiadora, mas, depois, será como pagar as contas do mês — entrará na sua rotina.”
É nessa fase também que você identifica suas dívidas. Não tem como começar um planejamento de aposentadoria se você não se livrar delas, isto é, compromissos financeiros que você assumiu e não está conseguindo pagar. As dívidas planejadas, como um financiamento imobiliário bem pensado e que cabe no seu bolso, não precisam ser alteradas — apenas mantenha os pagamentos em dia.
Já se você está no cheque especial ou devendo no rotativo do cartão de crédito, renegocie o quanto antes. Você pode procurar as empresas para as quais deve ou, se for o caso, até participar de feirões de renegociação de dívidas. Eles geralmente são organizados por órgãos como Serasa e SPC Brasil — às vezes, os próprios bancos e grandes redes varejistas fazem iniciativas para ajudar os clientes a quitar os débitos, por isso, pesquise.
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É importante não ter vergonha de procurar a empresa para a qual você deve. Ela estará 100% disposta a conversar — até por que é melhor receber alguma coisa do que não receber nada. Seja firme e totalmente transparente na sua proposta para renegociar o valor. É essencial que você possa pagar o valor que está oferecendo. Para os superendividados, o Serasa Consumidor tem um projeto de ajuda individual gratuito.
Defina seus objetivos
Você não vai chegar a lugar algum se não souber para onde ir. Por isso, é fundamental saber quais são os seus objetivos financeiros. Como o foco é a aposentadoria, você deve determinar metas claras para o futuro — garantindo, por exemplo, uma aposentadoria de R$ 5 mil ou R$ 10 mil por mês, ou outro valor necessário, levando-se em consideração a inflação até a data em questão.
Esse objetivo é fundamental para a elaboração do seu plano de aposentadoria. É ele que vai guiar investimentos futuros e a readequação do seu comportamento. “É importante a pessoa criar objetivos que sejam plausíveis. Eles não são para sempre — e nem devem ser. Os seus objetivos de vida vão mudando com o passar dos anos e você vai ter que ajustar seu planejamento com certa frequência, por isso comece com uma meta tangível que pode ser ampliada com o passar do tempo”, diz Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper.
O professor também recomenda que você contribua para o INSS, apesar de ter seu próprio planejamento de aposentadoria. “Se a pessoa trabalhar pelo regime CLT, ela será automaticamente obrigada a contribuir, mas é importante que, quem não estiver obrigado a pagar, como as pessoas jurídicas e autônomos, também o faça. Não pense somente na aposentadoria, lembre-se de que, se você sofrer um acidente hoje, o INSS vai pagar um auxílio financeiro durante o período que você estiver impossibilitado de trabalhar.”
As regras da Previdência estão mudando. Você provavelmente não vai receber de aposentadoria exatamente o valor que você ganhava na ativa, e os pagamentos podem ocorrer de forma diferente ou começar a ser pagos mais tarde do que você esperava. Mas eles vão existir.
Segundo Rocha, a contribuição para a Previdência Social é vantajosa tanto para quem ganha até o teto do INSS como também para quem recebe na ativa um salário além desse valor. O tamanho da contribuição é baixo em relação ao valor de benefício que você pode conseguir no futuro — pelas regras atuais, isso vai depender do fator previdenciário.
Hoje, diz o professor, se você poupar o mesmo valor de contribuição para o INSS e o aplicar em uma aplicação conservadora, dificilmente conseguirá resultado parecido ou melhor. Deixar de contribuir para o INSS para engordar a poupança para a aposentadoria é ruim, porque você deixaria de ter acesso a outros benefícios que funcionam como seguros, como auxílio-doença, auxílio-acidente, salário-maternidade e pensão por morte, por exemplo.
Poupe e invista
Com as dívidas sanadas e com as contas sob controle, o passo seguinte é investir para atingir seus objetivos. Esse é o momento mais difícil para a maioria das pessoas, uma vez que exige a criação de um hábito de poupar. As aplicações automáticas — aquelas que saem da sua conta em datas predefinidas, como no dia do pagamento do salário, por exemplo — podem ser aliadas nessa hora. Dessa forma, você deixa de correr o risco de gastar esse dinheiro com outras questões.
A definição da quantia que será investida é importante. Não aplique todo dinheiro que “sobra” da balança de entradas e saídas, pois é preciso ter recursos para gastos inesperados no mês. Pense que o dinheiro aplicado para a aposentadoria é realmente para o longo prazo. Ele não pode ser considerado uma opção, caso você decida fazer uma viagem ou comprar um carro, por exemplo.
“O quanto antes você começar, melhor. Antes, quando a taxa de juros estava em dois dígitos, esse era o nosso acelerador. Agora que a Selic está em 6,5% ao ano, no menor patamar histórico, o nosso único acelerador dos rendimentos é o tempo. Ou seja, quanto mais tempo você aplicar seu dinheiro, maior será o seu rendimento no futuro — e mais confortável será a sua aposentadoria”, diz Márcia, da Planejar.
São várias as opções de produtos que você pode ter na sua carteira de investimentos pensando na aposentadoria, como fundos, ações, planos de previdência (PGBL e VGBL) e fundos de pensão — se você trabalhar em uma empresa que ofereça essa opção. A escolha dos produtos vai depender 100% do seu objetivo e do seu perfil de risco.
É fundamental montar um portfólio que respeite o seu perfil de risco. Se você for extremamente conservador, não adianta aplicar em ativos de risco, mesmo que esteja no começo do seu período de acumulação — o que aumenta a chance de suas perdas serem compensadas ao longo do tempo. Mas é preciso estar ciente de que não ter nenhum risco na carteira significa se contentar com retornos menores, considerando que a Selic vai permanecer baixa pelo menos no médio prazo, segundo economistas.
“Quando o objetivo da aplicação financeira é o longo prazo, o mais importante é proteger o capital da inflação e assegurar uma taxa de juros real. Ou seja, invista em algo que garanta que você vai repor a inflação acumulada no período, para manter o seu poder de compra, além de ter um rendimento adicional”, afirma a diretora da Planejar.
É imprescindível também se atentar aos custos. “Em uma aplicação de longo prazo, você tende a juntar muito dinheiro. O que as pessoas não entendem é que uma taxa de administração incide sobre todo o valor aplicado ao longo do tempo. É muita coisa. Em um fundo de investimento, por exemplo, pagar 3% de taxa de administração hoje em dia é absurdo”, completa.
O Tesouro Direto é apontado pelos planejadores financeiros como uma boa alternativa para quem está começando a entrar no mundo dos investimentos. Ele rende mais do que a poupança, protege seu poder de compra — um Tesouro IPCA, por exemplo, paga a variação da inflação mais uma taxa fixa —, e tem um custo muito baixo (0,25% de taxa de custódia).
Quem optar pelos planos de previdência privada precisa se atentar para alguns detalhes antes de investir, como a escolha entre PGBL e VGBL, por exemplo. A principal diferença entre eles recai sobre os benefícios fiscais. Quem contrata um PGBL pode deduzir até 12% da renda tributável ao ano da base de cálculo do Imposto de Renda. Isso significa que a pessoa poderá pagar menos IR agora, colocar o dinheiro para render e só acertar as contas com o Leão lá na frente. O benefício, no entanto, só é concedido para quem faz a declaração completa do IR.
Já o VGBL não oferece nenhuma vantagem de dedução durante a fase de acumulação — período em que você ainda está investindo no plano. Em compensação, tem esse benefício no momento do resgate. Isso porque, no VGBL, o imposto incide apenas sobre os rendimentos obtidos e não sobre o valor total acumulado, como acontece no PGBL.
Os planos de previdência privada podem ser interessantes para quem investe pensando no longo prazo porque, após dez anos de aplicação no regime de tributação regressiva, o Imposto de Renda devido cai para 10%. Nos demais tipos de fundos de investimento, como os de renda fixa, por exemplo, a alíquota mínima após o mesmo período de aplicação é de 15%. Veja aqui todos os detalhes que você precisa saber para investir em um plano de previdência privada.
Estude e revise seus objetivos
Informe-se sobre todas as opções de investimento disponíveis. Há, inclusive, uma imensa quantidade de bons conteúdos de finanças pessoais na internet, como sites, blogs e canais de YouTube que ensinam você a identificar a melhor opção para a sua aposentadoria. O pior investimento é sempre aquele que você não entende. E lembre-se de que é possível procurar especialistas, como planejadores financeiros, para ajudá-lo com o planejamento para a aposentadoria.
Por fim, tenha em mente que qualquer tipo de planejamento para a aposentadoria não deve ser estático, mas, sim, dinâmico. “Se a gente muda, o plano muda junto”, diz Janser Rojo, diretor da empresa de planejamento financeiro GFAI. “Quando você tem filhos, casa ou simplesmente altera o padrão de vida, tem que reavaliar se as suas aplicações para a aposentadoria estão acompanhando essas mudanças. Não hesite em mudá-las.”
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