Média de projeções aponta para o Ibovespa em 67.000 pontos em 2012

Possível recessão europeia aumenta aversão a risco; índice deve ganhar destaque com o bom desempenho dos emergentes

Marcel Teixeira

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SÃO PAULO – O conturbado cenário externo em 2011, com as incertezas políticas que pairaram sobre os Estados Unidos e, principalmente, a Europa, com a constante deterioração da crise da dívida da Zona do Euro, refletiu no desempenho de grande parte do mercado acionário por todo mundo. Por aqui não foi diferente e o Ibovespa ficou bem longe das projeções de 83.200 pontos para o final deste ano, segundo a média levantada pela InfoMoney no final de 2010.

O Ibovespa encerrou 2011 em queda de 18,11%, aos 56.754 pontos – seu terceiro pior desempenho anual já registrado – e as dúvidas sobre os caminhos a serem tomados para resolução da crise europeia, que foram decisivas para a volatilidade vista nas bolsas mundiais, fizeram ainda mais difícil para os analistas projetarem o comportamento do mercado de ações doméstico em 2012.

As estimativas são bem mais modestas do que as vistas há um ano. “As perspectivas para 2012 serão ainda mais influenciadas pela aversão ao risco, que é grande neste momento de incertezas. O problema do mercado agora não é de liquidez, mas sim de confiança”, avalia Márcio Cardoso, sócio-diretor da Título Corretora.

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Provável recessão europeia dificulta projeções
Após iniciar o ano no patamar dos 70 mil pontos, o benchmark da bolsa brasileira sofreu uma forte desvalorização de 9,95% no primeiro semestre e chegou a cair outros 10 mil pontos em meio ao impasse da situação fiscal norte-americana e à piora na crise da dívida da Zona do Euro, entre junho e agosto.

O analista José Góes, da Stock Asset, faz coro com os demais especialistas do mercado e avalia que ainda é difícil projetar a pontuação do Ibovespa para dezembro de 2012, por conta da expectativa de continuidade das incertezas políticas que assustam o mercado e uma eminente – antes inimaginável – recessão europeia, que deve prejudicar ainda mais o crescimento econômico global.

“As medidas tomadas para estancar o aumento da dívida no velho continente e reduzir o déficit público agravam a situação da Zona do Euro, já que todas são de caráter restritivo, o que provocará uma desaceleração econômica ainda maior, levando a Europa à uma recessão”, analisa Góes.

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O banco Credit Suisse acredita que o PIB global diminuirá de 3,7% neste ano para 3,5% em 2012, com destaque negativo para a Zona do Euro, que deve ter um crescimento negativo de 0,5%. O destaque positivo deve ficar com os países emergentes, com o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) sendo responsável por 54% do avanço da economia global.

Projeções para o Ibovespa em 2012
Em 2011, o Ibovespa ficou no campo negativo em oito meses e para o próximo ano as projeções não são tão otimistas como no ano passado. Entre as corretoras consultadas, o Banco Fator foi o mais pessimista, ao projetar 60 mil pontos para o benchmark da bolsa brasileira no final de 2012.

“O crescimento das margens e lucros é um fenômeno cíclico e o modelo recente – de alavancagem das nações desenvolvidas – sugere que a bolsa possa se valorizar em 2012, com expectativa dos investidores por fatores como resolução na Europa, desaceleração e não recessão dos EUA, pouso suave da China, além de considerarem os múltiplos das empresas descontados”, afirma a corretora. 

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Já a equipe de análise do Bradesco acredita no índice em 69 mil pontos no fim do próximo ano , por não considerar o mercado brasileiro descontado em relação aos pares globais, negociando próximo dos níveis de países emergentes e do BRIC. “Os fundamentos do Brasil se mantêm fortes apesar da crise. A atratividade do país está baseada em sua habilidade econômica de contornar choques, fundamentada na força de seu sistema financeiro e de sua baixa dependência da economia global”, constata.

A projeção mais otimista ficou por conta da Citi Corretora, que admite o Brasil como ainda sendo sua “top pick” na América Latina, apesar do “enorme tamanho do setor público brasileiro e do recente desempenho abaixo do esperado do PIB (Produto Interno Bruto) do país, causado mais pela política de aperto monetário e fiscal adotada no primeiro semestre, do que uma extensão da deterioração da economia global”. A média das projeções compiladas foi de 66.583 pontos para o Ibovespa no final de 2012.

Confira abaixo as projeções para o Ibovespa em 2011:

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Projeções para o Ibovespa em 2012
Instituição Projeções (pontos)
Bradesco 69 mil
Citi Corretora 70 mil
Fator Corretora 60 mil
Souza Barros 68.500
Geral Investimentos 67 mil
Stock Asset 65 mil
Média das projeções 66.853

Mercado interno é a aposta
Em tempos de crise, é comum o refúgio para setores mais conservadores que possuem, entre outras características, previsibilidade de resultados, além de uma boa política de distribuição de lucro através de juros sobre capital próprio ou dividendos. Desta vez, também não foi diferente, com os setores de telecomunicações e energia elétrica figurando entre essas indicações.

Os analistas de mercado são unânimes ao revelarem o papel fundamental do mercado interno para o crescimento da economia do país em 2012, se aproveitando do bom momento econômico brasileiro perante a maioria dos outros países, apesar de ter perdido momento no segundo semestre deste ano.

Com a deterioração da economia global e as perspectivas de arrefecimento e retração das economias de nossos principais parceiros comerciais, como Europa, China e Estados Unidos, o mercado interno é a bola da vez.

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Neste contexto, o economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, afirma que os setores de varejo e consumo também podem ter um bom desempenho no próximo ano, uma vez que podem ser beneficiados por medidas tomadas pelo governo para aquecer a economia.

O setor financeiro foi outro que recebeu destaque positivo nas projeções dos analistas para 2012. A equipe de análise do Bradesco, liderada por Carlos Firetti, avalia que os bancos brasileiros serão beneficiados por sua resiliência de resultados. “Acreditamos na estabilização ou uma pequena expansão dos níveis de inadimplência no próximo ano, enquanto as margens devem ser positivamente impactadas por um benefício temporário da redução de juros”, afirma o banco.

Ainda dentro de serviços financeiros, a corretora do Banco Fator aponta, em relatório sobre as perspectivas econômicas e setoriais para 2012, que tem uma visão positiva para o segmento de operadoras de cartões, que liderou os ganhos do Ibovespa em 2011. “O aumento da utilização de cartões e a continuidade do desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro reforçam nossas apostas para o setor. O ciclo de ajustes mais fortes, resultante da abertura desse segmento e o novo ambiente competitivo parecem ter chegado ao fim e esperamos mais racionalidade em 2012”, avalia.

Setores exportadores devem sofrer
Em meio a essas incertezas, que devem ganhar força no próximo ano por conta de eleições e a mudança de comando em países como EUA, França e China, além da forte retração econômica, sobretudo na Zona do Euro, Ivanor Torres, diretor da Geral Investimentos, acredita que os setores exportadores poderão ser uns dos mais afetados. A queda na demanda mundial, sobretudo no velho continente, deve derrubar o preço das commodities.

No documento da Fator Corretora, a analista Lika Takahashi avalia que o setor de construção civil foi bastante penalizado em 2011, figurando com três empresas entre as dez maiores quedas do Ibovespa no período e, por isso, merece atenção. “Os múltiplos do setor se reduziram bastante e as ações de algumas empresas têm potencial de apreciação significativa; entretanto, o setor tem o desafio de se adaptar ao ambiente de crescimento moderado. Uma eventual escassez de crédito é fator limitador de crescimento em função de sua grande necessidade de capital de giro”, afirma.

Além do setor imobiliário, o Bradesco também demonstra cautela com as siderúrgicas em 2012, devido ao desempenho abaixo do esperado em todo o mundo, além dos preços relativamente baixos praticados por essas empresas no atual cenário. As empresas domésticas ainda enfrentam a queda da demanda interna e a alta nos custos com insumos e a queda no preço do aço.

Estímulos econômicos e investidores estrangeiros
Ao contrário da maioria dos países desenvolvidos, o Brasil tem espaço para sua política econômica, com a possibilidade de dar continuidade ao ciclo do corte da taxa de juro, por exemplo. Sendo assim, o mercado aguarda pela adoção de medidas mais abrangentes e eficazes do governo para reverter a desaceleração do consumo e consequentemente da economia brasileira.

Em dezembro, o ministro da Fazendo, Guido Mantega, anunciou um pacote de medidas de estímulo econômico com desonerações de até R$ 2,73 bilhões até o final de 2012, que conta com pontos como redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) da linha branca, além da eliminação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para investimentos externos em ações.

Esta última medida não influenciará nos preços dos papéis, mas deve estimular a entrada de mais investidores estrangeiros no mercado acionário brasileiro, aumentando o volume da bolsa, afirma o analista da Stock Asset.

Neste ano, os investimentos estrangeiros registraram um saldo negativo de R$ 1,455 bilhão. O número de investidores de fora do Brasil correspondeu por cerca de 34,8% do total de investimentos na BM&FBovespa, correspondendo por um crescimento de 5,2 pontos percentuais em relação a 2010.