SÃO PAULO – Dificilmente uma pessoa não gosta de viajar e conhecer lugares novos. Mas é verdade que até mesmo momentos de lazer exigem uma preparação que incluem muita pesquisa e uma série de custos.
É preciso comprar passagens, reservar hotéis ou outros lugares para se hospedar, decidir quais os passeios de interesse e se será preciso alugar carro, entre outros detalhes que variam conforme o destino. Há, contudo, um fator fundamental na hora de viajar, para o qual nem todo mundo dá a devida importância: o seguro viagem.
Esta é mais uma despesa que funciona como precaução caso algum imprevisto aconteça durante os dias de diversão.
O que considerar na hora da contratação
Comparação de preços
Cartões de crédito
Mais prêmios e sinistros
Viagens de navio
Segundo Carlos Eduardo Azevedo, associado sênior da área de Seguros e Resseguros do escritório Pinheiro Neto Advogados, o seguro viagem funciona, no geral, como qualquer outro seguro – mas tem certas particularidades.
“No caso do seguro viagem, o produto pode ser adquirido via seguradora ou por um canal de distribuição – que são corretoras ou representantes de seguros, como agências de viagens, companhias de transportes de passageiros, operadoras de cartões de crédito e empresas de serviços de assistência”, explica Azevedo.
Mas em todos os casos, quem vai subscrever o risco (ou seja, ser responsável por indenizar o segurado caso ocorra um sinistro) será a seguradora, diz o advogado.
O que considerar na hora da contratação
Azevedo ressalta ser importante observar dois itens principais antes de fechar a contratação de um seguro: as coberturas e as exclusões da apólice.
Segundo a Susep (Superintendência de Seguros Privados), os planos de seguro viagem devem ofertar pelo menos uma das seguintes coberturas básicas: despesas médicas, hospitalares e odontológicas (DMH ou DMHO), traslado de corpo, regresso sanitário, traslado médico, morte em viagem, morte acidental em viagem e invalidez permanente total ou parcial por acidente em viagem.
No caso de viagem ao exterior, é obrigatória a contratação das coberturas de despesas médicas, hospitalares e odontológicas, traslado de corpo, regresso sanitário e traslado médico.
“Nesses últimos quatro casos, quando em viagem ao exterior, [o seguro] deverá obrigatoriamente cobrir eventos ocorridos durante a viagem ocasionados por acidente pessoal ou enfermidade súbita e aguda, sendo vedada a oferta de cobertura exclusivamente para eventos ocasionados por acidentes pessoais”, explica a entidade.
Outras coberturas também podem ser oferecidas, desde que estejam relacionadas com a viagem objeto do seguro contratado. Alguns exemplos são: perda ou roubo de bagagem, funeral, cancelamento de viagem e regresso antecipado.
Sobre as exclusões da apólice, Azevedo explica que é importante observá-las porque mostram, naturalmente, o que não está coberto. “Se você tem uma preocupação específica, como uma viagem com atividade radical, precisa entender corretamente as condições da apólice para ter certeza do que está cobrindo e, eventualmente, adicionar cobertura extra por segurança”, diz o advogado.
Para o especialista, as pessoas menosprezam o seguro viagem e sua importância. “Como qualquer outro seguro, o viajante só lembra dele quando precisa usá-lo em uma emergência. Quando a pessoa não bate o carro durante o ano, acredita que jogou dinheiro fora, e não que estava protegida.”
Principalmente no exterior, já que muitos países não contam com sistemas de saúde gratuitos, o prejuízo financeiro que o viajante pode ter que assumir pode ser muito alto. “Se a pessoa se acidentar e precisar de um hospital com urgência, vai usar e ser atendido, mas a conta vai chegar em algum momento”, diz o advogado.
Ainda, 30 países, incluindo a União Europeia, exigem na entrada que os viajantes tenham um seguro viagem que atenda ao tratado de Schengen. Para viajar a esses lugares, é necessário contratar uma cobertura mínima de 30 mil euros, garantindo, assim, assistência médica em caso de doença ou por acidente.
Para viajar para os EUA, não há essa exigência.
Comparação de preços
O InfoMoney selecionou as dez maiores seguradoras de seguro viagem por participação de mercado no ano até outubro, de acordo com a Susep, e, com a ajuda da plataforma Compara, montou uma tabela para ajudar o viajante a escolher o seguro com o melhor custo-benefício.
Para comparar cada uma delas, os critérios considerados foram: apresentar o plano padrão mais básico, para um passageiro que tenha até 70 anos e que vai viajar durante 15 dias para EUA e Europa em 2020.
Para montar a comparação, três critérios foram selecionados: Despesas médicas, hospitalares (DMH), Cancelamento de Viagem e Extravio de bagagem, que geralmente estão entre os itens mais buscados na hora que a pessoa vai decidir qual seguro viagem fará.
Assim, todas as seguradoras enviaram as simulações ou o InfoMoney fez a cotação no simulador online das empresas para chegar aos valores finais.
Das dez seguradoras, a Sompo Seguros afirmou que seu produto de seguro viagem está em reformulação e optou por não participar da matéria. Já a Axa Seguros não respondeu a nenhuma tentativa de contato, seja por assessoria ou diretamente na central da empresa.
Coberturas EUA
Seguradoras | Despesas médicas | Cancelamento de Viagem | Extravio de Bagagem | Preço final |
1. AIG* | Não informado | Não informado | Não informado | Gratuito* |
2. Allianz | R$150.000 | R$3.000 | R$2.000 | R$275,39 |
3. Starr** International Brasil | US$ 30.000 | US$ 500 | US$ 1.200 | R$169,12 |
4. Sancor*** | US$ 12.000 | US$ 1.000 | US$ 450 | R$215,54 |
5. Porto Seguro | US$ 30.000 | R$2.500 | R$2.500 | R$252,01 |
6. Bradesco Vida e Previdência | R$150.000 | R$4.000 | R$2.000 | R$216,68 |
7. Sompo Seguros | – | – | – | – |
8. Sulamerica | US$ 15.000 | Não oferecido no plano mais básico | R$1.500 | R$316,91 |
9. Axa | – | – | – | – |
10. Chubb Seguros | US$ 12.000 | US$ 2.000 | US$ 2.000 | R$116,68 |
Coberturas Europa
Seguradoras | Despesas médicas | Cancelamento de Viagem | Extravio de Bagagem | Preço final do plano mais básico |
AIG | Não informado | Não informado | Não informado | Gratuito |
Allianz | R$150.000 | R$3.000 | R$3.000 | R$233,66 |
Starr International Brasil | US$ 30.000 | US$ 500 | US$ 1.200 | R$224,80 |
Sancor | US$ 40.000 | US$ 1.200 | US$ 450 | R$340,70 |
Porto Seguro | US$ 30.000 | R$3.000 | R$2.500 | R$195,33 |
Bradesco Vida e Previdência | R$150.000 | R$6.000 | R$3.000 | R$261,21 |
Sompo Seguros | – | – | – | – |
Sulamerica | US$ 30.000 | Não oferecido no plano mais básico | R$1.500 | R$335,28 |
Axa | – | – | – | – |
Chubb Seguros | US$50.000 | US$ 4.000 | US$ 4.000 | R$116,68 |
Observações
Embora a AIG seja a maior seguradora de seguro viagem do país, ela não comercializa diretamente seus produtos. A empresa tem parcerias com bandeiras de cartões de crédito que emitem o seguro para o viajante, que é coberto pela AIG. Assim, o viajante não paga diretamente pelo seguro. Só tem acesso a ele via cartão de crédito. As bandeiras Mastercard, Visa e Elo oferecem seguro AIG gratuito em algumas categorias de seus cartões.
No caso da Star International Brasil, seus seguros são comercializados pela Assist Card. Por isso, o InfoMoney fez a simulação direto no site da empresa.
A Sancor Seguros também funciona nesse sistema: seus seguros são comercializados por meio da GTA Travel ou da Affinity Seguro Viagem. A simulação da tabela foi feita por meio do simulador online da GTA Travel.
Conclusões
Dentre as opções mais econômicas, o seguro mais barato nos EUA é o da Chubb por R$ 116,68 e o mais caro é o da Sulamerica por R$ 316,91. Cerca de R$ 200 de diferença. Na prática, cada seguro viagem oferece uma lista de cobertura, que no plano básico é bem similar.
Na Europa, a Chubb também aparece com a opção mais barata, enquanto a Sancor Seguros tem o plano mais caro considerando os critérios estabelecidos.
Mas além dos três citados, uma série de outros itens são oferecidas para garantir o auxílio do viajante – o que influencia nos preços.
Para saber com mais detalhes o que cada um oferece, basta fazer a cotação online dos seguros. Até porque, se a pessoa desejar incluir cláusulas de coberturas ou estender o período da cobertura precisa personalizar o seguro de acordo com a sua necessidade.
Todas as seguradoras também informaram suas opções de seguro viagem mais completas, e por consequência, mais caras. No entanto, os valores variam muito porque os valores de coberturas não têm um teto padrão.
Por isso, nem todos os seguros mais completos são equivalentes entre si. Então, o viajante deve avaliar seu caso especificamente e tentar encaixar a melhor solução para a sua viagem.
Cartões de crédito
Para além das seguradoras, o Compara simulou alternativas para se adquirir seguros viagem via cartão de crédito. Para isso, foram consideradas duas bandeiras populares no país: a MasterCard e Visa. A seguradora AIG, por exemplo, só oferece o seguro por essa modalidade.
É preciso, contudo, estar atento a alguns detalhes. Geralmente o seguro viagem só é oferecido a clientes de cartões de crédito premium, que tendem a exigir determinados valores de gastos mínimos ao mês e podem cobrar anuidades elevadas.
Segundo o estudo do Compara, o uso do seguro viagem dos cartões é limitado a 60 dias, em média, portanto, se você viajar por um maior período de tempo, precisará aumentar a extensão da cobertura.
Ainda, para ter direito ao seguro do cartão, é preciso que o custo total da passagem aérea seja pago com o cartão ou que ela seja adquirida com pontos ganhos em um programa de recompensas associado.
Confira o estudo com os preços dos seguros dos cartões:
Produto | Mastercard Platinum | Mastercard Black | Visa Platinum | Visa Infinity |
Preço / condições para ser elegível ao benefício | Renda mínima: varia entre R$ 5.000 e R$7.000; Anuidade pode chegar até R$ 600 | Renda mínima: varia entre R$ 10.000 e R$ 40.000; Anuidade pode chegar até R$ 1.390 | Renda mínima: varia entre R$ 5.000 e R$7.000; Anuidade: pode chegar até R$ 600 | Renda mínima: varia entre R$ 10.000 e R$25.000; Anuidade pode chegar até R$ 1.000 |
Validade | 31 dias consecutivos | 60 dias consecutivos | 60 dias consecutivos | 60 dias consecutivos |
Cobertura médica | US$ 25.000 (para Europa o benefício é ampliado para €30.000) | US$ 150.000 | US$ 50.000 | US$ 100.000 |
Extravio de bagagem | Não | US$ 3.000 | não | US$ 3.000 |
Repatriação Funerária | US$ 25.000 | US$ 100.000 | US$ 100.000 | US$ 100.000 |
Repatriação Sanitária | US$ 50.000 | US$ 100.000 | US$ 100.000 | US$ 100.000 |
Assistência odontológica | US$ 25.000 | US$ 150.000 | US$ 5.000 | US$ 10.000 |
Traslado médico | US$ 50.000 | US$ 100.000 | US$ 25.000 | US$ 25.000 |
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Mais prêmios e sinistros
Apesar de muitas pessoas não darem a devida importância, os números mostram que a modalidade vem crescendo no país. De acordo com dados da Susep, os prêmios – os valores pagos pelos segurados – também aumentaram: de R$ 152,2 milhões, em 2014, para R$ 515,1 milhões, em 2018. O mesmo foi verificado nos sinistros, que passaram de 48,4 milhões para 275,5 milhões, em igual período de comparação.
Viagens de navio
Vale lembrar que, até mesmo para viagens de cruzeiro, o seguro viagem é importante. “Ao não contratar este serviço e contar apenas com a contratação da assistência médica dentro do navio, o viajante pode enfrentar um pesadelo, já que todos os procedimentos devem ser pagos no momento do atendimento e em dinheiro”, diz Paulo Marchetti, CEO do site de comparação de preços Compara.
Nesse caso, o seguro a ser contratado não tem alterações em relação ao de viagem aérea, e inclui cobertura médica, remédios, extravio de bagagens ou documentos, entre outros.
“A principal diferença é na forma de pagamento. Quando você está navegando, não é possível ir a clínicas credenciadas das seguradoras. Em casos de problemas de saúde, você pode consultar o médico disponível no navio, mas é preciso pagar a bordo. Neste caso, o seguro viagem funciona apenas por reembolso. Em caso de emergências em terra, o atendimento pode ser feito, normalmente, na rede credenciada da sua seguradora”, explica Marchetti.