Ação da Sabesp é uma boa compra no longo prazo? É melhor combinar com São Pedro

No olho do furacão da crise de abastecimento em São Paulo, ações já choraram muitas lágrimas secas; mesmo assim, analistas não enxergam a empresa como uma barganha na Bolsa

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Em meio à pior crise de abastecimento da história de São Paulo, colocar em carteira as ações da empresa de saneamento do estado parece de uma insensatez sem tamanho. Mas será que os adeptos da filosofia de “comprar na baixa e vender na alta” não podem ficar tentados em encarteirar esses ativos e torcer para que a chuva volte rapidamente? A tentação pode até existir, mas os analistas são enfáticos ao não recomendarem esse investimento.

De julho de 2014 pra cá, as ações da Sabesp (SBSP3) já caíram cerca de 45%, tendo operado nesta semana abaixo dos R$ 13 pela primeira vez desde 2011. Na visão do analista de utilities da Lopes Filho, Alexandre Montes, esses papéis não trarão alegria por pelo menos seis meses, a menos que haja uma chuva de “proporções bíblicas” em fevereiro. “A matéria-prima da empresa é água e se não tiver suprimento ela não anda”, afirma.

É a mesma avaliação da Citi Corretora, que vê a recuperação da companhia no curto prazo dependente do nível de chuvas entre fevereiro e abril. “Acreditamos que deve levar mais tempo para o volume de água se reconstruir e incorporamos uma extensão do programa de descontos em 2016”, diz a corretora em relatório por Marcelo Britto e Kaique Vasconcellos.

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No time dos menos pessimistas, o analista João Pedro Brugger, da Leme Investimentos acredita que a Sabesp tem um ótimo time de gestão e possui um bom histórico de dividendos, o que acaba sendo um grande atrativo para o investidor de longo prazo devido aos baixos preços da ação no momento para quem quer um papel para guardar durante muito tempo. “A Sabesp tem uma boa gestão, mas vem sofrendo com o clima; o nível de chuva prejudica o negócio dela, mas acho que ela pode se recuperar”, diz o analista.

Já o Santander Corretora divulgou um relatório no qual estima que o racionamento de água não será desastroso para a Sabesp desde que o arcabouço regulatório seja respeitado. No entanto, a análise assinada por Maria Carolina Carneiro avalia como impacto potencial de um grande programa do tipo uma redução de 12% nas estimativas de preço justo para as ações da companhia.

Boa gestão esbarra no governo
Na sexta-feira (27), o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, disse em entrevista à TV Globo que a companhia ainda não tem definido se vai adotar o racionamento e nem qual seria o modelo. Três dias antes, na terça, o diretor metropolitano da companhia, Paulo Massato Yoshimoto, disse que a companhia pode adotar um rodízio de cinco dias sem água e dois dias com. 

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Com tudo isso posto na balança, Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos, acredita que por mais competente que possa ser a gestão da companhia, ela sofre demais com interferências governamentais – no caso, do governador Geraldo Alckmin (PSDB) – para que gere muito otimismo. Ele cita a demora para o anúncio do racionamento como exemplo. “Tinha que ter decretado racionamento antes, só não foi por razões políticas”, afirma o estrategista.

A própria distribuição de dividendos, segundo ele, pode ser comprometida por conta da crise hídrica. “Tem uma projeção de lucro menor este ano, então o yield será horroroso”, explica. 

E para o longo prazo?
Pensando em um horizonte de longo prazo, seria uma boa hora de encarteirar essas ações? Para Montes, da Lopes Filho, a Sabesp tem boas condições de se recuperar no futuro devido ao seu bom arcabouço regulatório e sua forte geração de caixa. Isso ocorre porque não se imagina que a falta de chuvas vá continuar após mais de um ano. “Do contrário, você não falaria das ações da Sabesp, e sim de sobrevivência”. 

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Mesmo essa compra para longo prazo, contudo, é altamente especulativa e vale apenas para quem estiver disposto a passar por emoções fortes. “Quem já está comprado é melhor esperar, mas entrar agora no meio de uma crise hídrica é quase uma insanidade”, afirma. Conclusão: se você colocar ações da Sabesp em carteira para o longo prazo, é melhor incluir a previsão do tempo junto com o noticiário econômico.