Por dentro da Amazon: como funciona e quem comanda as aquisições

Da saúde à tecnologia, Amazon tem comprado empresas dos mais diferentes segmentos visando uma expansão ainda maior

Wesley Santana

Desde 2017, Amazon passou a adquirir empresas acima de US$ 1 bilhão. Foto: Getty Images
Desde 2017, Amazon passou a adquirir empresas acima de US$ 1 bilhão. Foto: Getty Images

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Recentemente, a Amazon anunciou a entrada no setor farmacêutico, com projeto de uma vacina contra o câncer. Embora muita gente tenha se surpreendido com o novo ramo de negócio, não é de hoje que a big tech tem criado braços em outros segmentos.

Um exemplo é de 2015, quando adquiriu a fábrica israelense de chips Annapurna Labs por cerca de US$ 350 milhões. Isso deu à Amazon a possibilidade de criar seus próprios equipamentos e reduzir custos com os serviços de nuvem administrados pela AWS.

Mesmo distintos, todos esses movimentos têm um sentido comum: avançar sempre que houver um benefício claro. Essa estratégia ficou tão presente na história da empresa que até poderia ser usada como lema, indicam fontes internas ao portal Business Insider.

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De certo, a preferência do conglomerado criado por Jeff Bezos é fundar seus próprios produtos internamente para atender as necessidades dos clientes.

No entanto, com o crescimento exponencial que registrou nos últimos anos, recorrer a soluções já existentes no mercado passou a ser uma opção para resolver possíveis problemas no menor tempo possível.

Para se ter ideia, até 2017, cada aquisição da Amazon não alcançava a cifra de US$ 1 bilhão. O ponto de virada foi a compra da rede de supermercados Whole Food, uma transação que envolveu US$ 13,7 bilhões, se tornando a maior conquista da marca. MGM (US$ 8,5 bi) e One Medical (US$ 3,9 bi) formam o pódio.

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Especialista e consultor em fusões e aquisições, Oscar Malvessi explica que, embora pareçam valores altos, comprar empresas nesses preços  começou a fazer sentido para alcançar o foco da Amazon “Oportunidades maiores começaram a florescer, especialmente pela visão de expansão internacional da marca”, diz ele, que é professor do Departamento de Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo curso na FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Para fazer todas as captações, a Amazon tem dois critérios bem definidos: procurar ativos subvalorizados e fugir de guerras de lances. Ou seja, a empresa faz uma proposta de compra de marcas baratas -mas funcionais-, ao passo em que condiciona o fechamento do contrato a não disputar com outros interessados, conforme mostram documentos regulatórios.

Em alguns casos, não existe pressa em concluir a compra. No episódio da iRobot, companhia adquirida em agosto deste ano, o primeiro contato foi feito ainda em 2016, com a proposta de pagar US$ 60,59 por ação, valor considerado baixo pelos antigos sócios.

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Mesmo assim, a Amazon fazia contato pelo menos uma vez ao ano com a fabricante de robôs aspiradores. A compra foi acertada, então, seis anos mais tarde, depois que a startup passou por uma série de problemas.

Cada ação da iRobot foi adquirida a US$ 61, preço que pode ser considerado um desconto em relação ao original, se considerada a inflação do período.

“Nesse período, a empresa [iRobot] pode não ter evoluído, mas continua tendo alguma coisa que interessou a Amazon. Se ela não conseguiu se valorizar, ela pode até ter um bom produto, mas o problema podia estar nas vendas”, avalia Malvessi.

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18 anos liderando aquisições da Amazon

A tática de compras da Amazon é liderada por um executivo que está na empresa há 18 anos. O vice-presidente corporativo mundial Peter Krawiec é responsável por supervisionar aquisições, parcerias e investimentos.

Krawiec e seu time fizeram dela uma das corporações mais procuradas pelos potenciais vendedores, justamente pelo amplo e diversificado portfólio de negócios.

Soma-se a isso, disseram fontes da instituição ao Business Insider, o fato de que nem toda compra precisa passar pelo crivo da alta liderança da companhia. Isso daria mais celeridade e menos burocracia aos processos.

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Todos esses acordos, porém, conforme pontua Malvessi, tem limites de responsabilidades bastantes definidos. “Até porque, mesmo que seja uma quantia baixa, o dinheiro precisa sair do caixa da empresa”.

Já para os negócios maiores, a Amazon mantém parceria com o banco Goldman Sachs, um dos principais dos Estados Unidos.

Dentro da instituição, Dave Eisman e Yasmine Coupal são os nomes que lideram os assuntos da big tech. Inclusive, ambos estiveram à frente das aquisições da Whole Foods e One Medical.

Há bastante interesse em tocar os negócios da Amazon pois eles são bastante lucrativos para os bancos, rendendo algumas dezenas de milhões em honorários. E esse lucro continua sendo alto, mesmo que, pelo seu tamanho, a empresa tenha a vantagem de pedir descontos em cima da taxa bancária tradicional.

“A Amazon está fazendo muitas aquisições, e já concluiu mais de 100. Com isso, ela amplia o leque de possibilidades e entra em negócios dos mais diferentes”, diz Malvessi. E finaliza: “É uma visão de longo prazo, para 10 anos. Há um objetivo de crescer mais que as concorrentes. Então, ela busca sempre se fortalecer”.