Analistas desconhecem motivos para queda de 25% da Marfrig nos últimos 2 dias

Ação despencou 24,83% na véspera e caiu mais 0,33% nesta terça-feira, dia em que o Ibovespa valorizou-se 5,05%

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Na última segunda-feira (8), as ações da Marfrig (MRFG3) registraram uma forte desvalorização de 24,83%, liderando com folga a ponta negativa do Ibovespa. Apesar da intensidade, pode-se dizer que o movimento veio em linha com a trajetória do mercado brasileiro, já que todas as ações que compõem o índice fecharam no vermelho no pregão daquele dia e o benchmark teve sua maior queda diária desde 22 de novembro de 2008.

No entanto, o que vimos no pregão desta terça-feira (9) foi mais preocupante. Embora o papel da Marfrig tenha registrado queda de apenas 0,33%, o Ibovespa registrou alta de 5,05%, sua maior valorização diária desde 29 de outubro de 2009, quando subiu 6,59%. A alta volatilidade do ativo também chamou a atenção, visto que ele chegou a operar em alta de 10,86% e cair 14,63% nessa mesma sessão.

Além de descolada do benchmark da bolsa brasileira, a ação MRFG3 também ficou bem atrás se comparado com JBS (JBSS3, +2,24%), Minerva (BEEF3, +4,60%) e Brasil Foods (BRFS3, +6,63%). Vale destacar que na segunda-feira esses três ativos também tiveram uma queda bem mais amena que os da Marfrig, com JBS, Minerva e Brasil Foods tendo recuardo 6,09%, 6,27% e 6,42%, respectivamente.

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Boatos…
Esse movimento estranho jogou várias dúvidas sobre o que tenha acontecido com a empresa, já que nenhum fato relevante fora divulgado que justifique o não aproveitamento do repique do Ibovespa nessa sessão. Além disso, as negociações da empresa estiveram concentradas nas mãos da corretora Socopa, responsável por mais de 50% das negociações na véspera e por 33% na terça-feira. 

Tal movimento pode indicar a saída de um acionista em particular, teoria que é colaborada por uma forte venda realizada no começo da tarde, de quase 6 milhões de ações da companhia a R$ 7,70 – a mínima diária – em uma única operação. “Existem boatos no mercado que um fundo alavancado estaria se desfazendo de sua posição em Marfrig”, afirmou a equipe de análise do Citigroup em webconferência nessa tarde, ressaltando também que se trata de uma sobrevenda. 

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Contudo, o Citi também ressaltou que o mercado não possui grande confiança nas ações da Marfrig, que isso deverá acontecer apenas quando a companhia começar a gerar caixa positivamente e mostrar estabilidade nos resultados. A visão é compartilhada pelo HSBC, que chama a atenção para a forte alavancagem do grupo e o aumento do preço das commodities, que encarecem os custos e corroem as margens.

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…segredos
A instabilidade mundial, com a economia norte-americana em um cenário cada vez mais negativo, poderia ser um driver relevante para as ações nesses dias, visto que a Marfrig é bastante exposta à esse mercado? A Amaril Franklin acredita que não. “Pode até ser, mas se fosse isso, a JBS, ainda mais exposta, também teria que ser penalizada na mesma intensidade, o que de fato não ocorreu”, afirma a equipe de análise da corretora, que não vê nada em especial que justificasse a queda. 

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A queda, assim, se apresenta como uma incógnita, e deverá permanecer como tal até que novos fatos venham à luz dos investidores, embora analistas acreditem que isso está claramente descolado da tendência. “Não dá para saber exatamente. Mas pela forte queda de ontem e o fato de continuar no vermelho nesta terça-feira, já é um sinal de que essa queda não deve-se a motivos mercadológicos”, afirmou a equipe de análise do BB Investimentos.

Seja como for, a movimentação intriga, assusta ou entusiasma certos investidores. Ávidos por uma oportunidade ou temerosos de um prejuízo, situações que fogem do padrão mexem com as emoções dos participantes do mercado. Ao investidor, resta o auto-conhecimento e a procura por seu perfil, pois a Marfrig é apenas mais um caso das estranhezas que têm ocorrido na BM&F Bovespa. 

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers