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SÃO PAULO – Uma das empresas que mais chamaram a atenção dos investidores em janeiro por um movimento abrupto de suas ações na Bovespa, a Telebras (TELB3; TELB4) convocou para 2 de março uma assembleia geral extraordinária para discutir a realização de um possível grupamento na razão de 10 papéis para 1. A proposta foi aprovada pelo conselho de administração da estatal em dezembro do ano passado, em respeito às determinações da BM&FBovespa para ações negociadas com valor inferior a R$ 1,00 por 30 dias consecutivos.
Na época do fato relevante que confirmou a decisão dos conselheiros, as ações TELB4 valiam R$ 0,70, o que reforçaria a necessidade de atender às orientações da Bolsa para eliminar as penny stocks do mercado acionário brasileiro. No entanto, a recuperação dos papéis em março fez com que eles saíssem do fechamento de R$ 0,56 em 8 de janeiro para R$ 1,81 no pregão seguinte — o que representa uma alta de 223%.
Ao movimento atípico foram atribuídas as especulações sobre uma possível fusão da companhia com Serpro e Dataprev. No entanto, mesmo com a negação dos boatos por parte do ministro das Comunicações, André Figueiredo, que afirmou que a preferência da pasta era que a companhia se consolidasse como única estatal de infraestrutura no setor de telecomunicações, os papéis se mantiveram acima dos centavos.
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Em tese, embora encontrem-se com pouca “gordura” para queimar (no patamar de R$ 1,00), as ações da Telebras não necessitariam passar por um grupamento — o que permite aos acionistas a opção de rejeitar a proposta do conselho, feita em outro momento para a empresa no mercado acionário.
De todo modo, caso o procedimento seja aprovado em AGE, a estatal será a 23ª companhia a fazê-lo em um intervalo de um ano, sendo a maioria formada por penny stocks. Apenas Magazine Luiza e Magnesita não estavam nessas condições e gruparam nesse período. No entanto, ambas viam seus papéis cotados na casa dos R$ 2 ou R$ 3 e fortemente castigados no mercado. No caso da primeira, figuraram entre as justificativas apresentadas em comunicado ao mercado a diminuição da volatilidade das ações e a melhora das cotações “a fim de evitar que oscilações irrisórias — em centavos” representem percentuais elevados”, o que mostra que o contexto não era tão diferente do das demais empresas que gruparam ações de lá pra cá.
Outra tendência vista em boa parte das operações realizadas, e que é encarado quase que como uma regra no mercado financeiro, é a desvalorização das ações nos pregões seguintes. Em boa parte dos casos, grupamentos ajudam a trazer um número maior de negócios a empresas com baixos volumes movimentados em bolsa, o que é visto como positivo em um primeiro momento, uma vez que aumenta as possibilidades de maior liquidez para ativos que eram negociados a centavos. Mas o que se tem visto na prática é que os grupamentos têm aberto espaço para que aquelas ações que não tinham mais como cair, simplesmente voltassem a se desvalorizar.
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Esse movimento foi constatado nos papéis de ao menos 12 das 21 empresas que realizaram grupamento recentemente. Novamente os casos de Magazine Luiza e Magnesita podem ser úteis para ilustrar os dois cenários mais frequentes. A primeira companhia representa a regra, com forte desvalorização logo após o grupamento em outubro de 2005. Já a segunda representa a exceção, visto que andou de lado desde a operação realizada há cerca de um mês.
Para explicar melhor a “regra”, basta pensar em como funciona um grupamento. O preço da ação nestas situações não foi elevado porque mais pessoas decidiram comprar e ela se valorizou, mas sim porque o preço sofreu um ajuste para cima devido à diminuição de papéis existentes no capital social. Isso significa que o mercado pode olhar para os fundamentos daquela empresa, como endividamento, fluxo de caixa, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), etc. e enxergá-la como “cara” no patamar pós-grupamento. Com isso, surge uma pressão vendedora, já que o investidor não vai querer ter em suas mãos um papel sobrevalorizado.
Com as ações não valendo mais centavos, os acionistas da Telebras podem evitar que a companhia seja mais uma vítima da maldição dos grupamentos. Caso decidam pela aprovação da operação, restar-lhes-á a torcida para que a estatal seja a mais nova exceção à regra.
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