Bradesco BBI rebaixa Cielo e diz que empresa “não está pronta” para retomada; ação despenca

Para os analistas do banco, o “anjo caído” do setor de adquirência não mostra evidências de melhora competitiva

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Vista há meses com cautela pela maior parte do mercado, a gigante de adquirência Cielo (CIEL3) acaba de perder o benefício da dúvida em mais uma casa de análise ao ser rebaixada para underperform (desempenho abaixo da média do mercado) pelo Bradesco BBI.

A ação despenca cerca de 4,8% por volta das 12h30 desta quinta-feira (9), após a publicação da revisão. Nos primeiros nove dias de 2020, já acumula queda de 9,6%, incluindo uma baixa de 2,91% na última terça (7) após a renúncia de Sergio Saraiva Castelo Branco de Pontes, que era VP de desenvolvimento organizacional.

Na avaliação de Victor Schabbel, que assina o relatório e já foi diretor de Relações com Investidores da própria Cielo, a companhia é um “anjo caído” que não mostra evidência de “melhora material no ambiente competitivo”.

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Dado o cenário de guerra de preços no setor, ainda que reconheça esforços da companhia para melhorar os preços e retomar crescimento de share, o analista nota que, “antes da nova estrutura corporativa e iniciativas estratégicas darem frutos, os resultados provavelmente deteriorarão mais”.

Com o novo rebaixamento, a Cielo passa a ter o dobro de recomendações de venda que de compra, ainda que as posições neutras sejam mais numerosas. Conforme levantamento da Bloomberg, três casas de análise estão com recomendação de compra, três de venda e nove de manutenção.

Entre os analistas que mantém neutralidade, o argumento mais forte é que nada de muito estrutural mudou no case da companhia nos últimos meses: a concorrência já existe há alguns anos (e está sendo endereçada) e o mercado já teria precificado as ameaças que representam as potenciais novas regras de antecipação de recebíveis e de pagamento instantâneo.

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Schabbel, no entanto, vislumbra uma nova onda de revisões para baixo nos resultados, o que pode mudar a visão do mercado e consequentemente derrubar o papel ainda mais. O BBI baixou a expectativa de lucro líquido em 6% para 2020 e em 1% para 2021, para R$ 1,02 milhão e R$ 1,13 milhão, respectivamente. As estimativas consensuais das casas que analisam o papel são 50% e 51% acima disso.

O relatório argumenta que uma esperada renegociação de incentivos pagos hoje aos bancos parceiros não deve melhorar as margens, já que os ganhos devem ser transformados em incentivos a varejistas (uma das ferramentas na busca por retomar market share).

Outro ponto de atenção é a dependência mais acentuada do Cateno, empresa de cartões formada em sociedade com o Banco do Brasil. Em 2018, 20% da receita ajustada da Cielo veio dessa vertical, número que o BBI vê subindo para 34% em 2019 e 55% em 2020.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney