Briga de cachorro grande: setor pet deve movimentar operações de M&A em 2023

Setor ainda é muito fragmentado e tende a se consolidar; número de transações passou de 40 entre 2020 e 2022

Mariana Amaro

Filhotinhos (Foto: Pexels)
Filhotinhos (Foto: Pexels)

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Operações de fusão e aquisição nos setores de saúde, educação e tecnologia já são bastante comuns. Mas um outro setor tem mostrado sinais de aquecimento nesse tipo de operação: o de bichos de estimação.

Quem chama a atenção para o setor são Ricardo Bahiana e Bruno Jucá, sócios da B2R Capital, assessoria especializada em M&A e valuation. A consultoria, que atende alguns fundos e empresas consolidadoras que vêm comprando ativos relacionados ao mundo animal, entre elas a Petz, que fez um IPO em 2020, e a Petlove, identificou um aumento de interesse no setor. “A Petlove, por exemplo, está aumentando sua área interna de M&A, e tem buscado análises de empresas. Há fundos de investimento interessados em varejo premium, planos de saúde para animais e clínicas veterinárias”, diz Bahiana.

Com os indícios de um aumento de temperatura no segmento, os sócios foram estudar o setor e identificaram alguns pontos importantes. “O mercado brasileiro de pets está entre os cinco maiores do mundo, apresenta altas taxas de crescimento e é altamente fragmentado, com petshops de bairro representando 95% dos pontos de venda. A área de saúde pet tem uma subrepresentação na comparação com outras economias e, dentro do ecossistema há diversas áreas de interesse, do varejo e da loja física até distribuição e tecnologia”, resume Bahiana.

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Outros indícios apontam na direção de um aquecimento do setor. Entre 2017 e 2019, ocorreram apenas sete transações de M&A, média pouco acima de duas por ano, de acordo com análise da B2R Capital. Já entre 2020 e 2022, foram mais de 40 operações. Esse movimento teve como protagonistas tanto os fundos de investimento como as empresas listadas ou investidas por fundos.

Ricardo Bahiana (esq.) e Bruno (dir.), sócios da B2R Capital, assessoria especializada em M&A e valuation (Foto: Divulgação)
Ricardo Bahiana (esq.) e Bruno Jucá (dir.), sócios da B2R Capital, assessoria especializada em M&A e valuation (Foto: Divulgação)

Em abril de 2021, a Porto Seguro comprou 13,5% de participação da Petlove. A petshop online passou a operar a unidade de planos de saúde da seguradora. Em agosto do mesmo ano, a empresa de comércio de produtos para animais Petz adquiriu a marca Zee Dog. Em dezembro de 2022, foi a vez da Cobasi ir às compras, com a aquisição da Mundo Pet.

“A frequência dessas movimentações está aumentando, o que acendeu uma luz de que esse mercado está se consolidando e apontando para um caminho de entrada de algumas dessas empresas na Bolsa de Valores”, avalia Bahiana. “A Cobasi tem um investimento [de R$ 300 milhões] do Kinea e os fundos, quando entram, têm um prazo de saída. Com o amadurecimento do mercado, eu apostaria em um IPO da Cobasi e da Petlove para os próximos anos”, afirma.

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Em entrevista ao podcast Do Zero ao Topo, do InfoMoney, Paulo Nassar, cofundador e CEO da Cobasi afirmou que a empresa está de olho em oportunidades de M&As mas não pressa de abrir capital. “O IPO deve vir no momento propício. Não sei se esse ano é 2023. Há muita insegurança no mercado de capitais com a troca do governo e o mercado precisa abrir não só aqui, mas nos Estados Unidos e Europa”, afirmou.

Mudança no modelo de negócio

Para Bahiana, o setor também deve passar por mudanças no modelo de negócio. “As megastores devem abrir espaço para lojas menores. Elas não vão deixar de existir, mas têm uma série de limitações: nem todo bairro comporta uma loja do tipo e o próprio mercado tem questionado esse tipo de loja”, afirma.

As megastores representam menos de 1% das lojas, enquanto 98,1% são pontos de venda de porte médio e de vizinhança. Ao mesmo tempo, apenas 7% das vendas no Brasil ocorrem por e-commerce, ao passo que o comércio nos canais das pet shops e veterinárias abocanha 50%. Em mercados mais maduros, como nos Estados Unidos,  as vendas por canais digitais no setor pet representam 26%, enquanto que no Brasil, é de apenas 7%.

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A Petz, na divulgação do seu resultado, indicou a necessidade de buscar novos formatos de loja. “É uma estratégia parecida com as redes de farmácia e com a própria Americanas (AMER3) com a compra da Blockbuster: eles não estavam interessados na locação de filmes, mas na capilaridade dos pontos de venda. As grandes empresas do setor devem buscar essa otimização porque com lojas menores você consegue ter uma penetração maior dentro bairros, alavanca o e-commerce porque cria mini centros de distribuição em cada loja, e permite que o cliente retire no estabelecimento mais próximo de sua casa”, completa.

Para Bruno Jucá, a mudança da estratégia da Petz também tem uma ligação com a busca por mais sinergias com a Zee Dog. “Essa mudança de estratégia da Petz, vai no caminho de criar uma sinergia maior com a linha de negócios Zee.Now, que quer ser uma espécie de iFood para serviços pet. Esse tipo de operação é muito sensível em logística e frete, mas a pulverização fortalece a estratégia”, avalia.

Segundo o Instituto Pet Brasil (IPB), o setor movimentou cerca de R$ 51,7 bilhões no Brasil em 2021, o que deve colocar o país entre os cinco maiores mercados do mundo, junto aos EUA, China e Reino Unido. Na liderança do mercado está os EUA, com US$ 62,4 bilhões. É de olho nesse mercado bilionário que as grandes empresas e os fundos de investimento têm se movimentado.

Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.