Conselho da Petrobras ignorou pedido para excluir Odebrecht de novas licitações

Graça Foster, Guido Mantega e Miriam Belchior não quiseram excluir a empreiteira dos contratos, mesmo após as denúncias de corrupção envolvendo a companhia

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Os principais integrantes do Conselho da Petrobras (PETR3; PETR4), Maria das Graças Foster, Miriam Belchior e Guido Mantega, ignoraram pedidos dos outros conselheiros da estatal para que a Odebrecht fosse excluída de novas licitações. Isso ocorreu em um momento onde as investigações da Operação Lava Jato já indicavam de envolvimento das empreiteiras no esquema de desvios de recursos da petrolífera.

As informações são do jornal O Globo, que teve acesso aos áudios da reunião do Conselho do dia 4 de novembro de 2014. Os arquivos mostram que o conselheiro Sérgio Quintella, presidente do comitê de auditoria da Petrobras, afirmou serem “evidentes os indícios de fraude” em contrato de R$ 825,6 milhões da Odebrecht para serviços de segurança em refinarias no exterior.

Após este caso, os conselheiros questionaram Graça Foster, na época presidente da companhia, sobre o fato de a empresa holandesa SBM Offshore ter sido impedida de participar de novas licitações e a Odebrecht, não. A SBM confessou o pagamento de propina a funcionários da estatal.

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“Existe um processo, eu não sou advogada, peço ajuda aos advogados, existe um processo no Ministério Público decorrente da comissão interna. A Odebrecht tem um diretor com acusações do próprio Ministério Público, e isso está em curso. Por que punimos SBM e não punimos Odebrecht? É uma pergunta que eu não tenho elementos”, diz Graça no áudio.

A então ministra do Planejamento, Miriam Belchior, defendeu a Odebrecht na reunião, que durou oito horas e meia: “uma coisa é a empresa admitir o que fez. A outra é ter indícios e não ter as provas que o Ministério Público está averiguando. Vou adotar a mesma penalidade para situações diferentes? Todo mundo é inocente antes de provas”.

“Esse é um cuidado que a empresa tem de ter, independente de quem está do lado de lá, se é pequena, se é grande. A despeito de indícios fortíssimos, nós não temos provas cabais. Não tenho, graças a Deus, procuração para estar defendendo nenhuma empresa. A gente precisa ser cuidadoso, para ter as provas cabais, senão vamos fazer caça às bruxas”, completou Belchior.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.