De viagens suspensas a home-office: como as empresas estão lidando com o coronavírus

Conheça as novas políticas adotadas por companhias no Brasil e no exterior

Pablo Santana

(Photo by Macau Photo Agency on Unsplash)
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SÃO PAULO – A disseminação do novo coronavírus, causador da Covid-19, em todo mundo, está forçando grandes empresas a mudar suas rotinas – por precaução ou para resolver problemas.

Entre as medidas adotadas, estão a suspensão de viagens internacionais, o cancelamento de eventos, o estímulo ao home-office, a criação de campanhas internas para orientar funcionários sobre o vírus e a disponibilização de álcool em gel e desinfetantes aos funcionários, seguindo as normas da Organização Mundial de Saúde (OMS).

De acordo uma pesquisa divulgada pela empresa de organização de viagens e reuniões de negócios Global Business Travel Association (GBTA), o vírus pode custar US$ 46,6 bilhões por mês à indústria.

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Se a situação persistir, o prejuízo poderia chegar a US$ 559,7 bilhões no período de um ano, o equivalente a 37% do total de gastos globais previstos para o setor de business travel em 2020.

Na última semana, a Amazon instruiu seus quase 800.000 funcionários a evitar “viagens não essenciais”, doméstica e internacionalmente. Os funcionários que precisaram viajar para a China, por exemplo, ficaram em home-office por duas semanas, depois de voltar para seus escritórios originais. Também foram suspensas as visitas a galpões nos Estados Unidos.

O jornal The New York Times revelou que a equipe de operações mundiais da Amazon, responsável por supervisionar grande parte da tecnologia e logística da companhia em todo o mundo, recebeu um email do vice-presidente sênior Dave Clark, pedindo para suspenderem todas as reuniões que exijam viagens até pelo menos abril, quando a empresa espera ter uma melhor noção do impacto do surto.

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Para proteger seus funcionários, o Facebook tem cancelado diversos eventos entre março e maio, inclusive a conferência anual de desenvolvedores. Conhecida como F8, ela será substituída por eventos em locais menores, e transmissões ao vivo.

“Diante das crescentes preocupações em torno da Covid-19, tomamos a difícil decisão de cancelar a conferência este ano, a fim de priorizar a saúde e a segurança de nossos parceiros desenvolvedores, funcionários e todos que ajudam a colocar o F8 em pé”, disse a empresa criada por Mark Zuckerberg em comunicado.

O Google Cloud, suíte de computação em nuvem do Google, cancelou sua maior conferência anual devido a preocupações com coronavírus.

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A conferência, chamada Google Cloud Next, deveria ocorrer em São Francisco, de 6 a 8 de abril. A empresa tornará a edição deste ano em uma conferência digital, com palestras, sessões de discussão, aprendizado interativo e sessões digitais de ‘pergunte a um especialista’ com as equipes do Google.

“A saúde e o bem-estar dos parceiros, clientes, funcionários e da comunidade em geral do Google Cloud é nossa principal prioridade. Devido à crescente preocupação com o coronavírus (COVID-19) e em alinhamento com as melhores práticas estabelecidas pelo CDC, OMS e outras entidades relevantes”, disse um porta-voz do Google Cloud em comunicado.

Neste domingo, o Twitter também cancelou suas viagens de negócios e alguns eventos para combater o avanço do vírus e evitar o contágio entre os seus empregados.

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A francesa L’Óreal suspendeu por precaução todas as viagens de negócios até o final de março, enquanto a Unilever tem restringido as viagens de negócios para países afetados e o norte da Itália – país com mais casos de contaminação confirmadas fora da China, o epicentro da doença.

A orientação é “apenas viagens críticas aos negócios”, disse um porta-voz da empresa.

A Nestlé, maior empresa de alimentos do mundo, disse na última quinta-feira (27) que pediu a todos os 291.000 funcionários para não viajarem internacionalmente a negócios até meados de março. “As viagens devem ser substituídas por métodos alternativos de comunicação sempre que possível”, acrescentou um porta-voz da empresa.

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A empresa italiana Enel também interrompeu viagens para China, Hong Kong, Macau e Taipé, incluindo escalas nesses países.

Brasil: no começo

No Brasil, empresas já adotam medidas para resguardar seus funcionários. O país conta com dois casos confirmados da doença, ambos exportados da Itália, sendo um deles um funcionário da XP Inc.

Em nota, a XP informou que todos os seus colaboradores que tiveram contato com o funcionário diagnosticado estão sendo acompanhados e orientados.

Como medida preventiva, a empresa recomendou aos colaboradores que estiveram em algum país da chamada “zona de risco” nas últimas duas semanas que trabalhem de casa por pelo menos 14 dias. Os países são: Alemanha, Austrália, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, França, Irã, Itália, Malásia, Camboja, China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão, Singapura, Tailândia e Vietnã.

A fábrica da LG Eletronics em Taubaté (SP) deu férias coletivas para cerca de 200 funcionários, mas não por uma medida preventiva: com diversas fábricas paradas, especialmente na China, não há peças para a produção de celulares nacionalmente.

O mesmo problema afeta a Flextronics, fabricante dos celulares da Motorola. A empresa localizada no complexo de Jaguariúna, a 127 km da cidade de São Paulo, colocou mais de 3 mil funcionários no processo de revezamento de férias coletivas.

Apesar de o Brasil já sentir o impacto da propagação do vírus, o momento ainda é de precaução e acompanhamento para se tomar as medidas necessárias, de acordo com o diretor da consultoria  Michael Page, João Klüppel.

O executivo pontua que as empresas estão tendo um olhar crítico para saúde e bem estar dos seus colaboradores em relação ao coronavírus, mas sem esquecer o impacto que as ações tomadas podem causar no negócio.

“O ponto de partida é entender que não há necessidade para pânico no Brasil. Pensando em questões organizacionais, evitar um grande volume de pessoas, reagendar viagens de negócios e seguir as recomendações da OMS e do governo local é o melhor a se fazer”, ressalta Klüppel.

Japão sofre com tabu

As mudanças repentinas, no entanto, enfrentam resistências culturais em um dos países mais afetados: o Japão. As novas recomendações atingem em cheio aspectos culturais do país, conhecido por suas longas jornadas de trabalho em prol da produtividade.

As autoridades pediram que as empresas quebrassem tabus e incentivassem seus funcionários a trabalhar em casa para conter a propagação do vírus.

Mitsubishi, NEC e Panasonic são algumas empresas que recomendaram trabalho remoto para dezenas de milhares de funcionários.

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Pablo Santana

Repórter do InfoMoney. Cobre tecnologia, finanças pessoais, carreiras e negócios