É uma cilada? Ação da JB Duarte despenca 50% no 1º pregão pós-grupamento

Empresa agrupou ações ON e PN na razão de 100 para 1; nesta terça-feira, papéis ordinários mergulharam de R$ 8,00 para R$ 4,00

Marina Neves

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SÃO PAULO – A “profecia” negativa anunciada nesta terça-feira (16) para a JB Duarte (JBDU3; JBDU4) de fato foi cumprida: a fabricante de bambu e eucaliptos agrupou as ações ordinárias e preferenciais na razão de 100 para 1, tirando as cotações de ambas da incômoda região abaixo de R$ 0,10. Contudo, nesta sessão ambos mergulham em queda, repetindo o movimento visto em 2013 quando a empresa já havia feito um grupamento na mesma proporção.

As ações ordinárias da JB Duarte marcavam queda de 43,75% por volta das 16h (horário de Brasília), estando cotadas a R$ 4,50. Na mínima do dia, elas chegaram a valer R$ 4,00, o que indicava desvalorização de 50% frente ao fechamento ajustado de ontem – os papéis JBDU3, que fecharam a R$ 0,08 na última segunda-feira, foram ajustados para R$ 8,00 após o grupamento.

As ações preferenciais da fabricante de bambu vão na mesma direção e recuam 33,33% no mesmo horário, caindo de R$ 6,00 para R$ 4,00. Na mínima do dia, elas chegaram a R$ 3,62 – queda de 40%.

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Não entendeu a cilada? 
Em uma resposta à “ameaça” da BM&FBovespa de banir ações que valem menos de R$ 1,00 na Bolsa de Valores, muitas small caps (empresas com baixo valor de mercado) têm anunciado grupamentos de ações, com o intuito de aumentar o valor de face de cada papel através da diminuição da quantidade de ativos negociados na Bovespa. A operação, em um primeiro momento, é vista como positiva no sentido de trazer maior liquidez para ativos que eram negociados próximos de R$ 0,01. Mas o que temos visto na prática é que os grupamentos têm aberto espaço para que aquelas ações que não tinham mais como cair simplesmente… voltassem a cair.

Se a explicação parece confusa, um exemplo real torna isso muito claro: a JB Duarte realizou em maio de 2013 um grupamento de ações na razão de 100 para 1 – ou seja, cada 100 ações da empresa tornariam-se apenas 1, e o valor de face de cada papel seria multiplicado por 100. Assim, o total de ativos da produtora de bambu e eucalipto passou de 1.393.692.545 para 13.936.925 ativos, e o valor por ação passou de R$ 0,01 para R$ 1,00 – preservando assim o valor de mercado da empresa na Bovespa.

O intuito desta operação seria basicamente trazer ao acionista da JB Duarte a possibilidade de negociar estes papéis no mercado, já que nas cotações de R$ 0,01 a briga “oferta x demanda” praticamente inexiste. O problema foi que passados 19 meses do grupamento, os papéis JBDU4 praticamente voltaram ao valor mínimo de Bolsa, tendo fechado a última segunda-feira (15) valendo R$ 0,06. O motivo para esse “retorno” aos tostões reflete a manutenção do cenário negativo da empresa: após iniciar sua história produzindo produtos químicos para a indústria têxtil e veterinários, a empresa centenária mudou seu foco de produção para produtos sustentáveis após o “boom” das commodities entre os anos 90 e 2000. Após algumas tentativas falhas de novos negócios, a JB Duarte decidiu apostar sua atuação na plantação de bambu e eucalipto, na tentativa de ajudar no crescimento de um novo mercado no País.

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Centavo do centavo do centavo…
Para entender na prática – ou melhor, no “bolso” – como o grupamento foi doloroso para os acionistas: quem comprou a ação após o grupamento de 2013 a viu cair 94% até a última segunda-feira. Ou melhor: quem comprou o papel a R$ 0,01 um dia antes do grupamento teria até ontem o equivalente a R$ 0,0006, a 4ª casa de centavo.

Mantendo a mesma ação em carteira após este novo grupamento, o papel tem espaço para buscar ainda mais casas decimais de centavos.