Esta startup cuida de pacientes com doenças crônicas – e recebeu R$ 45 milhões de nomes como o Hospital Albert Einstein

A healthtech Klivo acompanha 21 mil pacientes. Com aporte série A, startup de saúde busca triplicar esse número no próximo ano

Mariana Fonseca

Marcelo Toledo e André Sá, cofundadores da Klivo (Divulgação)
Marcelo Toledo e André Sá, cofundadores da Klivo (Divulgação)

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SÃO PAULO – A maioria dos adultos brasileiros sofre com ao menos uma doença crônica. Cerca de 83 milhões de pessoas, ou 52% da população, informaram esse diagnóstico em uma pesquisa publicada no final de 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse contexto motivou a criação da Klivo, uma startup de saúde de olho em doenças crônicas não transmissíveis, como colesterol alterado, diabetes, hipertensão e obesidade. A pandemia só impulsionou a preocupação com a saúde – e o interesse de investidores na Klivo.

A healthtech anunciou nesta semana uma captação de R$ 45 milhões, de nomes como o Hospital Israelita Albert Einstein. O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com o cofundador André Sá sobre o tamanho do mercado de acompanhamento de doenças crônicas, a criação da startup de saúde, o modelo de negócio e os próximos passos após sua injeção de capital.

“A saúde é um segmento relevante não apenas em participação na economia, mas também na vida das pessoas. Essa é uma percepção que ganhou força nos últimos anos, com o envelhecimento da população e depois com a pandemia”, diz Sá.

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A maior relevância da saúde se vê em números. O Brasil acumulou mais de 540 startups que atuam na área de saúde em 2020, segundo o estudo Distrito Healthtech Report. Seis anos antes, havia pouco mais de 200 healthtechs. As dez startups de saúde brasileiras mais destacadas, segundo a pesquisa, são Cmtecnologia, ConsultaJá, Dr. Consulta, Labi, MagnaMed, Memed, Sanar, Sim, Vitta e Vittude.

Desde 2014, healthtechs captaram US$ 430 milhões com investidores. A Dr. Consulta é um ponto fora da curva em investimentos, tendo captado sozinha US$ 111 milhões, de acordo com a base de dados Crunchbase.

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Tirando o ano extremo da série C da Dr. Consulta, em 2017, os investimentos em healthtechs tem crescido ano após ano – e beneficiado startups como a Klivo.

O desafio das doenças crônicas

André Sá e Marcelo Toledo acumularam experiências no mercado financeiro e estudos de casos internacionais antes de fundarem a Klivo. Sá foi sócio do banco de investimentos BTG Pactual e da empresa de pagamentos Stone, enquanto Toledo foi sócio no banco digital Nubank. Em 2015, os dois olharam o crescimento de negócios digitais focados em acompanhar pacientes com doenças crônicas. Um exemplo é a americana Livongo. A empresa foi criada há treze anos, com foco em diabetes. Em 2020, a provedora de saúde Teladoc comprou a Livongo por US$ 18,5 bilhões.

“80% dos custos de utilização do sistema de saúde brasileiro vêm dos pacientes crônicos. Mas esse sistema de saúde é feito para tratar problemas agudos, não doenças contínuas. O resultado é que tivemos uma inflação médica de 15% ao ano nos últimos dez anos. É um quadro que não apresenta um final feliz para os pacientes, e eu também já estive do lado de contratar planos empresariais e sofrer com reajustes”, analisa Sá.

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Os empreendedores começaram a montar o produto em dezembro de 2019, mas a Klivo só começou a operar em setembro de 2020. “Gastamos bastante tempo desenvolvendo nossa solução. Não existe mínimo produto viável na área de saúde”, diz o cofundador da Klivo.

A startup de saúde une atendimento digital feito por humanos à uma tecnologia de monitoramento de indicadores de saúde. Na equipe de 71 funcionários, cerca de um terço está em tecnologia. Os outros cerca de dois terços são profissionais de atendimento com experiência em saúde. Enfermeiros, nutricionistas e psicólogos fazem o acompanhamento de consultas e do tratamento indicado, mas também enviam dicas de saúde.

Os pacientes recebem equipamentos de monitoramento próprios para suas condições, como balanças, glicosímetros e medidores de pressão. Os dados captados por esses equipamentos informam o momento mais eficiente de contatar cada paciente. Quem acabou de completar uma cirurgia precisa ser contatado mais frequentemente do que alguém que está com seus dados estabilizados há meses, por exemplo.

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O acompanhamento dos indicadores também mostra se o contato com os profissionais da Klivo está funcionando ou não. “Primeiro, medimos o engajamento do paciente com nosso atendimento. Depois, indicadores práticos de melhoria clínica. Apenas no final chegamos às melhorias em custos ao sistema de saúde”, diz Sá.

A Klivo atua em um modelo B2B2C – a startup de saúde chega aos pacientes por operadoras de planos de saúde, indústrias farmacêuticas e empresas. Empreendimentos como Unimed, Porto Seguro, Roche, Ambev e Brasil Foods pagam uma mensalidade por usuário atendido. A Klivo também pode cobrar um adicional sobre métricas superadas.

“Essas empresas têm diversos desafios – por exemplo, as farmacêuticas veem pacientes abandonando remédios e as empresas veem os custos de funcionários com doenças crônicas aparecendo em seus balanços. Somos uma solução mais especializada para cuidar dos pacientes crônicos, trazendo métricas como até 51% de adesão aos medicamentos e redução de até 65% nos custos com esses pacientes”, diz Sá. A Klivo está submetendo um artigo científico sobre esses resultados de seu acompanhamento digital na Plataforma Brasil, criada pelo Conselho Nacional de Saúde, órgão de monitoramento de políticas públicas.

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Hoje, a Klivo atende 21 mil pacientes por meio de 31 empresas, cobrindo acompanhamentos de colesterol alto, diabetes, hipertensão e obesidade. “Buscamos atender quem já passou da fase de prevenção. 72% da nossa carteira tem mais de uma condição crônica, inclusive.”

Novo investimento

A Klivo já havia recebido um investimento semente de R$ 2,5 milhões em 2020, liderado pelo fundo de venture capital Canary (Buser Hashdex, Trybe). O série A de R$ 45 milhões foi liderado pelo Valor Capital Group (que tem no portfólio startups como CloudWalk, Gympass, Loft). O Hospital Israelita Albert Einstein também participou da rodada, assim como os fundos brasileiros Canary e Norte Ventures, e os fundos internacionais especializados em startups de saúde ou em impacto social Civilization Ventures, Tau Ventures e Reaction.

“Ocupamos o espaço de atendimento aos pacientes crônicos e conquistamos métricas de entrega de valor. Fizemos uma nova série para crescer e para construção de reputação. O Einstein e fundos trazem uma credibilidade que é muito importante para o mercado de saúde”, diz Sá.

O novo investimento será usado primeiro para ampliar as linhas de cuidados. A Klivo vai continuar atendendo pacientes crônicos, lançando uma linha de tratamento oncológico (câncer). A Klivo também vai usar o dinheiro para realizar fusões e aquisições.

“Escala é importante para o setor de saúde, tanto que empresas como Dasa e Hapvida foram criadas a partir de M&As. Estamos de olho tanto empresas novas de tecnologia quanto empresas tradicionais que têm tradição no atendimento humanizado”, diz Sá. A Klivo espera triplicar o número de pacientes monitorados até o final de 2022 – mas ainda há um exército de milhões de brasileiros com doenças crônicas a acompanhar.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.