Falta de chuvas faz nova vítima na Bolsa: Copasa despenca 40% desde setembro

Empresa continua sofrendo "as consequências de sua campanha de conscientização para a redução do consumo e uma atividade industrial fraca no estado"

Marina Neves

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SÃO PAULO – Desde 2009, o nível dos reservatórios paulistas está registrando números menores, e com a estiagem recente nas chuvas o estado de São Paulo vive um 2014 de uma das piores crises hídricas da história. Seja por falta de planejamento ou por “culpa de São Pedro”, a Sabesp (SBSP3) tem carregado o fardo de vilã na Bolsa, como é sabido. Porém, uma nova vítima da crise tomou forma nos últimos meses: a Copasa (CSMG3).

Desde setembro, os papéis da empresa de saneamento de Minas Gerais já caíram cerca de 40%, tendo chegado a valer R$ 22,60 recentemente na Bolsa – seu menor patamar desde novembro de 2010. Dessa forma, elas “ultrapassaram” as ações da Sabesp, que caíram forte até metade de outubro, quando bateram sua mínima na Bolsa desde fevereiro de 2012. No acumulado do ano, CSMG3 e SBSP3 totalizam uma desvalorização de 35,8% e 22,1%, respectivamente, enquanto o Ibovespa marca leve alta de 1,1% em 2014.

O cenário, que não é nada propício para ambas empresas, piorou para a Copasa no início deste mês, já que a ação da companhia mineira foi retirada do MSCI (Morgan Stanley Capital Internacional), o que fez os papéis despencarem 5,3% no dia, cotados a R$ 24,40. A mudança entrará em vigor daqui a uma semana, no dia 25.

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Vale mencionar que o MSCI realiza um índice para acompanhar o desempenho das principais bolsas internacionais. Os índices MSCI são utilizados como referência para diversos fundos passivos de investimento ao redor do mundo. Essa forte exposição de investidores estrangeiros é o motivo pelo qual as ações que são incluídas geralmente respondem com valorização – e as excluídas em suma apresentam queda. Como estes fundos precisam acompanhar o benchmark, eles precisam encarteirar ou se desfazer destes ativos para que a performance fique em linha com o movimento do MSCI. 

“A Sabesp já vem em tendência de baixa há um bom tempo, mas a Copasa começou a cair mais recentemente em meio a um risco geral para o setor. Existe a possibilidade de a estiagem que estamos vendo em São Paulo esteja interferindo agora nas ações da companhia”, explica o analista Luis Gustavo Pereira, da Guide Investimentos, explicando que o risco disso se alastrar para o estado vizinho.

Além da crise hídrica, o analista da Guide faz um alerta sobre a entrada do PT no governo de Minas Gerais, após Fernando Pimentel ganhar as eleições do estado ainda no primeiro turno, com mais de 52% dos votos, desbancando o tucano Pimenta da Veiga. De acordo com o analista, a incerteza sobre as ações do novo governador pode refletir em volatilidade para os papéis da Copasa.

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Dados operacionais modestos
No dia 10 de outubro, a Copasa divulgou seus resultados operacionais para o mês de outubro, mostrando crescimento do volume de 2,7% em termos anuais. A empresa disse que o que guiou o desempenho foi o aumento no número de ligações, parcialmente compensado pelo fraco volume faturado no segmento industrial e a campanha de conscientização para reduzir o consumo em andamento. Já em seus resultados do terceiro trimestre deste ano, a companhia mostrou receita líquida de água e esgoto em R$ 790,6 milhões, com lucro líquido de R$ 98,1 milhões, queda de 22,1% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando registrou lucro líquido de R$ 125,8 milhões.

Sobre os dados de outubro, a analista Maria Carolina Carneiro, do Santander Corretora, comentou em relatório que o desempenho foi modesto, já que mesmo apresentando aumento no número de ligações, a empresa continua sofrendo “as consequências de sua campanha de conscientização para a redução do consumo e uma atividade industrial fraca no estado”. Sem chuvas na região Sudeste, provavelmente os papéis da dupla “café com leite” de saneamento básico da Bovespa deverão continuar vivendo maus momentos no mercado.