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SÃO PAULO – A Forever 21 já foi uma das varejistas de moda que mais cresceram nos Estados Unidos. A empresa transformou seus fundadores em bilionários, estabeleceu-se como uma potência no mundo do chamado “fast fashion” e, no auge, gerou US$ 4,4 bilhões em receita.
Mas a empresa anunciou que vai pedir a recuperação judicial neste domingo (29) nos EUA. Afinal, o que aconteceu?
Como tudo começou
A Forever 21 foi fundada em 1981 por Jin Sook e Do Won Chang, quando o casal se mudou da Coreia do Sul para Los Angeles sem dinheiro, sem diploma universitário e falando pouco inglês.
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Para sobreviver, Jin trabalhava como cabeleireira, enquanto Don trabalhava como zelador, bombeava gás e servia café. Até ele perceber que “as pessoas que dirigiam os melhores carros estavam no segmento de roupas”, segundo informações do Business Insider.
Então, três anos depois, com US$ 11 mil que pouparam, os Chang abriram uma loja de roupas chamada Fashion 21. O casal aproveitou os descontos no atacado para comprar mercadorias dos fabricantes com desconto.
O sistema deles funcionou. A loja faturou US$ 700 mil em vendas no primeiro ano.
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A Fashion 21 inicialmente era popular apenas com a comunidade coreano-americana de Los Angeles. Mas os Chang alavancaram seu sucesso, abrindo novas lojas a cada seis meses, o que ampliou a base de clientes da empresa.
Foi nesse período de expansão, que o nome da empresa mudou para Forever 21 para enfatizar a ideia de que a empresa era “para quem quer estar na moda, e quem quer manter o espírito jovem”.
A chave do sucesso da empresa era simples: mantenha muitos clientes vendendo roupas da moda por preços baixos. Embora isso não seja algo inovador hoje, a Forever 21 foi uma das primeiras companhias a oferecer isso. E foi a mais rápida também.
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Jin foi aprovando mais de 400 projetos por dia. O que significava que a empresa poderia praticamente vender as tendências enquanto estavam acontecendo. Mesmo que alguns desses projetos causassem problemas a empresa.
Embora outras marcas e designers não tenham gostado da ascensão da Forever 21, os clientes pareciam não se cansar do estilo e dos preços acessíveis.
Como resultado, a Forever 21 se tornou uma das maiores empresas em shoppings americanos, com 480 lojas em todo o país.
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Em 2015, os negócios estavam crescendo. As vendas da Forever 21 atingiram o auge, com US$ 4,4 bilhões de receita global naquele ano.
O casal fundador da marca se tornou um dos mais ricos da América, com um patrimônio líquido combinado de cerca de US$ 5,9 bilhões em março de 2015, de acordo com dados do Business Insider.
No Brasil, a loja também virou febre. Em entrevista ao Jornal O Globo em 2014, Do Won Chang, se mostrou surpreso quando o estoque programado para durar um trimestre acabou em menos de um mês após abrir as duas primeiras lojas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
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“Estamos empolgados com a excepcional resposta. Havia cerca de três mil pessoas na fila antes da abertura das duas lojas”, comentou o fundador do negócio em entrevista ao jornal na época.
O começo da derrocada
O objetivo até então era alcançar os US$ 8 bilhões de receita até 2017 e abrir 600 novas lojas em três anos. Mas a expansão agressiva da empresa também levaria à sua queda.
Parte do que tornou a Forever 21 popular em primeiro lugar foi seu modelo de atuação dentro do segmento de moda. Embora seus produtos sempre tenham sido produzidos em massa, eram vendidos por tempo limitado, o que dava a sensação de serem peças únicas.
No entanto, à medida que a empresa se concentrava em crescer, seus estilos se tornaram cada vez mais “pré-fabricados”, mais comuns. Como resultado, a Forever 21 começou a perder o contato com seus principais clientes, enquanto concorrentes como Hennes & Mauritz (H&M) e Zara cresciam.
Não sendo mais uma criadora de tendências, a Forever 21 foi ficando para trás. O comércio eletrônico continuou a crescer, e varejistas tradicionais, como a empresa do casal coreano, lutaram para se adaptar às mudanças no comportamento do consumidor.
De acordo com uma pesquisa de março deste ano, a Geração Y faz 60% de suas compras online e, em geral, prefere fazer compras online do que ir a uma loja física, segundo dados do site Business Insider.
No entanto, mesmo em meio a essas transformações, a Forever 21 continuou abrindo novas lojas até 2016, expandindo até as lojas existentes para ocupar vários andares com seções para homens, crianças e itens para a casa. O que poderia ajudar a explicar por que as vendas da empresa caíram cerca de 25% em 2018, segundo o site americano.
Além disso, o casal Chang, que ainda é proprietário da empresa, perdeu mais de US$ 4 bilhões de seu patrimônio total.
A empresa agora está com US$ 500 milhões em dívidas e entrou com o pedido de recuperação judicial no último domingo (29).
Operação Brasil não deve ser afetada
A marca já começou a fechar parte de suas lojas. E, sendo uma das maiores lojistas e shoppings, um desligamento generalizado da Forever 21 poderia agravar o que já está sendo chamado de “apocalipse do varejo”, que já fechou mais de 15 mil varejistas nos EUA e poderia fechar mais 75 mil, segundo dados do banco de investimento UBS.
O movimento está acontecendo no Brasil e muitos shoppings e marcas estão lutando para evitar prejuízos. A empresa, no entanto, afirmou que pretende preservar a operação na América Latina.
Mas considerando o cenário instável, sem saber o rumos que o processo de recuperação judicial pode tomar, o Credit Suisse divulgou um relatório no domingo (29) analisando os possíveis impactos da saída da empresa do país.
Uma das maiores administradoras de shopping centers do país, a Multiplan possui 11 unidades da Forever 21, mais do que as seis unidades espalhadas em shoppings da BR Malls e bem mais do que três da Aliansce Sonae. A rede Iguatemi não tem Forever 21 em seu portfólio de lojas, então se marca sair do Brasil terá zero impacto no grupo, segundo o relatório do banco de investimentos.
“Quanto às demais empresas, assumindo um tamanho médio 1 mil m² por loja, estimamos um impacto negativo na vacância de 1,3 ponto percentual, 0,6 ponto percentual e 0,3 ponto percentual para Multiplan, BR Malls e Aliansce Sonae, respectivamente”, diz o relatório assinado pelos analistas Luis Stacchini e Vanessa Quiroga.
Ou seja, a saída do Brasil, seria ligeiramente negativa, com a Multiplan sendo marginalmente mais impactada. “Mesmo assim, consideramos o impacto em termos de valor presente líquido deve ser pequeno (se negativo)”, diz o relatório.
Mas a recuperação judicial não significa o fim de uma empresa. Na verdade, o processo poderia dar à Forever 21 tempo para se reestruturar e se recuperar. A empresa pode fechar suas lojas menos rentáveis e tentar mudar sua marca. Mas ainda é preciso esperar para ver.
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