“Ganhar dinheiro na bolsa é mais fácil que empreender”, diz Carol Paiffer, sócia de 40 empresas

Depois de aportar em dezenas de startups, Paiffer conta, em conversa exclusiva, quais setores estão mais atraentes em 2023

Wesley Santana

Carol Paiffer em evento de comemoração de um ano da hrtech Factorial no Brasil. Foto: Divulgação/Factorial
Carol Paiffer em evento de comemoração de um ano da hrtech Factorial no Brasil. Foto: Divulgação/Factorial

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Nome conhecido do empreendedorismo, Ana Carolina, mais conhecida como Carol Pfaiffer, é uma das poucas mulheres a fundar e presidir uma empresa listada na bolsa de valores, a Atom (ATOM3).

Aos 35 anos, a executiva acumula o cargo com a sociedade em outros 40 negócios, com o trabalho de palestrante e jurada da versão brasileira do reality show Shark Tank, e com a função de influencer em suas redes sociais onde reúne um séquito de 800 mil usuários, interessados em acompanhar sua rotina pessoal e corporativa.

Transitar entre seus diversos papéis (“Eu fiz um clone”, brinca) exige muita organização: “No horário comercial, eu só falo de Átomo, então todas as minhas reuniões estão focadas nisso. No final de semana, minha agenda de sábado pela manhã, é para mentorar os meus investidos”, detalha.

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E, apesar de já ter uma carteira recheada de empresas de diversos tamanhos e segmentos, a investidora profissional não descarta novos negócios. “Eu olho bastante para educação porque acho que ainda existe muito espaço para crescer no Brasil”, diz. “Outro segmento que ainda sinto falta de soluções é no agronegócio”.

Oriunda do mercado financeiro, a executiva lista as diferenças entre ser um acionista por meio da Bolsa de Valores e se tornar sócia de um novo empreendimento. “É muito mais fácil ganhar dinheiro na bolsa do que empreendendo em um projeto novo. Na bolsa, eu compro e vendo sem falar com ninguém. Ao empreender, é preciso se relacionar com outras pessoas”, pontua Pfaiffer.

Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, Paiffer comenta o atual momento do capital de risco, como gere seus ativos e fala sobre empreendedorismo. Confira a seguir:

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InfoMoney: Como você avalia o cenário dos últimos dois anos, quando as empresas passaram a ter mais dificuldade para levantar recursos?

Carol Pfaiffer: Desde as eleições, o mercado em geral está muito cauteloso. Todos querem saber para onde o governo vai e o que será feito de fato: se vai ter capacidade de gerenciar o caixa e de se manter dentro dos gastos. Ainda tem o aspecto da inflação, que não é só um problema do Brasil, mas mundial, somado à taxa de juros altíssima aqui, que prejudica principalmente o varejo. Também acho que está todo mundo um pouco assustado com a quebra dos bancos [SVB e Signature, nos Estados Unidos], com grandes empresas e tudo mais o que pode acontecer.

Diante disso, obviamente, os investidores [de capital de risco] dão uma segurada. Captar é sempre um desafio porque você tem que convencer outra pessoa de que aquilo é um bom negócio e que vale a pena o risco. Quando se fala em investimentos na bolsa de valores é até mais simples porque você tem liquidez, caso o cenário mude.

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IM: E para as startups?

Quando se trata de startups, existem alguns fatores. O primeiro é que houve muito erro de valuation. Principalmente na pandemia, quando havia muitos investidores e uma taxa de juros baixa, o mercado tinha liquidez dos investidores querendo tomar mais risco, o que fazia os preços inflarem. Era mais fácil convencer.

No entanto, com todo esse movimento e a preocupação dos investidores com muitas startups que “deram errado”, aumentou-se a cautela do investidor, que passou a ser mais rígido na análise. Agora, o empreendedor tem que ser muito mais eficiente no projeto e no plano de negócios, para que ele consiga captar um investidor.

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IM: Ainda é um bom momento para as empresas captarem recursos?

Sim, mas também estamos em um bom momento para trazer investidores de fora, seja para startups ou pequenas e médias empresas. Primeiro porque o Brasil tem um monte de problemas, e isso abre muitas possibilidades de soluções, é um mar azul para o empreendedorismo. E segundo porque a diferença cambial é gritante neste pós-pandemia. Ficamos a preço de banana. Então o empreendedor que está buscando investimentos e que souber aproveitar esse momento vai trazer muito dinheiro e com mais facilidade, porque, afinal, é diferente falar em um milhão de reais e um milhão de dólares.

IM: Os investimentos em startups seguem a mesma lógica dos feitos em empresas de outros segmentos?

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No Shark Thank, eu vi o oposto [do que acontece agora com as startups]. Nas primeiras temporadas, você via cheques menores, com propostas de R$ 100 mil ou R$ 150 mil. Na última temporada, a sétima, os valores já estavam maiores. Isso porque os empreendedores estavam mais agressivos, então depende da comparação que é feita.

O mundo das startups está, sim, mais com o pé no chão agora, com os investidores dizendo: ‘olha, não é assim, não é tão fácil quanto vocês estavam acostumados. A gente não sabe o que vai acontecer no próximo cenário’. Mas, por outro lado, acho que as PMEs trouxeram um pouco dessa agressividade que a startup tem para o universo deles, pedindo quantias um pouco maiores e também com planos mais audaciosos, -o que é o mais importante.

IM: Antes de se tornar investidora e empreendedora, você passou pelo mercado financeiro. Quais diferenças e paralelos você traça entre o empreendedorismo e o mercado de ações?

Eu venho de um mercado que é muito mais fácil ganhar dinheiro na bolsa do que empreendendo um projeto novo. Na bolsa, eu compro e vendo sem falar com ninguém. Ao empreender, é preciso se relacionar com outras pessoas e tenho que que conviver com elas, entender o dia a dia delas, muitas das quais tem valores e crenças diferentes, tem muita coisa envolvida.

IM: Quais os critérios que você usava para apostar em uma empresa?

O primeiro fator que considero é sempre a pessoa do empreendedor. Estou virando sócia de alguém, então tenho que acreditar que a pessoa está com vontade de fazer aquilo acontecer. O empreendedor tem que mostrar que tem paixão e conhecimento. Não é só gostar muito do que faz e ter um potencial, sem saber nada daquilo.

Uma empresa de tecnologia sem um sócio dessa área, por exemplo, é surreal porque o empreendedor fica refém da opinião de outra pessoa ou de um fornecedor, e isso é muito ruim.

Segundo, eu olho o tamanho do mercado e se aquilo é escalável ou não. Às vezes o negócio é muito bom, mas ele é pequeno demais para entrar, e vamos mais atrapalhar do que ajudar. Um negócio, mesmo que eu tenha trinta ou quarenta porcento dele, que não tem como crescer de uma forma rápida e escalável ou é mais regional, se torna um problema. A minha dedicação é a mesma que destino para um negócio bilionário ou de cem mil reais, então eu não posso pegar e simplesmente me dedicar a algo que não faça sentido ou que não caiba o meu capital.

Além disso, eu sou investidora profissional há dezoito anos, então eu sempre vou olhar e perguntar sobre os números. Ainda que o empreendedor não seja da área de finanças, ele tem de conhecer os números porque, assim, ele conhece a empresa. Como você ele tomar uma decisão? E muitas vezes um erro comum é falar ‘ah, mas eu estou aqui aberto para que vocês me ajudem’.

Na verdade, não estamos lá para ajudar, e sim para acelerar, para que ele evite alguns erros que a gente já cometeu no passado, para que ele possa aprender com pessoas que já estão empreendendo há mais tempo. Não estamos lá para mandar no negócio, ele não é um colaborador nosso. Inclusive, nem compramos o controle da empresa, é sempre uma participação minoritária.

IM: Você é sócia de quantas empresas hoje?

Pelo Shark Tank, eu tenho mais de 40 investimentos. Participo, também, de três pools de investimentos de venture capital: educação; esportes e saúde; e ladies.

Esse último foi fundado por mim [no Instituto Êxito de Empreendedorismo], com um comitê formado só por mulheres, mas homens também podem investir. Sempre participei de outros comitês e sempre fui a única mulher. Quando outra mulher ia fazer um pitch, sempre notava que ficava aliviada ao me ver.

Eu gosto de coisas que não deem só dinheiro pra mim e para o empreendedor, mas também impacta outras pessoas. Um projeto que tem como finalidade transformar vidas de alguma forma, a exemplo de quando alguém salva um baita de um problema, como mães que não conseguem dormir e criam uma solução para isso. Tudo que possa de fato ter uma colaboração com a sociedade me atrai muito mais, independente do segmento ou do setor. Eu olho muito o poder que as empresas têm de transformar outras vidas.

IM: E você tem olhado para algum segmento específico? 

Empresas que se preocupam com a produtividade do time e, cada vez mais, as empresas que estão buscando resolver o problema do empreendedor, isso me atrai muito. Não só resolver problemas das pessoas no dia a dia, como assistentes virtuais e automação de casas, mas ferramentas que possam deixar as pessoas mais produtivas.

Eu acredito que as pessoas têm muito medo da tecnologia substituir o ser humano, mas a tecnologia já está no mercado financeiro e a gente usa o tempo todo. Temos plataformas que fazem conta de tudo. Quando me perguntam se é necessário saber de matemática para investir na bolsa, eu respondo que não, porque a plataforma já faz tudo, deixa verdinho ou vermelhinho lá.

Eu olho bastante para educação porque acho que ainda existe muito espaço para crescer no Brasil. No desenvolvimento de habilidades, por exemplo, não só com faculdades ou universidade, pelo contrário. Vejo que o sistema tradicional de ensino tem sido repensado pelo brasileiro, que antes dava muita importância ao diploma. Hoje, ele está entendendo que os cursos livres e profissionalizantes têm muito espaço hoje, e que já está sobrando vagas para bons profissionais.

Outro segmento que ainda sinto falta é no agronegócio. Ainda não temos grandes empresas para serem investidas nesse ramo. Temos muitas coisas para explorar, inclusive na transformação das fazendas em empresas. Se todo mundo entendesse que uma fazenda é uma empresa, que precisa de gestão, estaríamos muito mais avançados nesse segmento.

IM: Qual é a sua estratégia para atuar em todos os seus negócios?

Eu fiz um clone [em tom de brincadeira]. Tenho uma agenda muito bem organizada, e separo meus compromissos por assunto. No horário comercial, eu só falo de Átomo, então todas as minhas reuniões estão focadas nisso. No final de semana, minha agenda de sábado pela manhã, é para mentorar os meus investidos. Eu montei uma aceleradora, com um time focado, e um CSC (Centro de Serviços Compartilhados) para diminuir custos dessas minhas investidas.

[Os empreendedores] têm direito a mentoria individual comigo e também as mentorias em grupos, que são obrigatórias. Para ser meu sócio, é preciso participar dessas mentorias todos os sábados das 10h às 11h da manhã. Eu gamifiquei essas agendas para que os mais presentes e frequentes ganhem premiações. Isso é importante para que eu consiga mapear quais são as dificuldades. Se eles querem aprender a vender para o B2B, por exemplo, eu levo um especialista para explicar sobre isso, como o Carlos Wizard, que foi falar sobre franquias, por exemplo.

Essa organização virou um ecossistema onde os investidos compartilham dúvidas e soluções. Perguntam: ‘O que vocês tão fazendo?’, ‘Qual plataforma que vocês contrataram?’, ‘O que acham de tal serviço?’. Eles também acabam se ajudando.

IM: Com essa rotina corporativa corrida, sobra algum tempo livre? O que você costuma fazer nas horas vagas?

Durmo [novamente, aos risos]! Minha agenda me consome bastante, mas eu brinco que nem sinto que estou trabalhando porque eu gosto muito do que eu faço. Eu tenho, sim, uma agenda de compromissos com meus amigos e família. Também gosto bastante de esporte, então eu treino todos os dias, algo que eu entendo que precisa fazer parte do hábito de vida das pessoas.

Eu também amo viajar. A grande vantagem da tecnologia e da internet é que dá para trabalhar de qualquer lugar. Sempre que posso, estou viajando, seja com família ou amigos, e, claro, tomando bons vinhos.