Lollapalooza é adiado para dezembro; T4F cai 6% em dia de forte alta da Bolsa

Surto da Covid-19 está afetando shows e eventos no mundo todo

Giovanna Sutto

Multidão em show do Lollapalooza
Multidão em show do Lollapalooza

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SÃO PAULO – O Lollapalooza foi adiado para os dias 4, 5 e 6 de dezembro devido ao surto do coronavírus, segundo está informado no site oficial.

O festival aconteceria nos dias 3, 4 e 5 de abril em São Paulo. No entanto, ainda não há informações sobre novos local e line-up.

O adiamento deve causar algumas dificuldades para a organização, já que exige uma combinação de fatores: considerando uma nova data, as bandas precisarão estar disponíveis, assim como os consumidores que já compraram ingresso.

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Ainda, tem a questão do local, caso também mude, o que pode exigir uma aprovação de anunciantes. Sem contar com potenciais reembolsos a pessoas que não poderão ir e outras questões inerentes a uma mudança desse porte.

A Time For Fun (T4F), organizadora oficial do Lollapalooza no Brasil, disse que os headliners estão confirmados para as novas datas.

“A saúde e a segurança de nossos fãs, artistas, funcionários, parceiros e comunidades são a nossa prioridade. Nossos headliners Guns N’ Roses, The Strokes e Travis Scott estão confirmados para as três datas remarcadas. Iremos fornecer uma atualização sobre o line-up completo o mais rápido possível”, disse a companhia em nota.

“Todos os ingressos comprados para as datas originais serão validos nas datas remarcadas. Informações mais detalhadas serão enviadas a todos os titulares de ingressos e também estarão disponíveis em breve no site do Lollapalooza Brasil, inclusive sobre a política de reembolsos dos ingressos caso não possa comparecer às novas datas”, continua o pronunciamento oficial.

As ações da T4F chegaram a cair 12% no intraday nesta sexta-feira (13), enquanto a Bolsa apresenta uma recuperação após o principal índice acionário da B3 registrar ontem sua pior queda desde 1998, em meio ao turbilhão de notícias negativas sobre o coronavírus.

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No acumulado do ano, a empresa apresenta queda de 65% em suas ações e nesta sexta-feira (13) os papeis fecharam o pregão em queda de 6,2%, enquanto o Ibovespa disparou 13,9%.

A semana foi caótica para o mercado: Ibovespa acumulou quatro circuit breakers e uma queda de mais de 25% em quatro pregões.

Fase turbulenta

Fora o adiamento do Lollapalooza, a T4F está em um momento bem complicado: 2019 foi o segundo pior ano da empresa. A receita caiu 34% em relação a 2018, enquanto o lucro bruto apresentou queda de 42%.

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Ainda, em 2018 foram 456 eventos promovidos, contra 555 em 2019, no entanto, a quantidade de ingressos vendidos caiu 39%, para 1,14 milhão.

“A empresa tem sérios problemas, inclusive fizemos recomendação de venda recentemente. O caixa costumava ser líquido, mas está ficando cada vez menor”, diz Herrera.

O ano passado só não foi pior que 2009, quando o lucro líquido da empresa caiu cerca de 90% e o Ebitda caiu 54%.

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“A grande diferença entre 2009 e 2019 é que, no primeiro caso, a empresa vinha de um 2008 excelente, na verdade o melhor ano da sua história. Então, o lucro líquido quase zerou, mas o ano anterior tinha sido muito bom”, opina o analista. “Nesse meio tempo, vale lembrar, aconteceu a pandemia da Gripe Suína. No entanto, o coronavírus deve tomar proporções muito maiores. Se naquele ano o resultado foi negativo naquele patamar, imagine o que não pode acontecer neste ano”, sugere.

Outros problemas são encontrados na governança corporativa, segundo ele. “A T4F não se comunica com o mercado. Faz anos que a empresa não faz um evento público com analistas credenciados, não aceita pergunta nas teleconferências de resultados, não entrega informações-chaves pra análise do modelo de negócio dela, tem lugares vagos na diretoria em um momento de forte concorrência, ou seja, os fundamentos não estão nas melhores condições, por isso não é estranho o mercado precificar para baixo”, explica.

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Segundo Herrera, a empresa teve riscos se materializando no ano passado e não entregou nenhuma solução na tentativa de se proteger ou evitá-los. “A polêmica envolvendo as taxas de conveniência é um exemplo. Foi decidido a favor da ilegalidade da cobrança dessa taxa na venda de tickets online e poderia ter um impacto enorme no negócio e no setor, mas até hoje a empresa não se posicionou sobre essa ação judicial significativa”, explica.

Ou seja, com a soma da poluição de resultados e coronavírus, a empresa deve ser significativamente afetada nesse ciclo. “É cenário de tormenta perfeita para a empresa. Uma fase difícil, mas a empresa já não vinha de um momento positivo”, afirma.

Outros eventos ao redor do mundo

O Lollapalooza Argentina e Chile também foram adiados.

O ministro da Saúde da cidade de Buenos Aires, Fernán Quirós, anunciou na manhã da última segunda-feira (9), durante uma coletiva de imprensa, que os shows internacionais “essencialmente organizados com pessoas do exterior” serão suspensos para impedir a circulação do coronavírus.

Quirós afirmou que “como medida atual, decidimos que programas que são essencialmente organizados com pessoas do exterior, como reuniões internacionais que trazem muitas pessoas da Europa e de outros lugares do mundo, não serão permitidos”.

Oficialmente, o evento segue confirmado e nos próximos dias a organização deve informar o que vai acontecer após conversar com os órgãos de saúde do país. O evento tem Pabllo Vittar entre as atrações.

O Coachella, tradicional festival de música que acontece na Califórnia, foi adiado para outubro. O festival estava inicialmente marcado para acontecer em dois fins de semana consecutivos, nos dias 10, 11 e 12, 17, 18 e 19 de abril.

A Califórnia foi um dos estados mais afetados pelo surto da Covid-19, relatando mais de 110 casos e pelo menos uma morte na noite da última segunda-feira (9).

Entre as atrações confirmadas estavam Rage Against the Machine, Travis Scott e Frank Ocean, além de Anitta e Pablo Vittar. O Coachella e seu festival “irmão” Stagecoach arrecadam, juntos, cerca de US$ 1,4 bilhão em lucros a cada ano e levam mais de 250 mil pessoas aos eventos anualmente.

O South by Southwest (SXSW), um dos maiores eventos de inovação do mundo; a conferência anual de desenvolvedores do Facebook, o “F8”, ambos nos Estados Unidos; e a 14ª edição do Mobile World Congress (MWC), com cerca de 100 mil pessoas, que seria em Barcelona, já foram cancelados pelo mesmo motivo.

Ainda, com a ampliação da quarentena da Itália, Sergio Mattarella, presidente do país confirmou que deve assinar nos próximos dias um decreto que vai paralisar as atividades esportivas no país. Com isso, o restante dos jogos da Serie A – primeira divisão do futebol italiano – devem ser cancelados.

A suspensão dos eventos esportivos afeta de forma mais direta Juventus, Atalanta, Inter de Milão e Roma, times que disputam competições europeias e serão proibidos de terem o mando de campo em casa em alguns jogos importantes – pelos menos enquanto a quarentena estiver em vigor.

Eventos como o Game Developers Conference (GDC), maior feira de jogos eletrônicos do mundo que acontece entre 16 e 20 de março, em São Francisco (EUA), e o MWC Shanghai, que está marcado para 30 de junho, também correm riscos de serem cancelados.

Ao The Verge, os organizadores do GDC informaram que “o departamento de Saúde Pública da Califórnia, o Departamento de Saúde Pública de San Francisco e a Associação de Viagens de San Francisco continuam a apoiar a convocação de eventos públicos”. E segundo a Bloomberg, os organizadores do MWC afirmaram que precisam “tomar uma decisão [sobre o futuro do evento] em breve, mas não agora”.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.