Mesmo sendo mal visto pelos analistas, por que a CSN insiste na ThyssenKrupp?

Impacto no endividamento da companhia e ganhos limitados de sinergia limitam o otimismo dos analistas para o interesse da siderúrgica nos ativos da companhia

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Na manhã desta quinta-feira (17), o jornal Valor Econômico divulgou que a CSN (CSNA3) fez uma oferta de US$ 3,8 bilhões pela aquisição da ThyssenKrupp AG nas Américas, localizada no Alabama, além de uma participação majoritária na usina brasileira CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico). Mesmo sem confirmação do negócio, analistas já se mostram negativos quanto à oferta.

A notícia não é novidade para o mercado, porém os papéis da companhia sofreram com o anúncio desde a manhã. A dívida da siderúrgica se mostra uma das grandes preocupações dos analistas, e a aquisição poderia piorar esta situação. “O valor do investimento é alto e isso vai aumentar o nível de endividamento da CSN, enquanto o retorno não será imediato”, avalia o analista Victor Penna, do BB Investimentos.

Efeitos da compra: pouca sinergia e Ebitda negativo
Para os analistas Rodrigo Barros e Leandro Cappa, do Deutsche Bank, a aquisição por parte da CSN poderia elevar a dívida líquida da companhia em 2013, de US$ 9,5 bilhões para US$ 13,3 bilhões. Além disso, os ativos de aço da ThyssenKrupp poderiam levar a CSN a apresentar um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) negativo este ano.

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Outro empecilho para a acompanhia nessa operação vem da Vale (VALE3; VALE5), que é uma das controladoras da CSA, com 27% de participação na companhia – a ThyssenKrupp detém os outros 73% – e é fornecedora exclusiva da siderúrgica, possuindo contrato com prazo de 15 anos para a venda de 2,7 milhões de toneladas por ano de pelotas e 5,9 milhões de toneladas por ano de minério de ferro. Esse fato poderia afetar possíveis ganhos de sinergia da CSN para o fornecimento de minério.

Mesmo com um bom caixa, de cerca de R$ 7,2 bilhões, a XP Investimentos explica que a companhia está alavancada e que esta possível aquisição representa 43% do atual valor de mercado da CSN, poderia piorar ainda mais a situação, representando um risco elevado na visão dos analistas da corretora.

Por fim, alguns analistas entendem que o valor apontado pela matéria seria elevado e colocam certa cautela sobre os números do acordo. Mesmo com as projeções negativas caso o negócio ocorra, a recomendação dos especialistas é de manutenção dos papéis.

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Então por que comprar a ThyssenKrupp?
Para a equipe da XP, a estratégia da companhia faz sentido, uma vez que o insucesso na aquisição de Usiminas (USIM3, USIM5) e outros processos de Fusões & Aquisições – como com o Cimpor e o Corus – faz com que a ThyssenKrupp seja o último grande ativo disponível para a CSN.

Em um dos processos frustrados, durante o ano passado, a CSN realizou grandes investimentos nos papéis da Usiminas, na tentativa de adquirir participação relevante na companhia. Porém, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) proibiu a CSN de comprar mais papéis da Usiminas e negou a indicação, direta ou indiretamente, de integrantes do conselho de administração de sua concorrente, mesmo sendo na época o maior investidor individual da Usiminas.

A equipe da XP ainda aponta como parte da estratégia o fato do governo brasileiro já ter deixado claro sua preferência por um agente nacional assumindo o controle da usina, o que faz a corretora projetar que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) poderia ser um agente importante na materialização de tal acordo.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.