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O novo mercado do gás começa a produzir seus primeiros efeitos no faturamento das petroleiras de menor porte da Bolsa.
Sancionada pelo governo federal em abril de 2021, a legislação que rege o novo mercado do gás natural tem como objetivo ampliar a concorrência em um mercado que antes era monopolizado pela Petrobras. Uma mudança que merece destaque foi a possibilidade de as empresas privadas negociarem o gás diretamente com os compradores sem o intermédio da estatal, o que fez diminuir o spread da operação.
Com isso, a PetroReconcavo (RECV3) e 3R Petroleum (RRRP3), conhecidas como “junior oils” – apelidadas assim por conta da diferença diante da gigante Petrobras (PETR3; PETR4), apresentaram um crescimento no faturamento até o terceiro trimestre do ano.
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Mas se, por um lado, o novo mercado pode ajudar a ampliar o faturamento dessas companhias, por outro, as necessidades de investimentos de R$ 138 bilhões e o aumento na demanda são grandes desafios para as companhias.
Receita em expansão
No caso da PetroReconcavo, que opera campos maduros desinvestidos pela Petrobras, a mudança regulatória ajudou a companhia a ampliar em 15,8 vezes sua receita com a venda de gás e seus subprodutos, de R$ 69,4 milhões para R$ 1,1 bilhão. Com isso, a participação do gás no faturamento saiu de 6,85% em 2021 para 35% neste ano.
“O novo mercado otimizou nosso operacional e nos deu competitividade. Hoje, conseguimos baratear o valor cobrado dos nossos consumidores com uma margem maior”, afirma João Moreira, diretor de regulação e novos negócios da empresa.
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Contudo, não foi apenas o novo mercado do gás que garantiu a expansão de receita da PetroReconcavo: a compra do Polo Miranga, na Bahia, no fim de 2021, somada a outros investimentos nos campos em que já operava, fez a produção diária de gás sair de cerca de 500 mil m³ por dia em 2021 para 1,5 milhão de m³ diários em 2022.
Também a despeito do crescimento expressivo, a empresa é apenas a quarta maior produtora de gás natural do país, atrás de Petrobras (136 milhões de m³ por dia), Eneva (4,1 milhões de m³ por dia) e TotalEnergies (2,4 milhões de m³ por dia), segundo relatório mais recente da Agência Nacional do Petróleo e Gás Natural (ANP).
No caso da 3R Petroleum, que produz 1,12 milhão de m³ por dia, a receita líquida obtida na operação de gás natural subiu 15 vezes na comparação anual ao final de setembro, chegando R$ 116,2 milhões, ou 23,1% da receita total da companhia. Já a Prio (PRIO3), que produz cerca de 415 mil m³ por dia, não divulga o faturamento específico da sua operação de gás.
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Nova demanda
Desde a sanção da nova lei, a PetroReconcavo anunciou nove contratos de fornecimento de gás natual. Galp, Bahiagás, Potigás, PBGás, Cegás, TAG e Unigel deverão garantir a demanda do produto para a companhia ao longo de 2023.
Embora a PetroReconcavo não divulgue os valores dos contratos, ela afirma que não são atrelados ao brent do petróleo – como ocorre em alguns casos –, evitando assim que a remuneração esteja sujeita às volatilidades de mercado.
“Cerca de 70% da nossa produção diária está contratada e ancorada a índices inflacionários, e isso nos dá uma boa previsibilidade. Ademais, conseguimos utilizar o excedente para operações pontuais”, diz Moreira, que destaca ainda que as reservas da companhia podem entregar até 2,5 milhões de m³ por dia, caso a empresa decida produzir em capacidade máxima.
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Essa ‘renda extra’ obtida com o negócio de gás dá mais vigor à saúde financeira da empresa, prossegue João Moreira. Isso porque diminui a necessidade de alavancagem da companhia para expandir sua operação de petróleo, que é mais lucrativa, mas também demanda mais investimentos.
“Cria-se um círculo virtuoso para a companhia e aumenta nosso interesse por novos projetos. O petróleo é o negócio mais importante, mas já é possível dizer que o gás está se aproximando”, reforça o executivo. No trimestre encerrado em setembro, a PetroReconcavo registrou caixa líquido positivo em R$ 84,1 milhões, o que indica que a empresa não está alavancada financeiramente.
Dentre os novos projetos no radar da empresa, está a compra do Polo Bahia Terra junto à Petrobras. Um consórcio formado pela PetroReconcavo com a Eneva fez a melhor oferta no leilão de venda em maio, mas o negócio foi paralisado na Justiça. Em novembro, a Petrobras derrubou a liminar, mas na última semana, a estatal anunciou ao mercado que a ANP determinou a interdição dos 37 instalações do Polo Bahia Terra, gerando um novo impasse ao negócio. A PetroReconcavo diz que segue acompanhando a situação.
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Desafios
Apesar de os números indicarem um cenário positivo, o mercado privado de gás ainda é incipiente. A maior oferta advém da Petrobras e dos campos do pré-sal, onde a estatal é a principal operadora.
Ademais, a demanda ainda é considerada inconstante pelos agentes de mercado. Prova disso é que, dos 148,7 milhões de m³ produzidos diariamente em outubro deste ano, pelo menos metade foi reinjetada nos poços – parte dessa injeção é necessária para a extração do petróleo, mas uma parcela disso, contudo, poderia ser vendida ao mercado.
Esse cenário pode mudar com a nova legislação. Segundo estimativas de um estudo divulgado em janeiro deste ano pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao governo federal, o novo mercado do gás pode gerar uma demanda extra de 66 milhões de m³ por dia até 2031, jogando a necessidade do país para 239 milhões de m³ diários ante uma oferta de 273 m³ por dia.
Investimentos necessários
Para tanto, algumas iniciativas que façam crescer a demanda precisam ser implementadas. No documento, os técnicos estimam que novas unidades de fertilizantes nitrogenados (que teriam potencial de reduzir a importação de fertilizantes pelo Brasil) e novas plantas de produção de metanol (que poderiam ofertar aumento na produção de biodiesel), poderiam gerar uma demanda adicional de 22 milhões de m³ por dia em 2031.
A EPE prevê ainda que o novo mercado do gás demandará investimentos de R$ 137,9 bilhões em 57 novos projetos de infraestrutura, tratamento e escoamento de gás no país até 2031. “As discussões trazidas pelo Programa ‘Novo Mercado de Gás’ configuram um cenário otimista com relação ao aumento do aproveitamento deste insumo”, reforçou o estudo.
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