O que Pedro Parente poderá fazer de diferente de Aldemir Bendine no comando da Petrobras?

Para analistas, Bendine estava no caminho certo - mas coisas podem ser aceleradas com o novo CEO

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O comando da Petrobras (PETR3;PETR4) muda de mãos – mas os grandes desafios para a companhia permanecem. O mercado se animou com a indicação de Pedro Parente – que deverá ser aprovada na próxima segunda-feira -, em uma reação bastante diversa de quando Aldemir Bendine foi confirmado como presidente da estatal, em 6 fevereiro de 2015. Naquela data, as ações preferenciais da Petrobras despencaram quase 7%, em meio a rumores de ingerência política uma vez que ele é próximo a então presidente afastada, Dilma Rousseff. Além disso, Bendine fez toda a sua carreira no Banco do Brasil, o que levou a desconfianças sobre as credenciais para que ele assumisse o cargo em uma empresa de um setor tão diferente. 

Porém, o balanço da gestão final não foi o “fracasso” que muitos chegaram a propagar inicialmente, apesar de muitos desafios seguirem no radar. Bendine conseguiu “destravar” o balanço da Petrobras, que sofria com o atraso na publicação, além de ter realizado sucessivos cortes de investimentos e vendas de ativos.

Apesar de algumas empreitadas bem sucedidas, Bendine entrega a companhia para Parente com muito ainda a ser feito – e o novo CEO pode fazer ainda mais e melhor do que o antecessor. “Em relatórios anteriores, destacamos o cenário complexo, com os preços do petróleo abaixo de US$ 50 o barril. A estrutura de capital, apesar da empresa vender combustível com prêmio nos preços internacionais, é inadequada e insustentável”, afirma o banco BTG Pactual. 

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A implantação de mudanças internas drásticas enfrenta dificuldades, devido às resistências internas e externas, além de ser necessária uma mudança de mentalidade de todos os envolvidos para criar valor. “E como Parente pode adicionar valor em relação à equipe anterior?”, questiona o banco. “Nós acreditamos que o CEO anterior e a sua equipe estavam fazendo a lição de casa necessária, mas a um ritmo insuficiente vis-à-vis à maciça reviravolta que a Petrobras precisa. Mas, de qualquer maneira, nós pensamos que o navio da Petrobras está no caminho certo e esperamos apenas que o novo CEO possa acelerar as coisas”, afirma o banco. 

O Bank of America Merrill Lynch reforça que o nome de Parente é bom para a companhia, uma vez que ele tem larga experiência nos setores público e privado. “Os desafios permanecem significativos, com a questão mais importante sendo a necessidade de reduzir a pesada carga de endividamento. Além disso, a companhia precisa mostrar avanços na conclusão de suas vendas de ativos para manter liquidez e fazer frente a dificuldades associadas às investigações (Lava Jato, SEC e Departamento de Justiça dos EUA) e com ações judiciais, entre outras”, afirmam os analistas.

“O mercado deve monitorar de perto se a mudança na gestão implicará maior independência, o que pode incluir mais liberdade para fixar preços de diesel/gasolina e na gestão do portfólio dos ativos”, afirma o BofA. Contudo, a confiança dos investidores na independência da estatal deve seguir limitada. “Normalmente, outros postos seniores mudam com o do presidente; pergunta-chave é se haverá mudança do diretor-financeiro, diante da nossa impressão de que há visão positiva entre investidores quanto a Ivan Monteiro, atual ocupante do posto”. Contudo, segundo a Folha, Monteiro afirmou que deixará a estatal. 

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Para a Haitong, a nomeação é Parente é positiva mas, para haver alguma mudança mais significativa na visão sobre a companhia, ela deve: i) ter uma política de preços de combustível clara, a fim de aumentar a rentabilidade; ii) manutenção ou ampliação do plano de desinvestimento e iii) mostrar eficácia do programa de redução de custos. Atualmente, a Haitong possui recomendação neutra para a ação da estatal.

Outra questão bastante importante e que será bastante monitorada pelo mercado é a indicação de que, com Parente, não haverá “loteamento político” da estatal. Em entrevista na quinta, Parente disse que não haverá indicações políticas para a companhia. Segundo ele, a ausência das indicações vai facilitar sua própria vida e a dos demais executivos da empresa. “Se for o caso, e não será, certamente elas [indicações] não serão aceitas. Isso foi um dos pontos que me fez decidir [aceitar o convite]”, afirmou, depois de admitir que o “desafio” não estava em seus planos.

Assim, a escolha de Pedro Parente tem como objetivo de Michel Temer de blindar a Petrobras, que foi o alvo do maior escândalo de corrupção no governo Dilma Rousseff, envolvendo o PT, o PMDB e o PP. Assim, a perspectiva de uma gestão mais profissional da companhia (e sem sustos com novos escândalos) pode gerar maior confiança para os investidores da estatal. 

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Perfil
Pedro Parente foi ministro do Planejamento, da Casa Civil e ministro interino de Minas e Energia no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

No governo federal, também foi presidente da Câmara de Gestão da Crise de Energia de 2001/2002 e coordenou a equipe de transição entre os governos de FHC e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Engenheiro de formação, Pedro Pullen Parente foi presidente e CEO da Bunge Brasil entre 2010 e 2014. Também já atuou como consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de secretarias estaduais.

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Atualmente, é presidente do Conselho de Administração da BM&FBOVESPA, membro dos conselhos da SBR-Global e do Grupo ABC e sócio-diretor do grupo Prada de consultoria e assessoria financeira. Em 2012, foi apontado como uma das 100 personalidades mais influentes do Brasil na categoria construtores, segundo a revista Época.

 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.