Os nós que o Banco do Brasil precisa desatar se quiser vender os negócios de cartões

Tanto a abertura de capital quanto uma eventual venda são improváveis para este ano, avalia especialista

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil (BBAS3), nunca escondeu que gostaria de ver a instituição privatizada. Como isso não é possível, por razões políticas, persegue, desde que assumiu o cargo, outras maneiras de ventilar o negócio. Uma das ideias frequentemente discutidas é a da reestruturação das operações de cartões, tema em estudo pela companhia junto a consultorias. A avaliação de parte do setor, porém, é que a probabilidade de esse negócio vingar ainda neste ano é muito pequena.

“Essa história não é nova, mas tem uma complexidade grande”, disse ao InfoMoney Carlos Daltozo, head de renda variável da Eleven que trabalhou por 20 anos no BB Investimentos. Na opinião do analista, toda a estrutura de parcerias neste segmento dificulta uma estrutura passível de venda, e o maior nó a ser desatado antes de qualquer ação nessa linha é a Cateno, parceria do banco com a Cielo em processamento de transações.

A exposição do BB em cartões acontece em algumas frentes: a administradora de cartões; parcerias com o Bradesco na Cielo, na Alelo e na bandeira Elo, em que a Caixa também tem participação; e outra sociedade, com a Cielo, na processadora de cartões Cateno. A maioria dos negócios, portanto, não depende só da estatal.

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“[O BB] vai vender o que? Só o negócio de emissão? Concentrar tudo em um único business? Como ficam as parcerias em adquirência, na bandeira, no negócio de benefícios e na emissão?”, questiona Daltozo. “Eu não vejo como costurar uma empresa que seria vendável”, avalia.

Ele vê a abertura de capital da EloPar, holding que controla a Elo Serviços, como o mais viável dos cenários, “mas precisaria convencer o Bradesco [que tem 50,01% de participação] a vender também”.

Além de um IPO, outro rumor de mercado, segundo uma fonte do setor, trata da possível intenção do Bradesco em comprar a fatia do BB na Cielo, onde os dois bancos são sócios. Mas a estrutura atual da Cateno inviabiliza esse acordo, já que significaria acesso, pelo Bradesco, a dados relevantes da operação do BB através do processamento dos cartões do banco.

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Para a Cielo, aliás, o mercado avalia que uma eventual compra da fatia do BB na Cateno poderia fazer sentido, já que suas receitas dependem cada vez mais do negócio de processamento, conforme os números do último balanço. A ação da Cielo (CIEL3) dispara perto de 5% nesta terça-feira (12) na esteira das especulações.

Bom negócio?

Além da complexidade, se desfazer dessas operações não seria necessariamente positivo para o BB, na visão de analistas.

“Desinvestir na emissão de cartões pode colocar a operação inteira de varejo em risco”, escreveram analistas do Bradesco BBI em relatório. “Claramente, Claramente, esta opção está sobre a mesa porque a privatização do Banco do Brasil não parece ser uma opção do ponto de vista político”.

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Daltozo lembra que as verticais de cartões geram receita significativa em serviços para o banco. “[Vender] é abrir mão de uma receita importante para tentar antecipar uma parte desse fluxo de recursos”, argumenta. “Depende da intenção do banco, mas no longo prazo a conta de fazer essas vendas chega, já que abre-se mão de uma receita cada vez mais relevante dentro do universo bancário, ainda mais com spreads reduzidos”.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney