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A Bossanova, que já fez mais de 1.500 investimentos em startups desde 2011, em companhias como Rappi, Melhor Envio e Kinvo, quer construir um ecossistema para startups e investidores. Para isso, tem tomado uma série de iniciativas. A mais recente delas é a aquisição da plataforma de equity crowdfunding Platta, que captou R$ 2,3 milhões e reuniu 170 investidores no ano passado.
A compra de 100% da empresa, que aconteceu em setembro e foi anunciada hoje (6), não teve o valor divulgado.
Com a aquisição, a Bossanova pretende resolver um gargalo que possui. Até então, quando queria realizar um investimento em alguma startup, a Bossanova buscava as mais de 50 plataformas de equity crowdfunding. A ideia era permitir que investidores pessoa física pudessem entrar no aporte, mas empresa acabava esbarrando em um entrave. “Essas plataformas já possuíam uma ‘fila’ própria de empresas para fazer a captação. Com a Platta, teremos mais autonomia para que o pequeno investidor entre nas rodadas”, diz Antonio Patrus, diretor da Bossanova.
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Agora, afirma Patrus, o mercado ganha um crowdfunding cujas ofertas já vêm com o selo Bossanova e, por outro lado, a gestora investirá nas startups ofertadas independentemente do desempenho na plataforma — o que dará oportunidade do investidor menor, que tenha a partir de R$1 mil de aplicação, a participar da rodada de investimento. “Estamos separando uma parcela do nosso cheque para as pessoas se beneficiarem desse modelo”, explica João Kepler, CEO e fundador da Bossanova.
Para Kepler, com a plataforma própria, será possível oferecer um contato direto maior com o investidor, educando e engajando os principais stakeholders (startups e co-investidores). “Compramos a Platta por acreditar que o crowdfunding, principalmente após a nova regulamentação, é uma ferramenta incrível de conexão entre eles. Acrescenta uma camada de educação que os investidores brasileiros ainda precisam para terem mais segurança e conhecimentos ao fazerem suas decisões”, conta Kepler.
O plano, agora, é dar aos investidores acesso a uma curadoria de investimento, concentrando em um único canal todo o recurso que a startup precisa. “Hoje, co-investimos muitas vezes junto a outros fundos e VCs, porque a startup precisa completar o cheque da rodada. Com o formato de mini IPO, encurtaremos esse caminho de captação”, complementa.
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Como funciona o equity crowdfunding?
O equity crowdfunding funciona como um mini IPO, que diferente do Initial Public Offering (Oferta Pública Inicial, em português), que costuma atrair investidores qualificados e profissionais a investirem em empresas grandes e bem estruturadas, permite ao público geral investir em pequenos negócios — as startups. Ao invés de ter seu capital aberto através da Bolsa de Valores, no mini IPO a oferta é feita por meio de uma plataforma de crowdfunding, como a Platta, a EqSeed, a CapTable ou a Kria.
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Em 2017, quando a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) regulamentou o equity crowdfunding, existiam apenas cinco plataformas ativas no mercado. Desde então, o volume de captação de recursos pelo modelo cresceu 1.366% em quatro anos, segundo dados da CVM. No primeiro ano, o montante total de captação correspondia a R$ 12,8 milhões. Em 2021, saltou para R$ 188 milhões e o número de investidores também acompanhou esse crescimento: no mesmo período, a quantidade de pessoas que investiram nas empresas por meio dessa modalidade aumentou 702%.
Em julho deste ano, a Resolução CVM 88 fez o mercado dar um salto ainda maior. A norma, que entrou em vigor em julho e substituiu a CVM 588 para regular as “ofertas públicas de sociedades empresárias de pequeno porte, realizada com dispensa de registro, por meio de plataforma eletrônica de investimento participativo”, permitiu o aumento do limite de receita bruta anual e o aumento do limite de captação.
Antes, a CVM permitia limitava empresas pequeno porte até um faturamento de R$ 10 milhões e permitia que essas captassem até R$ 5 milhões. Com a nova regulamentação, o limite de receita bruta anual foi para R$ 40 milhões e o limite de captação triplicou, passando para R$ 15 milhões, o que abriu novas janelas de liquidez para os investidores e ampliou o universo de empresas aptas ao crowdfunding.
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E mais: a nova regulação instituiu um mercado para “transações subsequentes”. Com isso, as próprias plataformas de equity crowdfunding podem atuar como facilitadoras de transações depois da captação original, provendo documentos para cessão de titularidade entre o investidor de uma startup e outro investidor que esteja na mesma plataforma, em uma espécie de mercado secundário, que lembra as negociações em Bolsa de Valores.
De acordo com Ricardo Moraes Filho, que assumiu a gestão da Platta como CEO em 2021, as conversas entre as duas empresas começaram em maio deste ano, em razão da complexidade de operação que seria exigida com a nova regulamentação (Resolução 88). “A mudança da CVM destravou amarras para o crescimento do setor, mas vimos que, assim como surgia um cenário de maiores oportunidades, também haveria maiores desafios. Isso exigiria um maior investimento no negócio e a dedicação integral por parte dos sócios para a construção de um ecossistema próprio, em um curto espaço de tempo”, conta Moraes Filho.
Segundo ele, para realização de ofertas de crowdfunding, são necessários três pilares distintos: seleção rigorosa de empresas para investir, a aquisição de muitos investidores com perfil adequado ao tipo de risco e investir em uma plataforma com inovações tecnológicas e robusto grau de compliance. “Após as captações, é necessário ter uma estrutura de acompanhamento para que estas empresas continuem crescendo e entregando a sua proposta de valor, mas entendemos ao longo do tempo que a nossa aptidão era em se relacionar com os investidores, até por causa do nosso longo histórico na área, e não com a gestão”, explica Moraes.
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O momento coincidiu com a procura ativa da venture capital em fazer parte deste mercado. “Vimos que a venda da Platta significaria passar nosso legado, de empresas investidas e de investidores, para crescer dentro do ecossistema completo que a Bossanova construiu nos últimos anos — e isso fazia todo o sentido para nós”, completa. Com o movimento, Moraes, que faz parte da rede de investidores da Bossanova desde 2017, passará a atuar como Conselheiro Consultivo do crowdfunding.