Glorify: conheça a rede social para cristãos que conquistou Michael Bublé e SoftBank

Glorify anunciou aporte de US$ 40 milhões. Ao todo, app que tem no Brasil seu maior mercado já recebeu US$ 84,6 milhões de investimento

Mariana Fonseca

Henry Costa e Ed Beccle, fundadores do Glorify (Divulgação)
Henry Costa e Ed Beccle, fundadores do Glorify (Divulgação)

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Ideias de negócios costumam surgir a partir de experiências pessoais. Ou, no caso de Edward Beccle, da falta de experiências. O jovem do Reino Unido não se animava em participar de corais ou missas para expressar sua fé cristã. Então, cofundou o Glorify: uma rede social para cristãos com o objetivo de manter uma relação virtual, mas ainda assim profunda, com Deus. Celebridades e fundos de renome se juntaram ao coro – e trouxeram milhões de dólares.

O aplicativo anunciou nesta terça-feira (8) um investimento de US$ 40 milhões. A rodada série B foi liderada pelo SoftBank Latin America Fund, fundo do conglomerado japonês de telecomunicações que já captou US$ 8 bilhões para investir em negócios atuantes na América Latina. Ao todo, o Glorify já captou US$ 84,6 milhões não apenas com o SoftBank, mas também com os fundos Andreesen Horowitz (a16z), que já investiu nas brasileiras Loft e Inventa, e K5 Global, que tem no portfólio Airbnb, Coinbase e Uber. Celebridades como a empresária Kris Jenner (mãe do clã Kardashian) e os cantores Jason Derulo e Michael Bublé também colocaram dinheiro no Glorify.

Beccle foi criado em Hong Kong e se mudou ao Reino Unido quanto tinha nove anos de idade. Ele criou seu primeiro negócio ainda na adolescência, e desde então não parou mais de fundar e vender empreendimentos. Aos 22 anos de idade, o Glorify é sua “quinta ou sexta” empresa. Ela surgiu de uma motivação emocional, e ganhou corpo com a percepção de uma oportunidade de mercado.

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“Muitos aspectos religiosos não criavam uma conexão comigo, como corais ou visitas à igreja. E eu pensava que tinham muitos outros cristãos que não tinham uma relação próxima diária com Deus. Queria construir uma experiência que fosse simples e durasse até dez minutos, mas que fosse mais engajadora e social do que apenas ler um trecho da Bíblia”, contou Beccle em conversa com o Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney.

“Eu já tenho dinheiro suficiente para tudo que um jovem de 22 anos de idade poderia querer. O objetivo agora é construir algo que faça as pessoas se sentirem melhor, e a tecnologia pode ser um bom meio se for utilizada da maneira correta.”

Para Beccle, a maneira correta era construir um “contexto específico para a prática da fé” – indo além de curtidas, comentários e compartilhamentos de trechos bíblicos perdidos em redes sociais mais genéricas. Cada usuário do Glorify tem uma prática diária de até 10 minutos quando acessa o aplicativo. “A fé é como um músculo, que precisa ser construído com consistência e disciplina”, acrescenta o cofundador.

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Nessa prática diária, o usuário começa lendo uma passagem bíblica que pode compartilhar e comentar, como faria no Facebook ou no Instagram. Mas o aplicativo adiciona um “exercício de meditação reflexivo” ao trecho bíblico: uma mensagem que serve de guia para entender o trecho de maneira emocional e lógica.

Para completar os minutos diários, o Glorify tem ainda uma aba de conteúdos adicionais, para ler por conta própria ou para amigos, familiares e filhos. “A ideia é termos conteúdos que fazem os usuários se sentirem melhor no dia a dia, e até lidar com situações difíceis, como ansiedade ou depressão”, disse Beccle.

Outra aba presente na rede social é a de orações. Usuários podem criar e compartilhar orações, e as preces podem ser reunidas em grupos com temática específica. Existe, por exemplo, um grupo de orações para os ucranianos, atualmente em conflito geopolítico com a Rússia.

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A startup está testando modelos de monetização no momento, como uma assinatura paga para receber ainda mais conteúdo. “Eu não quero colocar uma barreira paga para todos os usuários, como se o relacionamento com Deus viesse em troca de um preço. Mas precisamos de uma estratégia comercial para continuar com a empresa e permitir que ainda mais pessoas acessem o aplicativo. Por enquanto, tivemos resultados fenomenais com monetização”, afirmou Beccle, sem entrar em mais detalhes sobre números financeiros do aplicativo.

Brasil: o maior mercado do Glorify

O Glorify foi criado em 2020. Em janeiro do ano seguinte, chegou ao seu maior mercado atualmente: o Brasil. “Milhões de brasileiros criam áudios que funcionam como preces no WhatsApp, como um desejo de que outra pessoa faça uma viagem segura. Construímos uma experiência similar no Glorify, mas acredito que ainda melhor. O usuário pode compartilhar essa prece publicamente e criar um sentimento ainda mais positivo”, disse Beccle.

O aplicativo tem cerca de 4 milhões de downloads, com 2,2 milhões vindos do Brasil. Os Estados Unidos completam boa parte dos downloads restantes, seguidos por uma participação mínima do Reino Unido. “Tudo começou quando eu visitei um amigo brasileiro no começo da pandemia, e conversamos sobre como seria legal trazer o Glorify ao país, depois de abrirmos a operação no Reino Unido e nos Estados Unidos. Eu queria construir um negócio global. Mas não esperava que iria acontecer tão rápido e que o Brasil seria uma parcela tão relevante. É uma grande prioridade agora”, acrescentou o empreendedor.

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Para Beccle, fundos como Andreessen Horowitz e SoftBank colocaram dinheiro na startup porque estão de olho em um “espaço com grande impacto”. “É um segmento em que se pode fazer o bem, mas igualmente ser um sucesso comercial. Os fundos veem nosso potencial, e que nós já estamos tornando o aplicativo em um tipo de rede social com mais profundidade, e com isso mais engajamento. Temos o potencial de virar um negócio com avaliação multibilionária nos próximos anos”, diz Beccle. O valuation da rodada atual não foi divulgado.

Segundo uma pesquisa do instituto Pew Research, o mundo tinha cerca de 2,2 bilhões de cristãos em 2015. Cerca de 180 milhões deles estavam no Brasil, posição superada apenas pelos cerca de 250 milhões de cristãos nos Estados Unidos. O Glorify espera alcançar cerca de 20 milhões de downloads até o final deste ano, metade deles apenas no Brasil.

O atual cheque de US$ 40 milhões será fundamental para alcançar o crescimento: a startup vai investir em contratação de novos funcionários, aquisição de usuários e melhoria do aplicativo.

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“Tivemos uma jornada de provar nosso produto até o momento, garantindo que as pessoas amem e continuem usando o aplicativo ao longo dos meses. Agora que atingimos nossas métricas de retenção, vamos partir para a viralização do aplicativo por meio de novos recursos. Por exemplo, queremos que usuários, inclusive celebridades, possam compartilhar sua prece no Glorify também no Instagram”, diz Beccle. Kris Jenner, Michael Bublé e Jason Derulo já devem estar na fila para compartilhar suas orações.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.