Presidente da Caixa: com banco fora das páginas policiais, foco está em IPOs, finanças e social

Fiel a Bolsonaro, Pedro Guimarães ganha status após pagamento do auxílio emergencial e mira em crédito agrícola e IPOs para alavancar números do banco

Michele Loureiro

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SÃO PAULO – “Hoje a Caixa Econômica Federal tem um tamanho que nunca teve, tem uma participação que nunca teve e uma reputação que nunca teve”, diz Pedro Guimarães, presidente do banco, durante uma entrevista para o podcast Do Zero ao Topo, produzido pelo Infomoney.

Presidente da instituição desde janeiro de 2019, ele se orgulha da trajetória no comando do maior banco do hemisfério sul e elenca seus principais feitos em dois anos e meio.

Guimarães é o convidado do episódio 98 do podcast, no qual compartilhou sua trajetória profissional e os aprendizados que vem tendo à frente da Caixa. O executivo também falou sobre os planos para o futuro da Caixa. É possível seguir o programa e escutar a entrevista completa via ApplePodcastsSpotifyDeezerSpreakerGoogle PodcastCastbox, Amazon Music e outros agregadores de áudio do país.

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“Sou o primeiro presidente da Caixa na última década que fica mais de 1 ano e meio neste cargo e precisei mudar muita coisa para isso. Assim que cheguei, troquei 105 dos 120 principais executivos da Caixa na primeira semana”, diz.

Pedro conta que se surpreendeu com a situação do banco ao assumir a cadeira principal a pedido do ministro Paulo Guedes e do presidente Jair Bolsonaro. O primeiro problema foi a questão dos balanços não auditados desde 2016 por conta de desvios anteriores. “Minha missão é tirar a Caixa das páginas policiais por conta de tantos roubos e colocá-la nas páginas de finanças e questões sociais”, afirma.

Para isso, ele conta que precisou mexer nas estruturas do banco. Até agora já foram vendidos R$ 110 bilhões em ativos não estratégicos e depois dos bons resultados em 2019 e 2020, foi retirada a ressalva no balanço que vigorava há três anos.

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Mudanças na folha de funcionários

Em sua jornada até aqui, Pedro já liderou mudanças importantes, a começar pela folha de funcionários. “Quando assumi não havia nenhuma mulher em cargo de alta liderança, hoje são 14 entre postos de vice-presidentes e diretoras. Também trouxe gente de todos os estados para Brasília. Precisamos de diversidade para entender as particularidades do Brasil”, diz.

Ele conta que também teve de lidar com a questão das pessoas com deficiência, que eram apenas 1,5% do quadro, quando a lei exige no mínimo 5%. A Caixa fez a maior contratação de pessoas com deficiência do país e incorporou 3 mil funcionários ao seu quadro para resolver a situação.

“Já em 2019, a Caixa Econômica Federal passou todas as estatais brasileiras e foi a terceira marca mais valiosa do Brasil, atrás de Bradesco e Itaú. Meus feedbacks apontam que agora estamos em uma posição ainda melhor”, afirma o executivo.

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A verdade é que o caminho foi longo até aqui. Em grande parte dos finais de semana, desde que assumiu a presidência, Pedro viaja com uma equipe para conhecer de perto a realidade da Caixa pelo país.

O programa Caixa Mais Brasil, criado depois de uma conversa com Bolsonaro, que pediu que o executivo conhecesse as necessidades reais da população, é o grande fio condutor da gestão de Guimarães.

“Vamos de voos comerciais para vários cantos do Brasil, partimos às quintas-feiras e voltamos aos domingos. Foram R$ 5 milhões de investimentos em melhorias, que já renderam uma economia estimada em R$ 2 bilhões”, afirma o presidente.

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Durante as mais de 100 visitas, ele conta que muitas irregularidades e oportunidades de mudanças começaram vir à tona. Uma questão importante, segundo ele, foi a dos prédios ocupados pela Caixa.

Só na Avenida Paulista, em São Paulo, eram nove empreendimentos e alguns sequer tinham documentação atualizada. Em Brasília, eram 16 edifícios. “Cada visita era um desespero. Apenas em uma revisão desativamos 70 prédios e tivemos mais de R$ 1 bilhão de redução de despesas”, afirma. “De quem eram esses prédios, porque o aluguel era tão alto, todo mundo sabia do que se tratava”, completa.

Ainda nessas viagens, Pedro aproveita para conhecer programas sociais patrocinados pela Caixa. “Alguns me deixaram de queixo caído, como a orquestra sinfônica de jovens carentes de Recife. Agora estamos patrocinando várias iniciativas nessa linha. Mudamos o foco do patrocínio do futebol profissional para atividades esportivas de base, culturais e ambientais. Conhecendo de perto, a gente replica o que é bom e cancela o que é ruim”, diz.

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Segundo o executivo, durante as visitas ele já se encontrou com cerca de 30 mil empregados, dos 84 mil que trabalham na Caixa, e já visitou mais de 400 agências e 200 correspondentes e lotéricos.

“Também descobri que a Caixa tem 8.500 correspondentes exclusivos que são responsáveis por 80% do crédito imobiliário e ninguém nem falava deles, mal sabia que existia. Hoje temos uma associação de correspondentes que ajuda a canalizar as demandas”, afirma.

Auxílio emergencial na vitrine

Para Pedro, carioca, nascido no bairro do Jardim Botânico, filho de uma artista plástica e de um nadador que foi técnico da seleção brasileira, um dos maiores desafios até agora foi a questão do auxílio emergencial.

“Eu sei o que é viver de cheque especial, o que é perder a casa e ficar sem nada porque meu pai teve aids no começo da década de 1990 e foi triste demais perder ele e tudo o que tínhamos”, afirma.

Por isso, quando a pandemia chegou de forma avassaladora e comprometeu as finanças de milhões de brasileiros, Pedro conta que viveu momentos traumáticos.

A parte digital era um problema evidente da Caixa, que foi escancarado com a necessidade de pagar o auxílio emergencial para milhões de pessoas. “Imagina que o Caixa Tem, nossa plataforma online, tinha 30 mil usuários e de repente teve 50 milhões de adesões em vinte dias”, diz.

A instabilidade do sistema e a dúvida sobre como achar os brasileiros considerados invisíveis foram os grandes desafios. Em suma, o aplicativo teve 109 milhões de inscritos, dos quais 68 milhões foram aprovados.

“Foi um esforço coletivo muito grande. Os funcionários trabalhavam de forma exaustiva. Nós íamos aprovando 8 milhões de pagamentos por vez, mas cerca de 40 milhões de pessoas iam às agências saber quando receberiam ou porque o processo havia sido negado. Era um cenário traumático de muitas pessoas nas filas em plena pandemia”, lembra.

O executivo conta que a situação melhorou com a equipe indo a campo em busca de soluções simples que pudessem ajudar no processo. Uma delas foi a adoção de um carimbo para conclusão do processo.

“No começo a gente pedia para a pessoa escrever o nome e muitos tinham dificuldade, o que atrasava muito os atendimentos. Depois do carimbo por conferência de dados, o tempo médio caiu de 5 minutos para cerca de 20 segundos e isso ajudou demais a reduzir as filas”, conta Pedro.

Outra ação para amenizar as filas foi tomada após o pagamento da primeira parcela. A partir daí, os clientes passaram a receber de acordo com o mês de aniversário, o que ajudou a reduzir as aglomerações.

“Depois de um período difícil, o Caixa Tem se estabilizado e ficou claro para a sociedade que estava tudo sob controle. Nós somos um banco de inclusão, bancarizamos mais de 38 milhões de pessoas e pagamos benefícios sociais a mais de 121 milhões durante 2020”, diz o presidente, que ressalta o esforço de cada um dos 84 mil colaboradores do banco para isso.

O que vem pela frente?

Pedro se diz 100% fiel ao presidente Jair Bolsonaro, de quem garante não receber nenhum tipo de interferência. “Nunca conversei sobre a parte operacional da Caixa com ele. Falamos sobre matemática e tenho carta branca para comandar a empresa”, diz.

O executivo afirma que até dezembro de 2022, quando termina o mandato atual do presidente, estará à disposição no cargo. “É claro que eu torço para que ele continue e eu também, mas não tem como prever”.

Enquanto isso, Pedro prepara os próximos passos da Caixa e tem questões como crédito agrícola e IPOs na lista de afazeres principais.

O executivo não esconde os planos de transformar a instituição no “banco do agro” e se tornar referência em programas de crédito para os produtores rurais. Mas ele assume que há dificuldades no caminho.

“A Caixa quer fazer parte do crédito agrícola e pela primeira vez estamos no Plano Safra, mas há muita coisa empírica. Por exemplo, existe um fundo no Centro-Oeste que apenas o Banco do Brasil pode participar e eu também quero fazer parte”, diz.

O fundo a que o executivo se refere é o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). O BB tem monopólio do instrumento. Para uma mudança, Guimarães precisaria de uma alteração do Congresso. “Se pudermos fazer parte do FCO, que pra mim não tem explicação não poder fazer parte, vamos disputar a liderança no crédito agro”, afirmou.

Independente disso, Guimarães diz que a Caixa se prepara para financiar crédito para armazenagem, silo, irrigação e Pronaf. “A gente [Caixa] tinha R$ 2 bilhões [de crédito] antes de eu assumir, vai passar para R$ 35 bilhões nos próximos 12 meses. E eu estimo que atinjamos R$ 100 bilhões até 2024”.

Sobre a possibilidade de IPO da Caixa, o presidente é contundente: “O que eu tenho de autorização do ministro é fazer a abertura de capital de todas as subsidiárias. A discussão da abertura de capital da Caixa não é uma discussão colocada agora”.

Após o IPO da Caixa Seguridade, que movimentou R$ 5 bilhões em abril, o próximo ativo da lista é a Caixa Asset. “Falta apenas uma autorização do Banco Central que deve vir nas próximas semanas”, diz.

Na sequência está prevista a abertura de capital da Elo, o principal ativo da caixa cartões, do qual a Caixa detém 33% de participação. “Recentemente anunciamos a maquininha própria da Caixa e estamos amadurecendo esse mercado. Ao invés de fazer o IPO da Caixa Cartões, colocamos a Elo, da qual possuímos 100%, abaixo da estrutura e vamos por esse caminho“, explica o executivo.

Com isso, há três empresas separadas, com balanços individuais e que podem ser promissoras no curto prazo. São elas: Caixa Seguridade, Caixa Asset e Caixa Cartões.

Também existe expectativa sobre o IPO do banco digital da Caixa, que é acessado por meio do app Caixa Tem, mas o executivo ainda não falou sobre a prioridade dessa oferta pública inicial de ações.

E por último, ao menos por enquanto, a Caixa Loterias está fora da lista. Ele explica que há questões pendentes. “Não há tranquilidade jurídica para vender a operação. Se não for 100% pública, pode provocar discussões. Então, ela não está incluída na estratégia neste momento”, finaliza.

Michele Loureiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney