Vendidos correm para Petrobras ON e aluguel bate máxima histórica

Aluguéis de PETR3 já chegam a 9,6% do free float, mas será mesmo que estamos vendo crescer um pessimismo com a petroleira pós-rali?

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Com uma dívida líquida que já é maior que a sua receita, diante de um enorme escândalo de corrupção e em meio a reclamações dos seus acionistas minoritários por conta de uma excessiva intervenção do Estado, as desconfianças a respeito da Petrobras (PETR3; PETR4) aumentaram muito desde 2014. No entanto, a gestão mudou, novas notícias surgiram, o balanço do ano passado foi divulgado e as suas ações ordinárias já sobem 62% desde 13 de março. Uma mudança radical de figura, não? Então porque a posição vendida aumentou?

Ao mesmo tempo em que os papéis ON da petroleira (aqueles que dão direito a voto) se recuperavam na Bolsa, o aluguel deles também crescia expressivamente. Para operar na venda, o investidor precisa primeiramente alugar o papel para, posteriormente, vendê-lo na Bolsa. 

No início do rali no dia 13 do mês passado, 248,324 milhões de ações que fazem parte do free float (ações em circulação no mercado) estavam alugadas, número que subiu para 281,835 milhões no fechamento do último pregão – o maior patamar da história -, configurando uma alta de 13,49% na posição vendida nestes papéis ao mesmo tempo em que eles disparavam na BM&FBovespa. O montante de papéis emprestados já corresponde a 9,6% do free float (ações em circulação no mercado). 

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Para se ter uma noção, em 20 de outubro do ano passado, entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais, apenas 20,641 milhões de ações da Petrobras estavam alugadas. A taxa cobrada pelo aluguel também era bem mais baixa do que hoje, operando em torno de 0,29% ao ano em relação ao preço da operação (valor de cada ação vezes o número de ações). Atualmente, para alugar uma PETR3, você terá que desembolsar nada menos do que 2% de taxa a.a., ou seja, quase dez vezes mais. 

O que ocorreu para essa disparada no aluguel?
Mais interessante que essa evolução é notar que boa parte dessa alta ocorreu apenas nos últimos quatro pregões – posterior à divulgação do balanço (alta de 7,7% no aluguel) e quando os papéis ordinários e preferenciais da estatal começaram a se descolar. Ontem, o prêmio das ordinárias contra as preferenciais bateu 1,16 – o maior desde 2012.

Segundo a XP Investimentos, o que ocorreu para ter aumentado essa diferença foram os investidores institucionais estrangeiros migrando para as ações ONs devido a maior liquidez das ADRs (American Depositary Receipts). Nos Estados Unidos, elas têm mais liquidez do que as preferenciais. Outra questão é que a grande vantagem de se ter uma ação preferencial é justamente ter preferência quando da distribuição de dividendos. Só que com um prejuízo de R$ 21 bilhões em 2014, é difícil que a estatal vá oferecer algum prêmio aos seus acionistas este ano.

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Aproveitando esse movimento muitos investidores aproveitaram para realizar uma operação no mercado conhecida como “Long & Short” (quando o investidor opera comprado em uma ponta e vendido em outra). Com o descolamento, o mercado estima que com o tempo os papéis ajustarão essa diferença, de modo que eles vendem a que está mais cara e compram a que está mais barata. Guilherme Belloni, da mesa de BTC da XP Investimentos confirma: “Temos visto muitos clientes fazendo operação long & short com PETR3 x PETR4, ou seja, compra a PETR4 e venda PETR3″. 

A teoria parece fazer sentido ao olharmos os aluguéis nas preferenciais. Estes fecharam o último pregão em 164,186 milhões. Bem menos que as ordinárias e representando até mesmo uma queda em comparação com o início do rali no dia 13 de março, quando o número estava em 213,202 milhões. 

As expectativas em geral, são de que o spread realmente se feche em breve. O analista da WinTrade, Bruno Gonçalves explica que a confirmação de que a empresa não pagará dividendos realmente abriu muito a diferença entre os papéis, mas isso não faz tanto sentido no longo prazo. “Ela deve sofrer questionamentos por conta da política diferenciada para os preferencialistas, então a gente acredita que a empresa poderia fazer alguma provisão”. Com isso, Gonçalves vê as ações novamente andando na paridade de preços daqui a pouco tempo. 

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A moral da história é que o rali pode até não ter acabado e as ações da Petrobras podem realmente ter engatado uma tendência de alta consistente no longo prazo, mas neste momento, os analistas veem as ações preferenciais com um potencial melhor do que as ordinárias nas próximas sessões.