40% num mês, 29% no seguinte, -15% no outro: o hedge que aumentou o retorno (e a volatilidade) do fundo Versa

Posição vendida no S&P 500, um dos principais índices do mercado americano, ajudou a compensar perdas com ações brasileiras

Bruna Furlani

(Getty Images)
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Quem acompanha os fundos de ações brasileiros deve ter se surpreendido ao observar os resultados do Versa Long Biased, da Versa Asset, nos últimos meses. A carteira teve ganhos de nada menos do que 40% em agosto e de mais 29% em setembro. Em outubro, por outro lado, o fundo registra perdas de 15%, até a última quinta-feira (27).

O que explica uma variação tão grande de resultados de um mês para o outro? A resposta está em um hedge, ou seja, uma posição focada proteger a carteira.

Em entrevista ao InfoMoney, Luiz Alves, gestor da Versa Asset, afirma que um investimento que se beneficia da queda do S&P 500 – um dos principais índices da Bolsa americana – foi o que garantiu bons frutos, ao mesmo tempo em que agregou volatilidade à carteira.

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“No começo do ano, o S&P subiu mais, enquanto a nossa carteira caiu, já que a gente estava comprado em Bolsa brasileira, com alguma alocação no mercado interno”, explica Alves. “O que aconteceu nos últimos dois meses é que a confirmação do fim do ciclo de aperto monetário fez as ações do mercado interno brasileiro andarem – e lá fora, o S&P desabou”.

Na virada de setembro para outubro, parte do hedge foi desfeita, conta Alves – e daí decorreram os resultados negativos deste mês. No ano, o Versa acumula ganhos de 8,9%, contra 9,4% do Ibovespa.

Embora tenha feito poucas alterações na carteira, o gestor afirma que tem ido às compras, de olho em oportunidades que surgiram em alguns papéis ligados a bancos e a commodities, caso da Gerdau (GGBR4). “Acompanhamos de perto o preço do aço. Percebemos que houve uma correção e que agora o preço estabilizou”, observa.

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Mesmo com boa parte da carteira comprada em ações ligadas ao varejo, Alves diz que optou por nem “encostar” nos papéis recentemente, porque o cenário segue delicado com expectativa de que os balanços venham fracos no terceiro trimestre.

Ao comentar sobre o cenário eleitoral, Alves é enfático: uma eventual repercussão negativa de agentes financeiros vai depender do tipo de contestação que o perdedor fizer, se irá envolver alguma crise institucional ou não. “Se for algo estilo Aécio Neves e Dilma Rousseff, em que houve o pedido recontagem de votos [na eleiçao de 2014], acredito que não há grande impacto”, afirma. “O grande risco é haver algo maior envolvendo militares. Mas seria um evento de cauda, justamente por ser de ‘baixíssima’ probabilidade”.

Luiz Alves, gestor da Versa Asset (Divulgação)
Luiz Alves, gestor da Versa Asset (Divulgação)

Confira os principais trechos da entrevista a seguir:

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InfoMoney: O fundo teve resultados negativos mais fortes entre abril e julho deste ano. Mas nos últimos dois meses, a performance foi bem maior do que a média da indústria. O que garantiu esse retorno? 

Luiz Alves: A gente não mudou nada, as posições é que mudaram de direção. Desde dezembro, o que fizemos foi montar uma posição na Bolsa americana, com uma alocação vendida em S&P 500 [apostando na queda do índice]. Era uma proteção.

Identificamos um processo inflacionário nos Estados Unidos e a necessidade de alta de juros por lá. Vimos também uma divergência grande entre o resultado da Bolsa aqui e lá fora. Os Estados Unidos começaram a acelerar a alta de juros e percebemos que a Bolsa americana tinha mais chance de cair do que a nossa, porque estávamos mais adiantados no aperto monetário.

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Agora, montar a proteção gerou uma grande volatilidade no portfólio.

IM: Por quê?

Alves: No começo do ano, o S&P subiu mais, enquanto a nossa carteira caiu, já que a gente estava comprado em Bolsa brasileira, com alguma alocação no mercado interno. O que aconteceu nos últimos dois meses é que a confirmação do fim do ciclo de aperto monetário fez as ações do mercado interno brasileiro andarem – e lá fora, o S&P desabou.

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Então, tivemos um resultado positivo nas duas pontas. O hedge gerou um super ganho e a posição em ações no mercado interno conseguiu recuperar um pouco das perdas. A alocação em Bolsa brasileira continua ruim, mas o hedge tem ajudado.

IM: Como estão hoje?

Alves: Tendo em vista a queda acentuada que a Bolsa americana teve, a gente recolheu um bom pedaço dessa proteção, que é a posição vendida em S&P 500. Tirando os ganhos que tivemos com Petrobras neste ano, o hedge é o que está dando o maior resultado positivo. Se tirar o hedge, o fundo está caindo.

IM: Como está vendo os balanços americanos? 

Alves: A queda vista até agora na bolsa americana foi por redução de múltiplo. Uma boa parte da razão para cair já foi, o que já deixa a bolsa americana menos assimétrica para baixo. Agora, o jogo vai ser a briga entre o resultado positivo oriundo da inflação e o resultado negativo também oriundo da inflação.

Isso porque a inflação ajuda no preço, mas atrapalha o volume. A empresa vende mais caro, mas vende menos. Vamos ter que olhar o efeito da inflação e o que estão falando em termos de perspectivas. O que vimos até agora é que os resultados correntes estão melhores, mas as perspectivas estão piores.

IM: Que riscos que vê no radar? 

Alves: O primeiro risco é uma escalada da guerra [entre Rússia e Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022], que não ninguém pode tirar do radar. O segundo risco é a continuidade do processo inflacionário.

Hoje, a curva americana [de juros] precifica que a taxa pode ir a 5% ao ano, mas se ela for a 9%, a gente vai falar de queda de múltiplo e de lucro para abaixo da média histórica. A nossa estratégia agora é ficar numa posição que nos dê conforto para continuar, mas não vemos razões fundamentais para sair da proteção.

IM: O que faria a casa voltar a aumentar o hedge? 

Alves: Acredito que só se o S&P 500 voltar para os 4.400 pontos sem nenhuma notícia nova. A gente ficou de dezembro até agora sem diminuir a posição. Alteramos apenas em outubro. A partir do momento que reduzir, será difícil voltar a aumentar. Se rolar um rali sem explicação, juntamente com dados de inflação forte, a gente pode voltar a aumentar a posição.

IM: Agora falando sobre o Brasil, tem pensado em aumentar exposição em alguma ação?

Alves: A única posição que adicionamos recentemente foi bancos. Colocamos um pouquinho. É um setor que está chegando num momento de melhora, a gente está perto do teto da inadimplência e a taxa Selic alta ajuda os bancos a aumentar a carteira. Temos ações de BR Partners e Bradesco, em que há uma expectativa de melhora na parte da seguradora.

Além disso, voltamos a encostar em commodities depois de ficar bem fora do setor. Temos olhado mais ações de siderurgia. É importante dizer todas são mudanças marginais.

IM: Qual é a tese por trás do aumento da posição em commodities? 

Alves: Acompanhamos de perto o preço do aço. Percebemos que houve uma correção e que agora o preço estabilizou. Quando olhamos o resultado das empresas, o balanço deve apresentar um número pior na margem, mas a partir do próximo trimestre o preço deve melhorar por causa da estabilização do preço.

Também vemos que o preço do mercado interno está com desconto em relação ao mercado externo, o que impulsiona as siderúrgicas a começar a falar em aumento de preço aqui dentro. Quando olhamos a combinação de preço com a geração de caixa das empresas, o setor de siderurgia é o que mais nos chama a atenção, especialmente a Gerdau.

Leia mais:
Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3): siderúrgicas devem ter resultados fracos no 3º tri, com queda de volume e margens

IM: Por que a Gerdau?

Alves: É uma empresa que tem uma geração de caixa absurda. O único ponto é que ela tem uma exposição aos Estados Unidos, o que gera certo risco porque o mercado imobiliário está desacelerando. Ainda assim, na nossa avaliação, a posição compensa. Mas a alocação segue marginal.

IM: Quais são os fatores que pesam mais na conta para acreditar que o preço do aço vai se estabilizar? 

Alves: A principal razão é que, se o preço do aço for mais para baixo, a margem da siderúrgica na China fica negativa e o País é o grande “cara” do mercado de aço. Isso deve ser o maior suporte para o preço do aço, mas não há como prever. Observamos, fazemos a conta e acreditamos que há margem de segurança para alocar.

IM: Um dos setores a que fundo estava mais estava exposto era varejo. Isso se manteve? 

Alves: Não estamos encostando nos papéis de varejo, mas continua a ser a posição setorial mais dominante. Estamos evitando mexer porque entendemos que os resultados virão um pouco mais fracos na margem. Todos os analistas estão apontando uma desaceleração no terceiro trimestre e ainda tem a questão do clima. Fez muito frio e as empresas já tinham rodado uma coleção mais quente. Tem ainda a Copa do Mundo que nunca sabemos como ela vai afetar o varejo. As pessoas podem diminuir a ida ao shopping.

IM: O que deve seguir impulsionando os papéis do varejo? 

Alves: São duas coisas: a recuperação do emprego e a queda da inflação. Um relatório do JP Morgan divulgado tempos atrás tentou entender qual era o indicador que tinha maior correlação com as vendas no varejo e a análise descobriu que era a massa salarial real, que seria a população empregada multiplicada pelo salário descontada a inflação. O aumento da população empregada e a queda da inflação estão fazendo com que a massa salarial real suba. Ela estava caindo e agora ela está levemente positiva ano contra ano. Isso deve ser o grande driver [impulso] do varejo.

Há também as derivadas. No varejo de linha branca, por exemplo, há uma dependência forte de crédito, ou seja, do patamar da Selic. A nossa carteira, porém, é formada por varejistas que não dependem muito de crédito. Temos o Grupo Soma, Vivara e Guararapes. Essa última até é um pouco mais dependente de crédito, mas está ligada ao varejo mais de vestuário e que possui margem mais alta e ciclo de parcelamento menor.

IM: Se fosse para escolher um papel ligado ao varejo que tem chance de subir, qual destacaria?

Alves: Acredito que a empresa que está melhor do ponto de vista operacional é o Grupo Soma. Esse é o nosso maior investimento aqui na casa. Acredito que há muitas avenidas de crescimento na empresa. Ela vende mais para média e alta renda e está para fazer uma expansão internacional, o que pode ser bastante positivo para o negócio.

Outro destaque é a Vivara. A companhia tem potencial para abrir mais lojas da Life [marca de acessórios de prata da companhia] porque o tíquete da empresa é mais baixo. Essas são as posições em que temos mais conforto na parte operacional hoje.

IM: A Petrobras estava na carteira até pouco tempo atrás. A posição foi reduzida? 

Alves: Saímos dela em agosto. A principal explicação está ligada ao fundamento, e não ao cenário eleitoral. O que pesou mais foi a revertida que o petróleo deu. A commodity estava em US$ 111 em julho e caiu para US$ 96 em agosto. Nesse tempo, o preço da ação da Petrobras continuou subindo. Ela estava muito barata com o petróleo a US$ 110, e com o petróleo a US$ 90, ela ficou apenas barata.

Temos ainda a incerteza eleitoral que faz com que a gente exija um desconto maior no papel, apesar de eu achar que o desconto não estava pequeno.

IM: Há chance de voltar a se posicionar no papel após o desfecho das eleições? 

Alves: Por ora, a gente prefere ir comprando aos poucos Gerdau e olhar outras ações lá fora do setor de siderurgia. Vamos ter que ver o que acontece [depois das eleições].

IM: Sobre as eleições, parte dos agentes financeiros está apreensiva com uma possível contestação do resultado eleitoral. Se isso ocorrer, como fica o mercado? 

Alves: Uma repercussão negativa do mercado vai depender se houver uma contestação com alguma crise institucional ou não. Se for algo estilo Aécio Neves e Dilma Rousseff em que houve o pedido de recontagem de votos, acredito que não haverá grande impacto. Houve até a invasão ao Capitólio [nos Estados Unidos em janeiro de 2021] e o S&P 500 subiu, por exemplo.

O grande risco é haver algo maior envolvendo militares. Seria um evento de cauda justamente por ser de baixíssima probabilidade. Em um evento como esse, o mercado reagiria mal. Acredito que teríamos um sell-off [venda generalizada] na Bolsa, além do que juros e dólar subiriam. O terceiro turno que todo mundo espera com uma contestação ordenada não muda nada.

IM: Qual é o cenário-base da casa? Vê chance de ocorrer um terceiro turno?

Alves: Acredito que a probabilidade de um terceiro turno estilo Dilma e Aécio chega a 100%, com contestação e recontagem [de votos]. Agora, de um terceiro turno caótico, com violência e envolvimento de militares, acredito que a probabilidade é quase nula. Por isso, penso que seria um cenário de cauda, um cisne negro.