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A alta de mais de 3% do Ibovespa em julho e a perspectiva de início do ciclo de corte de juros turbinaram os ganhos de fundos multimercados com grande alocação em renda variável. Foi o caso do Logos Total Return, que terminou o mês com retorno de mais de 23%, bem superior ao 1,07% do CDI (taxa de referência da classe) no período.
O fundo ficou no topo entre os fundos multimercados com melhor desempenho em julho. Para o levantamento, o InfoMoney extraiu dados da plataforma Economatica no dia 9.
Foram considerados veículos não exclusivos, com gestão ativa, patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas no fim do mês. Fundos de crédito privado ficaram de fora.
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Confira abaixo a lista dos fundos multimercados mais rentáveis em julho:
Fundos mais rentáveis em julho | Retorno no mês (%) |
Logos Total Return FICFI Mult | 23,27 |
Brad Fc FI Mult Franklin Wel Tech LS Ie | 5,64 |
Whg Global Long Biased Brl Fc Mult Ie | 5,26 |
ARX Extra Fc FI Mult | 4,89 |
Moat Capital Long Bias Fc FI Mult | 4,65 |
Fonte: Economatica
Posições em Hidrovias do Brasil (HBSA3) e Cosan (CSAN3), que viram os preços saltarem 25% e 12% no mês passado, respectivamente, ajudaram a impulsionar os ganhos do Logos Total Return. O resultado de julho foi o seu melhor no ano.
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Luiz Henrique Guerra, CIO da Logos Capital, explica que ações da Hidrovias do Brasil subiram cerca de 75% no ano até a última sexta-feira (11). A empresa, segundo ele, é beneficiária natural da superssafra que o País deve ter, diante de uma série de desafios de escoamento da produção.
A aposta é alta. Nos cálculos do executivo, a expectativa é de que a companhia devolva de 35% a 40% da rentabilidade de geração de caixa nos próximos dois a três anos.
Já a Cosan, outro investimento do fundo da Logos, está bem posicionada no setor de logística, agricultura e também com minério de ferro, devido à participação que detém na Vale (VALE3), diz Guerra.
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Apesar do bom desempenho, a gestora conta que fez mudanças de posição recentemente, diminuindo Gerdau (GGBR4), por exemplo. Foi uma redução tática, para que o fundo pudesse participar da privatização da Copel agora em agosto – após a Gerdau ter registrado uma alta forte puxada pelo aumento da geração de caixa e por múltiplos atrativos, como explica Guerra.
A diminuição também tem a ver com preocupações com relação à China, que deve passar a desenvolver mais o consumo no País depois de ter investido por anos nos setores imobiliário e de infraestrutura, que demandam aço.
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O avanço da reforma tributária também provocou alterações nas alocações da gestora. Guerra conta que a casa deixou de lado setores como bancos e empresas de telecomunicações.
“Olhando o resultado de Bradesco e Santander, o fim do JCP [Juros sobre Capital Próprio] precisa ser visto com cuidado porque afeta a rentabilidade dos bancos”, pondera o gestor.
Embora esteja preocupado com a extinção do provento, o gestor argumenta que o fim dele não ocorrer sozinho. “Será preciso ter compensação. Não dá para simplesmente cortar”, destaca.
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Posições no exterior
Alguns multimercados também tiveram o resultado impulsionado por posições no exterior, caso do WHG Global Long Biased BRL, que avançou 5,26% em julho. Gustavo Campanha, sócio e gestor de ações da WHG, explica que o portfólio foi beneficiado por ações de valor dos Estados Unidos, como Morgan Stanley (MSBR34).
Campanha afirma que os papéis do banco apresentaram um bom resultado em julho – depois de um balanço acima do esperado e diante da perspectiva de recuperação do setor após o estresse bancário visto em março.
Outro papel de destaque foi o da Union Pacific (UPAC34), companhia americana do setor de transporte, que se beneficiou com a sinalização de melhoria das taxas para fretes e com a nomeação de um CEO bastante respeitado no setor por ter entregue números fortes e melhorias operacionais em outras empresas.
Ações de tecnologia chinesas, como a Li Auto Inc, focada em carros elétricos, e Pdd Holding (Pinduoduo), de comércio digital, também garantiram bons retornos ao fundo da WHG.
Ponto de virada nos multimercados macro
O mês também foi marcado por uma virada nos fundos multimercados do tipo macro, que possuem flexibilidade para alocar em Bolsa, câmbio e juros.
Em julho, os fundos desse tipo voltaram a apresentar retornos acima do CDI após terem um registrado um primeiro semestre de rentabilidade abaixo da taxa de referência da classe.
O retorno médio de multimercados do tipo macro chegou a 1,37% em julho, conforme a Anbima. Veja o desempenho mês a mês na tabela abaixo:
Mês | Retorno do CDI (%) | Retorno médio mensal dos multimercados macro (%) |
Janeiro/23 | 1,12 | 0,96 |
Fevereiro/23 | 0,92 | 0,19 |
Março/23 | 1,17 | 0,34 |
Abril/23 | 0,92 | 0,46 |
Maio/23 | 1,12 | 0,85 |
Junho/23 | 1,07 | 0,95 |
Julho/23 | 1,07 | 1,37 |
Um dos multimercados macro de destaque foi o Kapitalo K10, que subiu 3,90%, realizando algumas alterações na carteira no mês passado.
Em moedas, a casa zerou uma posição vendida (que se beneficia da desvalorização) em peso colombiano e adicionou uma alocação comprada (que aposta na apreciação) em peso mexicano contra o dólar, conforme carta enviada aos cotistas.
A Kapitalo informou ainda que montou uma posição tomada (que aposta na alta) em juros no Japão e na parte curta das curvas de juros americana, europeia e australiana. Também houve a adição de uma alocação aplicada (que se beneficia da queda) em juros mexicanos.
Houve alterações ainda na alocação em commodities, com a montagem de uma exposição vendida em milho e minério de ferro, além de metais do grupo da platina (PGMs).
Alocações compradas na Bolsa brasileira e vendidas na alemã e no índice de small caps (ações de menor valor de mercado) americano foram mantidas em julho e trouxeram bons retornos para o K10, segundo a carta.
Bolsa brasileira
Posições compradas em Ibovespa também impulsionaram os ganhos do XP Macro Plus. O fundo obteve retornos acima do CDI pelo segundo mês consecutivo, com ganhos de 2,09% e de 2,49% em junho e julho, respectivamente.
Embora a alocação no mercado local de ações seja relevante, a maior posição do fundo é em juros reais, de olho em possíveis mudanças no Banco Central – com a saída de alguns diretores no fim do ano e com o término do mandato do presidente Roberto Campos Neto em 2024, explica Bruno Marques, gestor de fundos multimercados macro da XP.
“Vai ser um BC mais tomador de risco. Talvez demore a subir [mais os juros], se precisar. Também pode testar um nível de juro real mais baixo”, avalia o gestor.
Já no exterior, Marques explica que a casa está hoje com uma posição mais otimista no peso mexicano na comparação com o dólar.
O executivo pondera que o México deve demorar mais para iniciar o processo de flexibilização monetária, porque a atividade econômica está muito forte – diante do fenômeno de nearshoring, em que empresas buscam trazer a produção para mais perto dos mercados onde os produtos são vendidos.
Depois de deter uma posição maior em Estados Unidos no primeiro semestre, Marques destaca que o fundo não possui mais uma grande alocação no país.
A justificativa, diz o gestor, é que falta clareza sobre o que deve ocorrer nos próximos meses – se haverá uma crise como a de 2008 após o Federal Reserve (Fed, banco central americano) ter encerrado um ciclo de alta de juros em 2006, ou se a transferência de dinheiro para as famílias durante a pandemia poderá equilibrar oferta e demanda daqui para frente, sem maiores efeitos na economia americana.