Ações “atrapalham” rendimento dos fundos de pensão brasileiros

Ajustes na gestão dos ativos é um dos caminhos apontados para equiparar desempenho

Lys Silva

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SÃO PAULO – Um estudo comparativo entre fundos de pensão brasileiros e internacionais feito pela consultoria alemã Roland Berger aponta que os fundos nacionais tiveram, nos últimos cinco anos, rentabilidade real média de 3,2%, abaixo da meta atuarial média de 5,8%. De acordo com a consultoria, o desemprenho apresentado ocorreu por conta do rendimento abaixo do esperado das aplicações de renda variável, ativos que compõe boa parte das carteiras dos fundos pesquisados.

Enquanto isso, os fundos internacionais analisados, como o canadense CPPIB, o norueguês GPFG e o japonês GPIF, tiveram rentabilidade média real de 8,1%. O resultado acima da meta atuarial ocorreu, principalmente, por conta da diversificação de seus ativos.

Enquanto nos fundos brasileiros o investimento em renda variável é concentrado em ações de poucas empresas, nos internacionais a participação dos papéis de cada companhia na carteira é de 2% ou 3%. “Além de a concentração ser menor nos fundos internacionais, a seleção criteriosa de papéis com boas perspectivas de longo prazo contribuiu para reduzir riscos e ampliar ganhos”, destaca Mauro Toledo, consultor sênior da Roland Berger e especialista em governança corporativa.

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O fundo Petros, dos funcionários da Petrobras, por exemplo, concentra 37% da carteira de renda variável em ações de uma única companhia brasileira. Além disso, 47% da carteira de ações do fundo está em empresas de alimentos e outros 21% em papéis do setor financeiro, segundo a consultoria.

Além da maior diversificação, o desempenho dos fundos estrangeiros foi beneficiado pela valorização das bolsas internacionais, especialmente das bolsas americanas. Isso porque, diz o estudo, eles alocaram um percentual médio de 15% da carteira em papéis e títulos fora de seu país de origem.

Já entre os brasileiros, os ativos internacionais totalizaram em média 3%, embora sejam autorizados por lei a investir até 10% de seus recursos no exterior. “Existe, portanto, campo para diversificar os ativos dos fundos nacionais, inclusive geograficamente, para aprimorar a gestão de risco e a rentabilidade, embora a questão de risco de câmbio tenha que ser bem gerenciada, especialmente com a desvalorização do real”, afirma Antônio Bernardo, diretor-presidente da Roland Berger Brasil.

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O estudo da consultoria afirma ainda que a equiparação em desempenho dos fundos nacionais com os estrangeiros depende do aprimoramento da gestão e da governança.  Para o diretor-presidente, as principais oportunidades estão no desenho da missão, objetivos e estratégias de médio e de longo prazo dentro dos fundos.

Atualmente, os fundos brasileiros gerem ativos equivalentes a 12% do PIB. Nos Estados Unidos, esse percentual chega a 127%. Fica então, segundo o estudo, o potencial para que os fundos ampliem sua participação na economia.