“Ainda é difícil BC alterar plano por causa do Fed”, diz Opportunity, que se posiciona para EUA mais negativo

Gestor Marcos Mollica explica pessimismo com Bolsa americana e conta como casa enxerga impacto no Brasil

Bruna Furlani

Marcos Mollica, gestor do Opportunity Total. Crédito: Divulgação
Marcos Mollica, gestor do Opportunity Total. Crédito: Divulgação

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O receio em torno da elevação das taxas de juros longas nos Estados Unidos não ficou restrito a investidores na sessão desta terça-feira (26), como também voltou a ser citado por bancos centrais como fonte de preocupação no cenário.

Em ata publicada hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central destacou que a alta das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, assim como o menor crescimento da China, têm exigido maior atenção por parte de países emergentes.

“Acho que foi descritivo que está entrando como uma preocupação para o Copom”, avalia Marcos Mollica, gestor do fundo Opportunity Total, em entrevista ao InfoMoney logo após a divulgação do documento.

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Embora a postura adotada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) na decisão da última quarta-feira (20) tenha aumentado a aversão a risco, o gestor avalia que “ainda é difícil o BC alterar o plano de voo por causa da autoridade monetária americana”.

Mollica defende que para modificar o cenário do Banco Central seria preciso que o Fed elevasse os juros para um patamar muito além do que o mercado espera, o que geraria uma pressão no dólar e poderia modificar as expectativas, o que ele não vê como cenário-base.

A Opportunity manteve a visão mais negativa com os Estados Unidos, de forma tática. Segundo Mollica, a casa está com uma posição tomada em juros (que se beneficia da alta) na parte mais longa da curva americana.

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Da mesma forma, há um pessimismo maior com os mercados acionários, por meio de uma exposição marginalmente vendida (que se beneficia da desvalorização) nas Bolsas americanas e europeias.

“O foco do furacão está na Europa e nos Estados Unidos. O aumento da taxa de juros longas junto com o choque do petróleo afetam o mercado que já está com os preços muito esticados”, pondera o executivo.

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Pico de juros nos EUA está próximo?

De acordo com o CME Group, agentes financeiros colocam uma probabilidade de 75% de que o Fed mantenha a taxa de juros entre 5,25% e 5,50% ao ano na reunião de novembro.

Já na reunião do fim do ano, não há um consenso: a probabilidade de manutenção está em 59%, enquanto a chance de um aumento de 0,25 ponto percentual está em 35%.

Assim como a maioria dos agentes, o gestor acredita que o Fed está próximo do pico – embora as projeções que acompanharam a decisão da última quarta-feira (20) tenham apontado que os dirigentes do Fed veem chance de os juros chegarem ao patamar entre 5,5% e 5,75% até o fim do ano.

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Na avaliação de Mollica, o avanço das taxas longas americanas é reflexo da visão de que o juro nos Estados Unidos ficará mais alto por um período mais longo e da maior incerteza em torno dos ativos americanos, o que aumenta o prêmio para investir em ativos de prazo maior.

Por volta das 10h40 desta terça-feira (26), os rendimentos oferecidos pelos títulos do Tesouro americano (Treasuries) de dez anos estavam em 4,527%, patamar um pouco abaixo dos 4,546% vistos na véspera quando o retorno do papel voltou para a máxima desde 2007.

BC reforça ritmo de queda

Do lado doméstico, a avaliação de Mollica é que o BC trouxe uma discussão mais “equilibrada” dentro da ata divulgada hoje. De um lado, o gestor diz que a autoridade monetária reconheceu a melhora do quadro inflacionário, com destaque para a desaceleração de serviços.

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Por outro lado, o executivo destaca que a ata trouxe uma discussão intensa sobre a atividade econômica. “A impressão é que a atividade está evoluindo de forma mais forte do que era esperado e que o hiato [medida de ociosidade da economia] estaria mais apertado. Isso gera dúvida sobre a continuidade de melhora da inflação”, diz.

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A resiliência da atividade é um dos pontos que têm trazido dúvidas para o BC. Por isso, Mollica pondera que a autoridade monetária tem adotado uma postura mais cautelosa e optado por começar o ciclo de afrouxamento monetário com cortes de 0,50 ponto.

“Eu estava no campo de que seria possível acelerar, mas a ata joga um pouco contra essa tese de aceleração”, observa o gestor. No documento, o BC voltou a dizer que prevê a manutenção do ritmo de cortes em 0,50 ponto nas próximas reuniões – ressaltando novamente o uso do plural.

Para acelerar o ritmo, o profissional avalia que seria preciso ver um enfraquecimento da atividade e uma desaceleração ainda mais expressiva da inflação, já que “não há espaço para a melhora da expectativa de inflação”.

Mollica destaca que, para que as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se aproximem mais da meta, seria preciso que o mercado tivesse uma confiança maior de que o governo vai conseguir chegar próximo da meta de zerar o déficit fiscal e de que ela não será mudada.

“Não deve ser a meta [proposta pelo governo], mas não acredito que vai ser um desastre. Penso que o déficit não deve ficar muito longe do que o mercado está projetando no Focus, como algo entre -0,7% e -0,8% em 2024”, diz.

No Brasil, preferência por títulos atrelados à inflação

Diante do cenário, a Opportunity está com uma preferência por títulos atrelados à inflação, na comparação com prefixados – embora detenha uma alocação aplicada em ambos.

Segundo Mollica, títulos atrelados à inflação possuem um retorno atrativo e há chance de ter uma queda dos juros reais, se o País conseguir mostrar credibilidade do lado fiscal.

Outro detalhe que favorece a alocação está na proteção contra a inflação oferecida por títulos atrelados ao IPCA, se os preços do petróleo e da energia continuarem a subir, lembra o executivo.

Nos cálculos da casa, feitos antes da divulgação do IPCA-15 hoje, a inflação deveria terminar o ano em 4,7% e cair para 3,7% em 2024. A gestora também prevê que a Selic encerre o ano que vem entre 8,5% e 9%.