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Bancos internacionais e gestores de fundos globais estão de olho na América Latina neste segundo semestre do ano. Eles veem espaço para crescimento do mercado de ações e bons rendimentos nos títulos de moeda local em meio à sinalização de queda dos juros nos próximos meses.
Segundo a BlackRock, “os bancos centrais dos mercados emergentes aumentaram as taxas mais cedo e agora há mais espaço para flexibilização da política monetária à medida que a inflação cai”, diz relatório assinado por Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos para a América Latina.
Durante o processo de aumento dos juros pelos países latinos, as ações sofreram uma forte queda, que se somou ao aumento da cotação do dólar e às incertezas em relação ao mercado chinês. Agora, esses papéis estão sendo negociados abaixo dos preços históricos dos pares globais.
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A relação preço-lucro (P/L) de 12 meses da América Latina está em 7 vezes, conforme Christopher K. Baxter, estrategista de investimentos do Morgan Stanley. Trata-se de um valor próximo ao menor nível desde 2008 e se compara com a média do índice geral de emergentes do MSCI, que está em 10,5 vezes, e do índice S&P 500, em 18,9 vezes.
Entretanto, “os mercados emergentes não são um monolito”, diz Baxter em seu relatório. “É importante ser criterioso nessa classe de ativos e escolher países que podem se beneficiar de tendências favoráveis.”
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Além do Brasil
Para BlackRock, Morgan Stanley, Bank of America e Lord Abbett, o Brasil é uma das principais escolhas de investimento na América Latina. Para Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter, este é um ponto que limita o investimento de brasileiros nos países latinos vizinhos.
“São países economicamente e politicamente muito próximos ao Brasil. Para investidores de outros continentes ou de países desenvolvidos, é muito interessante ter posição em países latinos por uma questão de diversificação e retorno. Porém, eles vão olhar para o menor risco-país, que é o Brasil”, diz Joubert.
Um segundo país bastante citado é o México, que para a estrategista do Inter é por uma questão de proximidade com os Estados Unidos. Em sua análise, o estrategista do Morgan Stanley afirma que espera um aumento de US$ 155 bilhões nas exportações do país latino para os EUA nos próximos cinco anos, devido a um maior investimento manufatureiro pelos americanos na região.
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Para Joubert, do Inter, a escolha de um investidor brasileiro nos países vizinhos deve ser feita com base em teses de investimentos sólidas.
“Não é recomendado que se escolha o país, para depois olhar os seus ativos e investir. O processo deve ser o contrário. A partir de uma tese de investimento baseada em um produto, uma empresa ou uma situação econômica, se escolhe o país e o ativo”, diz Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter.
Ele usa um exemplo do Chile. Assim como o Brasil, o país é muito forte em commodities, principalmente em cobre. “Vemos um movimento de transição dos veículos à combustão para veículos elétricos e será necessário muito cobre. Essa é uma tese de investimento. Se valer da demanda por cobre, que é farta no Chile, para buscar uma empresa local que poderá ganhar com o cenário.”
Teses latinas
Títulos do Tesouro em moeda local são a principal escolha da BlackRock para investimentos no Brasil e no México. A gestora de fundos se declarou “overweight” (acima da média) nessas dívidas em uma estratégia tática, de curto prazo.
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O México está pagando um rendimento de 11,137% no seu título público para vencimento em um ano e 9,861% para os títulos de três anos. O papel com menor rendimento na quinta-feira (6) era o de vencimento para dez anos, com 9,066% de juros.
O país tem um rating BBB, com perspectiva estável, pela S&P Global. É uma avaliação melhor do que a do Brasil, que está com BB- e perspectiva positiva.
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Para o Bank of America, também há oportunidades relevantes no mercado de ações. Na última segunda-feira (03), o banco americano atualizou a sua carteira LATAM trimestral. Das nove ações classificadas com recomendação de compra, apenas duas não eram brasileiras: a mexicana Bimbo e a cervejaria chilena CCU.
No caso da Bimbo, o BofA destaca que a empresa está bem posicionada para se beneficiar dos hedges positivos de grãos, já que os preços do trigo no mercado à vista caíram 47% em relação ao ano anterior. “Para cada queda de 10% nos preços do trigo, os custos da Bimbo caem 2%”, diz o relatório. Além disso, os analistas esperam que as vendas da empresa cresçam dois dígitos no terceiro trimestre.
Já para a cervejaria CCU, os analistas do BofA afirmam que os investidores estrangeiros têm apostado em preços mais baixos de grãos por meio de nomes chilenos de alimentos e bebidas. Além disso, eles esperam que a empresa se beneficie dos melhores preços e menores custos de embalagem. O valor do alumínio caiu 12% na base anual.
Fora do continente
Joubert, do Inter, afirma que se a intenção é investir em diversificação geográfica para além das empresas norte-americanas, para um brasileiro é mais interessante olhar para mercados emergentes como um todo, não apenas os países latinos. “Há teses interessantes de investimento na Ásia, em países como Índia e China, por exemplo”, diz.
A estrategista destaca o setor de tecnologia da Índia, que tem crescido nos últimos anos e também está investindo em inteligência artificial. Em relação à China, o país está com juros e inflação baixa, o que a BlackRock vê como positivo para “mais flexibilizações na política monetária”. A gestora de fundos está “overweight” no país.