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Na iminência de a Americanas entrar com um pedido de recuperação judicial, as debêntures da companhia – listadas sob o código LAMEA7 – eram negociadas com um desconto de 87,5% em relação ao preço da curva nesta quinta-feira (19).
Por volta das 11h10, operadores de mesa ouvidos pelo InfoMoney afirmaram que só houve um negócio pela manhã, no valor de R$ 10 milhões.
De ontem para hoje, o cenário piorou para a varejista. Na véspera (18), os negócios eram fechados com descontos de 75% nas debêntures.
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De acordo com Rafael Siqueira, analista de futuros e renda fixa da Genial, as taxas de negociação estão muito descasadas e é possível quase negociar de acordo com o percentual que o trader deseja. Isso ocorre, diz, porque não é possível saber como será o fluxo de pagamentos da empresa ao longo do tempo até que seja decretada a recuperação judicial mesmo. Com isso, os negociadores perdem a referência de preços.
“O pessoal tem vendido muito e quem compra é como se fosse uma aposta. Se perder, a perda é pequena, e se ganhar, o ganho é bem alto”, observa o profissional. Caso a empresa consiga honrar parte das dívidas na recuperação judicial, Siqueira afirma que taxa travada será elevada, chegando a IPCA+45% em alguns casos.
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Já os bonds (títulos de dívida emitidos pela Americanas no exterior) valiam cerca de US$ 0,11 nesta manhã, segundo o preço de tela. Nesta quarta-feira (18), o preço dos papéis era de US$ 0,18, apurou o InfoMoney.
Antes da crise, no começo de janeiro, os bonds da empresa eram negociados a US$ 0,70, segundo informações de um gestor de fundos.
Nesta manhã, em comunicado ao mercado, a varejista confirmou o cenário conturbado em que se encontra. Embora ainda não tenha sido decidido, a Americanas avalia entrar com um pedido de recuperação judicial em caráter de urgência “nos próximos dias” ou até mesmo “nas próximas horas” diante de sua posição de caixa, uma semana após revelar um escândalo contábil de pelo menos R$ 20 bilhões.
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A companhia afirmou que sua posição de caixa é de R$ 800 milhões, dos quais “parcela significativa” estava “injustificadamente indisponível para movimentação na data de ontem”.
A empresa também afirmou que o comitê independente criado para apurar o rombo bilionário já conta com uma substituição de integrante: Eduardo Flores, contador e ex-presidente do conselho fiscal da rival Via (VIIA3), foi nomeado no lugar de Pedro Mello. A Americanas não informou o motivo da troca.
No comunicado, a Americanas cita a decisão da Justiça do Rio de Janeiro na quarta-feira (18) que reverteu entendimento anterior que protegia a companhia contra credores por 30 dias. O caso envolveu o BTG Pactual (BPAC11) e uma dívida de R$ 1,2 bilhão.
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Na véspera, a Americanas ainda informou que o Bradesco (BBDC4) reteve mais de R$ 450 milhões do caixa da companhia, o que, segundo a varejista, descumpre a proteção que a empresa obteve da Justiça contra o bloqueio de bens.
Segundo reportagem do jornal Valor Econômico, Itaú (ITUB4) e Safra pediram à Justiça nesta quarta-feira que a Americanas só possa sacar dinheiro depositado em contas nesses bancos com autorização judicial.
A Americanas afirmou que vai recorrer da decisão da véspera “que fere seu esforço na busca por uma solução de curto prazo com os seus credores”.
A ação da varejista já havia caído 8,4% na quarta-feira, acumulando desvalorização de 85,5% desde a tumultuada revelação do escândalo.