Após elevação da Selic, retorno de CDBs prefixados chega a 12,70% ao ano; 6 pós-fixados pagam a partir de 120% do CDI

Levantamento feito pela Quantum Finance mostrou que investidor precisa estar atento ao risco de crédito de instituições que oferecem taxas mais elevadas

Bruna Furlani

[Pixabay]
[Pixabay]

Publicidade

A subida da taxa básica de juros para o patamar de dois dígitos se refletiu em retornos mais atrativos para alguns investimentos de renda fixa privada, mas nem todos. Entre os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), o impacto foi maior nos papéis com vencimentos curtos, de até dois anos, e aconteceu tanto nos prefixados quanto nos atrelados à inflação. Nesses casos, a remuneração aumentou.

Já os CDBs com prazos de três a cinco anos viram um movimento reverso no mesmo período: o recuo das rentabilidades brutas oferecidas. É isso o que mostrou um levantamento feito pela Quantum Finance, empresa de soluções para o mercado financeiro, a pedido do InfoMoney.

Segundo a pesquisa, a taxa média oferecida por CDBs prefixados com vencimento em 12 meses – que foi de 12,16% ao ano ao longo de janeiro – subiu para 12,70% ao ano na primeira semana de fevereiro, após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros para 10,75% ao ano na semana passada.

Continua depois da publicidade

Movimento semelhante foi visto com papéis atrelados à inflação. Para os títulos com vencimento em um ano, a taxa média real oferecida pelos CDBs passou de 6,12% ao ano no mês passado para 6,54% ao entre os dias 31 de janeiro e 4 de fevereiro.

Confira os dados do levantamento:

CDBs prefixados
Prazo (meses) Taxa média em janeiro de 2022* Taxa média entre 31/01 e 04/02/22*
6 19,56%
12 12,16% 12,70%
24 12,11%
36+ 13,21% 12,60%
CDBs atrelados ao IPCA
Prazo (meses) Taxa média em janeiro de 2022* Taxa média entre 31/01 e 04/02/22*
6
12 6,12% 6,54%
24 5,69% 5,78%
36+ 5,69% 5,51%

Fonte: Quantum Finance
* Taxas brutas (sem excluir a tributação pelo Imposto de Renda)

Continua depois da publicidade

Os maiores retornos oferecidos por CDBs prefixados na primeira semana de fevereiro eram de 12,80% ao ano para vencimentos em 12 meses e de 12,60% ao ano para prazos de 36 meses em diante. No primeiro caso, o emissor era o Banco ABC Brasil. No segundo, a instituição emissora era o Sinosserra Financeira.

Leia também:

Já entre os papéis atrelados à inflação, as maiores remunerações eram entregues por CDBs do Banco BTG Pactual com prazo de um ano, que ofereciam 6,97% ao ano, além de títulos do mesmo banco que pagavam uma taxa de 6,23% para vencimentos em dois anos.

Continua depois da publicidade

CDBs prefixados
Prazo (meses) Taxa máxima em entre 31/01 e 04/02/22* Emissor da maior taxa em entre 31/01 e 04/02/22*
6
12 12,80% Banco ABC Brasil
24
36+ 12,60% Sinosserra Financeira S.A
CDBs atrelados ao IPCA
Prazo (meses) Taxa máxima em entre 31/01 e 04/02/22* Emissor da maior taxa em entre 31/01 e 04/02/22*
6
12 6,97% Banco BTG Pactual
24 6,23% Banco BTG Pactual
36+ 5,68% Banco BTG Pactual

Fonte: Quantum Finance
* Taxas brutas (sem excluir a tributação pelo Imposto de Renda)

É importante destacar que as taxas oferecidas pelos CDBs podem variar, já que a disponibilidade dos produtos depende da demanda por ele no dia em questão. Todos os títulos analisados na pesquisa possuem liquidez no vencimento.

Prazos maiores, taxas menores

Já entre títulos de prazo maior, com vencimento entre três e cinco anos, o retorno médio oferecido por CDBs atrelados à inflação recuou de 5,69% em janeiro para 5,51% na primeira semana deste mês, mostrou o levantamento feito pela Quantum.

Continua depois da publicidade

Da mesma forma, o juro médio do CDB prefixado com vencimento a partir de 36 meses passou de 13,21% ao ano para 12,60% entre janeiro e fevereiro.

Leia mais:
• Quais são os melhores investimentos com a Selic a 10,75% ao ano, perspectiva de novas altas e proximidade das eleições?

A explicação para esse fenômeno em que títulos de dívida bancária de prazos mais curtos oferecem retornos mais elevados do que papéis de vencimento mais alongado está ligada a questões de oferta e demanda, além dos riscos fiscais embutidos em títulos de prazo maior.

Continua depois da publicidade

Ariane Benedito, economista da CM Capital, afirma que o investidor vem colocando na conta que há maior risco e volatilidade no longo prazo, o que tende a pesar nas decisões de investimento em um ano eleitoral.

Leia também:

Outro ponto, diz, está na oferta. Nesse caso, a economista observa que o spread (diferença entre os juros que os bancos pagam a quem investe e os juros que de quem toma crédito) está apertado. As instituições financeiras estão colocando na conta a renda familiar em baixa e a inflação corroendo o poder de compra, o que deve manter a busca pelo financiamento elevada.

Para os bancos, afirma Ariane, é mais viável “vender” essa dívida com o prazo que o mercado está pedindo. “Isso pode ocorrer quando não há muita aderência para prazos mais longos”, avalia.

Retornos de até 126% do CDI

Além de opções prefixadas e atreladas à inflação, o levantamento mostrou CDBs pós-fixados que ofereciam taxas a partir de 116% do CDI para vencimentos em 12 meses.

Os destaques, porém, estavam em produtos com prazo a partir de dois anos, como é o caso de seis CDBs: três emitidos pelo NBC Bank, com vencimento em 24 meses e rentabilidade bruta de 126% do CDI; e três títulos de dívida da Sinosserra Financeira, que ofereciam 120% do CDI, com vencimento a partir de três anos.

Prefixados, atrelados ao CDI ou corrigidos pelo IPCA?

Embora as ofertas pareçam atrativas à primeira vista, é importante que o investidor entenda as diferenças entre os indexadores (prefixados, atrelados à inflação ou ao CDI) para verificar qual vale mais a pena para o seu perfil.

Se optar por um papel prefixado, é preciso ter em mente que a taxa será “travada” em certo nível na hora da compra do título. Logo, se a Selic subir ou descer, o retorno seguirá o mesmo. O problema: ele poderá ficar defasado caso a taxa básica de juros aumente mais, como prevê o mercado.

Nesse caso, Ariane diz que o investidor deve buscar CDBs prefixados que entreguem pelo menos 11,75% ao ano, valor esperado para a Selic no fim do ano, segundo o Relatório Focus do Banco Central. A CM Capital, no entanto, acredita que a taxa básica de juros possa chegar a 12,25% ao ano em dezembro, começando a recuar apenas em 2023.

Bruno Mori, economista e planejador financeiro CFP lembra também que papéis prefixados têm menor liquidez. Ou seja: se o investidor quiser vender o papel antes do vencimento, pode ser que não ache comprador, ou que o banco cobre um spread sobre a operação, o que pode ser negativo a depender da necessidade de obter o dinheiro rapidamente.

Para evitar que isso ocorra, diz Mori, o ideal é que a pessoa busque esse tipo de investimento se já tiver um objetivo claro para o uso. Ele cita como exemplo uma parcela de financiamento que coincida com o período em que vence o título.

Já para quem deseja se proteger contra a inflação, o papel mais indicado é o que possui a remuneração atrelada ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nesse caso, Ariane destaca que o melhor é procurar taxas reais a partir de 6% ao ano.

Leia mais:
Inflação medida pelo IPCA sobe 0,54% em janeiro, maior alta mensal desde 2016, mas em linha com o esperado
IPCA de janeiro não surpreende e impactos sobre próximas decisões da Selic são incertos

Isso porque a casa prevê que a inflação feche 2022 em 5,80%. Logo, diz, a ideia é que o retorno fique acima da inflação projetada.

Papéis com a remuneração atrelada ao CDI também compõem bem a carteira de CDBs em um ano em que a expectativa é que a Selic siga avançando. Nesse caso, a taxa mínima a ser buscada deve ser de 110% do CDI, explica a economista da CM Capital.

Ela afirma que a taxa média oferecida por esses papéis tem ficado em torno de 114% do CDI, segundo levantamentos periódicos feitos pela corretora. Ainda assim, o investidor deve ter como alvo uma remuneração a partir de 120% do CDI, observa.

Risco de crédito

Além de verificar as taxas, o risco de crédito do emissor deve ser levado em conta na hora de adquirir um CDB. Mori lembra que esse tipo de produto tem a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que devolve até R$ 250 mil por investidor (CPF) e por instituição financeira, até o teto de R$ 1 milhão renovado a quatro anos, em caso de problemas como uma intervenção do Banco Central na instituição.

O detalhe, observa o planejador, é que o recurso não é disponibilizado imediatamente pelo fundo. “Quem tem um perfil agressivo, tem que tomar um pouco de cuidado. Observar a regra dos R$ 250 mil e olhar a capacidade que tem para esperar o recebimento desse dinheiro”, afirma.

Atenção também para a remuneração: instituições consideradas menores e de maior risco costumam oferecer retornos maiores. “Se a casa estiver oferecendo 120% do CDI, por exemplo, vale a pena checar quanto que você receberia num ‘bancão’ pra questionar quanto você está levando pelo risco a mais”, pondera.

Nesse caso, a sugestão de Mori é que o investidor aproveite o fato de que algumas casas menos conhecidas oferecem a possibilidade de aplicar valores menores para iniciar o investimento, como a partir de R$ 1.

“Pode começar com um valor baixo e ver como funciona na prática. Isso tudo diminui a resistência e o medo de entrar com um pouco mais de dinheiro, quando se é novo nesse tipo de mercado”, observa Mori.

A diversificação também não pode ser esquecida, lembra o economista. O ideal, segundo ele, é que o investidor diversifique os emissores e os indexadores – prefixados, atrelados ao CDI e atrelados à inflação. Se for construir uma carteira de CDBs, a sugestão do planejador é que a pessoa separe um terço da alocação em CDBs para cada indexador.