Bitcoin é ativo de refúgio como defendem os entusiastas? Em teoria sim, diz S&P Global

Tese do "ouro digital", no entanto, ainda precisa ser provada por dados históricos, aponta relatório

Paulo Alves

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As criptomoedas têm um apelo como ativos que podem servir de refúgio contra um descontrole inflacionário, mas ainda faltam dados para comprovar a tese, afirmou na terça-feira (9) a provedora de dados financeiros S&P Global.

“Os criptoativos poderiam, teoricamente, ser uma proteção contra a inflação”, disse a S&P Global. A empresa trouxe observações sobre a adoção de criptomoedas em alguns países emergentes que lutam contra a alta inflação.

“Alguns argumentam que os criptoativos podem ter demanda maior em um ambiente de altas taxas de juros/alta inflação porque podem servir como uma reserva de valor. [Mas] acreditamos que o histórico de cripto é muito curto para provar isso”, disseram os analistas.

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A empresa acrescentou ainda que que há uma correlação ainda muito fraca entre o Bitcoin (BTC) e as expectativas de inflação dos EUA.

A principal tese de investimento em Bitcoin, de que ele seria um “ouro digital”, leva em conta a política monetária imutável programada em software: no código do BTC, está escrito desde seu lançamento que haverá apenas 21 milhões de unidades do ativo, emitidas a cada cerca de 10 minutos, com cortes pela metade na emissão a cada quatro anos, no evento conhecido como halving.

Para defensores do Bitcoin, essas características dão previsibilidade inflacionária ao ativo e o colocam em vantagem frente a moedas estatais, tornando-o um hedge contra a inflação. Porém, dados históricos sugerem o contrário, diz a S&P Global.

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Segundo analistas da provedora de dados, a correlação histórica entre os retornos diários do S&P BDMI (o índice cripto da S&P) e as expectativas de inflação de equilíbrio de dois anos e 10 anos nos EUA é de apenas 0,10 — ou seja, quase inexistente. A correlação entre os retornos de três meses para o S&P BDMI e as expectativas de inflação de equilíbrio de 10 anos não mostram nenhum padrão conclusivo, disse o relatório.

Isso significa que há pouca associação entre o mercado de criptomoedas e as expectativas de inflação. Uma forte correlação de pelo menos 0,75 pode ser necessária para validar a narrativa de hedge de inflação, afirmam os especialistas.

A análise usa o cenário nos Estados Unidos como argumento. O relatório aponta que, enquanto a inflação dos EUA medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI) no ano passado foi de 8%, o BTC caiu 70% no mesmo período.

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O resultado foi bem diferente do medido no rendimento dos títulos do Tesouro americano, que são considerados ativos de refúgio clássicos, e nos retornos diários do ouro, que acompanharam consistentemente as expectativas de inflação desde 2013.

“Há evidências de causalidade de Granger entre o índice Breakeven Inflation Expectation de 10 anos e o índice S&P GSCI Gold em um nível de confiança de 95%”. O teste de Causalidade de Granger é um teste de hipótese estatística. “O mesmo teste falha para o Bitcoin”, observou a S&P Global.

Por outro lado, disse o estudo, as criptomoedas registraram correlação negativa substancial com os juros americanos e com o rendimento dos treasuries de dois anos. “Em uma base diária de três meses, as taxas de juros [e os treasuries de dois anos] e o índice cripto exibiram uma relação inversa 63% do tempo desde maio de 2017, e de 75% a partir de maio de 2020″, disse a S&P Global.

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Paulo Alves

Editor de Criptomoedas