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O mercado de renda fixa dos Estados Unidos é o maior do planeta e oferece produtos que ainda não existem no Brasil. Entre eles estão os bonds perpétuos (ou bônus perpétuos), títulos de renda fixa que não têm data de vencimento e pagam uma taxa anual aos investidores – para sempre.
Há papéis emitidos por diversas companhias, sejam estrangeiras, como as big techs Apple e Alphabet (dona do Google), ou brasileiras, como o Banco do Brasil.
Para especialistas, os juros altos em todo o mundo criam um cenário favorável para esse investimento. No entanto, não são recomendados para qualquer investidor, pois quem aposta neles precisa tomar uma série de cuidados.
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“Os bonds perpétuos são mais comuns nos mercados desenvolvidos, um reflexo da estabilidade e credibilidade das empresas desses países”, enfatiza Nilo Galvani, co-gestor de portfólio da TM3 Capital.
Os bonds perpétuos são instrumentos de renda fixa, mas com funcionamento semelhante ao das ações. Em vez de receber o valor aplicado de volta com juros na data do vencimento, o investidor tem um rendimento proporcional ao valor aplicado. Além disso, os preços dos títulos variam conforme as condições de mercado e das empresas, assim como as ações na Bolsa.
Para a empresa, a vantagem dos bonds perpétuos é ganhar fôlego de caixa com dívida previsível e alongada. E se o momento do mercado ou da companhia forem favoráveis, ela pode recomprar os títulos – como o BB fez nesta semana.
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Mas será que vale a pena investir em um papel que dura para sempre? Quais são os riscos envolvidos? E será que faz sentido para o investidor brasileiro? Confira as respostas a seguir.
Vale a pena investir em bonds perpétuos – e quanto pagam?
Para Galvani, “o momento atual é favorável para investir em bonds, principalmente nos mais longos [como os perpétuos]”. Ele explica que, olhando para juros, há risco de as taxas subirem mais do que o mercado precifica, mas o impacto desse cenário – considerado improvável – seria pequeno.
“Dificilmente teremos uma escalada dos juros como a que tivemos nos últimos 18 meses”, diz. O patamar de remuneração atualmente, portanto, pode estar próximo do teto.
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Por serem considerados mais arriscados – afinal, é necessário ter estômago para carregar um título por tanto tempo – os bonds perpétuos têm rentabilidade mais elevada na comparação com outros títulos de renda fixa. Hoje, é possível encontrar papéis que oferecem retorno superior a 9% ao ano.
Há, inclusive, empresas brasileiras nesse mercado. Em 2018, o Itaú emitiu US$ 750 milhões em bonds perpétuos com rentabilidade anual de 6,5%. O Banco do Brasil tem dois papéis no mercado: um com retorno anual de 4,62% e outro com taxa de 6,25%.
Hoje, o rendimento dos títulos tidos como os mais seguros de renda fixa, os Treasuries, está próximo a 5%, patamar mais elevado do que muitos bonds perpétuos oferecem. Por isso, os bonds mais novos são mais atrativos, já que estão sendo emitidos em um contexto de juros altos e dão ao investidor a chance de travar uma rentabilidade alta por um período longo.
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Veja a remuneração que alguns bonds pagarão para sempre, em dólar:
Empresa emissora | Remuneração anual (em %) |
Alphabet | 1,98 |
Apple | 4,85 |
Banco do Brasil | 4,62 e 6,25 |
GM | 6,12 |
Itaú | 6,5 |
JP Morgan | 4,32 |
Microsoft | 4 |
Fonte: Bondsupermart
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O que considerar na compra
1. Data de emissão
Por serem muito longos, os bonds perpétuos atravessam diferentes cenários de juros, então podem passar a pagar menos que títulos mais seguros. Quando o Itaú emitiu seu bond sem data de vencimento, há cinco anos, os juros dos EUA estavam abaixo de 2% ao ano. Hoje, o papel paga menos que um título do Tesouro dos EUA.
“Pode haver perdas no curto prazo com a marcação a mercado [caso o investidor decida vender o papel]”, explica Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez. Ele pondera, no entanto, que os juros nunca foram tão altos.
Há, porém, um alerta na escolha entre papéis novos e antigos: “títulos mais recentes podem carregar mais risco ligado à solidez financeira da empresa, enquanto os mais antigos já têm histórico de pagamentos e, geralmente, são menos voláteis”, explica Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
2. Liquidez
Novos ou antigos, um dos grandes riscos associados aos bonds perpétuos é o de liquidez. “É um papel com muitas especificidades e menos negociado no mercado secundário, o que atrai um público menor”, diz Leal, da BGC .
3. Volatilidade
Além disso, a volatilidade desses bonds é mais alta do que a de outros papéis de crédito privado, já que qualquer sinal de alta de juros pode afetar o custo de oportunidade desses títulos.
4. Risco de calote
Os donos desses bonds são os últimos na fila de pagamento caso a empresa apresente problemas financeiros. Então, é preciso escolher bem.
Como em qualquer outro título de crédito privado, as empresas com maior nível de confiabilidade pagam taxas menores, enquanto os retornos mais altos são oferecidos por companhias de menor porte ou até com problemas financeiros. Por isso, é importante ponderar ao se deparar com taxas muito altas.
Daniel Leal indica a compra de papéis de empresas sólidas e que tenham bons projetos: “não dá para comprar de qualquer uma, é preciso escolher as empresas que tenham uma perspectiva de longevidade”.
Para quem são indicados?
Os títulos sem vencimento definido são indicados para o investidor que quer transformar seu patrimônio em renda. Nesse aspecto, eles podem funcionar como fundos de previdência.
Ainda é preciso considerar o nível de risco que o investidor aceita carregar na carteira. Quem é mais conservador pode não se dar bem com esses bonds, já que não há garantias de que a empresa sobreviverá “para sempre”.
Como investir
Para investir em bonds, é necessário ter conta em uma corretora internacional. É preciso ainda considerar que os aportes em crédito privado, assim como em demais ativos no exterior, geralmente têm um valor mínimo — em algumas corretoras, os investimentos partem de US$ 1 mil.
Os pagamentos de juros recebidos de bonds perpétuos estão sujeitos à tabela progressiva do Imposto de Renda. A declaração deve ser realizada mensalmente, e o imposto cobrado varia conforme montante de ganhos no período, com taxas que variam entre 15% (para lucros até R$ 5 milhões) e 22,5% (para volumes superiores a R$ 30 milhões).
Se os títulos forem resgatados (vendidos), aplica-se também imposto sobre ganho de capital na diferença entre os valores de compra e liquidação dos ativos seguindo a mesma tabela – com a vantagem de isenção para montantes até R$ 35 mil mensais, o que não é aplicável aos pagamentos de juros (cupons).