Caixa acima da média, bolsa local, ativos alternativos: como preparar o bolso para 2023, na visão da XP

Volatilidade nos mercados pode persistir mesmo após as eleições presidenciais, o que deve exigir rebalanceamento da carteira em direção às melhores opções

Katherine Rivas

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Quem espera que a volatilidade nos mercados vai acabar após encerradas as eleições de outubro talvez precise rever seus conceitos. O ano de 2023 também reserva alguns desafios para o mercado local.

O relatório Contagem Regressiva para 2023: As oportunidades geradas na incerteza e como aproveitá-las, da XP, aponta entre eles o custo fiscal elevado, com a possível continuidade do Auxílio Brasil de R$ 600, reajustes salariais de funcionários públicos e manutenção das desonerações dos tributos sobre combustíveis.

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda deverá permanecer elevada no próximo ano, no patamar de 5,3%, segundo projeções, o que também adicionará desafios à convergência para a meta de 3,25%. Por outro lado, a Selic, taxa básica de juros, deve se manter em 13,75% até meados de 2023, na visão da XP, com possível redução para 10% até o fim do ano.

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Como se preparar para este cenário? No relatório, Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP, explica que portfólios podem e devem ser rebalanceados diante de um cenário macroeconômico adverso – aumentando ou reduzindo risco, melhorando a diversificação e avaliando prazos de investimento.

No relatório, Sgavioli detalhou a perspectiva da equipe de alocação da XP para as diferentes classes de ativos. Ele enxerga oportunidade em três delas em especial: renda fixa, ações brasileiras e ativos alternativos.  O analista também tem uma visão “construtiva” para os fundos multimercados. Veja os detalhes abaixo:

Fonte: XP Investimentos

Caixa acima da média 

Diante da incerteza e em uma eventual recessão global mais forte, que afete também a economia brasileira, Sgavioli destaca a importância de ter um caixa acima da média, pelo menos nos meses que ainda restam em 2022. É a reserva de emergência, geralmente alocada na renda fixa pós-fixada (Tesouro Selic, CDBs que rendem 100% do CDI de liquidez diária, entre outros).

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Segundo ele, esta reserva de emergência deixará o investidor preparado e com liquidez para fazer frente a um cenário mais duro. Ele destaca ainda a reserva de oportunidade, recurso para possíveis compras de ativos, com foco no longo prazo. “É para o investidor que entende que momentos de quedas e correções exageradas de preços nos mercados podem representar excelentes momentos de compra de bons ativos”, aponta.

Sgavioli lembra ainda que tanto a reserva de emergência como a de oportunidade precisam estar investidas em renda fixa pós-fixada, que tem previsão de entregar retornos atrativos nos próximos 12 meses, próximos a 13% ou 14%.

Fora o caixa, na renda fixa, Sgavioli ainda enxerga com bons olhos os títulos indexados à inflação ou IPCA+, que oferecem a variação da inflação mais uma taxa fixa de juros, dado que o Brasil tem um histórico inflacionário considerável. Contudo, destaca que com a expectativa de inflação mais baixa, pode ser hora de se expor um pouco mais aos títulos prefixados.

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Renda variável brasileira

Na renda variável, com destaque para ações e fundos de ações, Sgavioli aponta que apesar dos riscos de uma recessão global mais dura e um custo fiscal elevado no Brasil, uma maior exposição a ativos de risco locais pode ser interessante. O motivo é que as ações estão com um nível atrativo de preços e há perspectivas positivas para o resultado das empresas. “Para o investidor de longo prazo, com horizonte superior a quatro ou cinco anos, pode ser uma oportunidade de entrada ou aumento de exposição”, afirma.

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Segundo Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de research, e Jennie Li, estrategista de ações, ambos da XP, o mercado brasileiro está descontado, em níveis que não eram vistos desde 2008. O Ibovespa, principal índice da B3, negocia com um desconto de 55% pelo múltiplo de Preço/Lucro (P/L) em relação ao indicador do índice de ações globais MSCI All Country World Index e 22% abaixo da sua média histórica.

“As empresas apresentam hoje pouco risco, baixos níveis de dívidas em relação ao passado e potencial de bom pagamentos de dividendos”, destacam os especialistas.

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Considerando as oportunidades, mas também os riscos fiscais e políticos no radar, Ferreira e Li aconselham optar por ações de qualidade, risco baixo e valor, que tenham um crescimento menos correlacionado ao ambiente macro e múltiplos atrativos, como as listadas abaixo:

Principais escolhas da XP por setor entre as ações brasileiras:

Setor  Principais escolhas
Agronegócio Jalles Machado (JALL3), BrasilAgro (AGRO3)
Alimentos JBS (JBSS3), Camil (CAML3)
Bebidas Ambev (ABEV3)
Bancos Banco do Brasil (BBAS3)
Bens de Capital Weg (WEGE3), Tupy (TUPY3), Embraer (EMBR3)
Construtoras Cury (CURY3), Direcional (DIRR3)
Energia Eléctrica Omega Energia (MEGA3), Auren (AURE3) e Equatorial (EQTL3)
Educação Cruzeiro do Sul (CSED3)
Mineração e siderurgia Vale (VALE3), CBA (CBAV3)
Óleo e Gás Petrobras (PETR4), 3R Petroleum (RRRP3)
Saúde Blau (BLAU3)
Papel e celulose Klabin (KLBN11)
Shoppings e propriedades comerciais Multiplan  (MULT3), Iguatemi (IGTI11)
Saneamento Orizon (ORVR3)
Tecnologia Bemobi (BMOB3), Totvs (TOTS3)
Telecomunicações Unifique (FIQE3), Tim (TIMS3)
Transporte Vamos (VAMO3), Rumo (RAIL3)
Varejo Assaí (ASAI3), Grupo Mateus (GMAT3), Grupo Soma (SOMA3), Arezzo (ARZZ3)

Fonte: Relatório Contagem Regressiva para 2023, da XP

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Investimentos alternativos

Na seara dos investimentos alternativos, Sgavioli chama a atenção para a importância de ter uma parcela do patrimônio em posições mais estruturais para o longo prazo, por ser ativos menos líquidos mas com forte potencial de retorno, muitas vezes acima da renda variável.

Segundo o especialista, há alternativas em fundos de private equity, venture capital, special situations, infraestrutura, crédito estruturado, entre outros. Ele lembra que esta parcela do investimento, sujeita a oscilações e com foco no longo prazo, e por isso não deve ser acompanhada diariamente, principalmente em cenários de forte volatilidade.

Na visão dele, o mais importante é estar diversificado, buscando sempre não o maior retorno e, sim, aquele que satisfaz as necessidades do investidor com um risco adequado.

Cautela com renda variável global

Diante de um cenário de recessão global, aumento de juros americanos pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), recuperação lenta da China e Europa em desaceleração, Sgavioli acredita que a exposição internacional nas carteiras deve ser reduzida, com pequenas posições na bolsa americana.

Isso porque diante da inflação elevada, os bancos centrais dos Estados Unidos e países desenvolvidos terão a necessidade de elevar juros, reduzindo a atividade econômica e afetando os resultados das empresas e seus níveis de inadimplência.

“Estamos sugerindo alocações em seus menores níveis para renda variável global e uma parcela modesta em renda fixa global, que tem apresentado retornos esperados mais atrativos às bolsas globais, quando ajustado ao risco”, afirma.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.