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Com dólar de volta aos R$ 4,80, é hora de enviar dinheiro para fora e investir no exterior?

Diversificação geográfica e setorial é apontada como vantagem de dolarizar a carteira; movimento, no entanto, deve ser independente do timing do câmbio

Mariana Segala

(Getty Images)
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Depois da quinta sessão seguida de queda frente ao real, o dólar terminou a quinta-feira (15) cotado na casa dos R$ 4,80. A previsão de que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) terá pouco espaço para subir juros deixou os mercados globais em alerta – e os investidores brasileiros interessados em investir no exterior também.

No ano passado, aos trancos e barrancos, o real se fortaleceu perante o dólar, que caiu cerca de 5%, chegando a dezembro cotado perto dos R$ 5,30. Na máxima do ano, no entanto, chegou a se aproximar dos R$ 5,70 – enquanto a mínima foi aos R$ 4,60.

Começar o movimento de dolarizar a carteira com o câmbio no nível dos R$ 4,80 parece uma oportunidade. Será de fato o melhor momento para remeter recursos para uma conta internacional e comprar ativos estrangeiros?

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Para Rodrigo Sgavioli, o princípio da diversificação internacional é independente do timing do câmbio. O mais importante é verificar se o perfil do investidor, a composição da carteira e suas necessidades de liquidez e retorno demandam mais (ou menos) exposição ao mercado global.

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“Se estruturalmente o investidor tem uma predisposição a ter uma parcela maior do patrimônio alocado em investimentos internacionais, sim, vale a pena aproveitar o momento”, orienta.

Isso quer dizer que, por conta da queda do dólar, o investidor deveria alocar mais lá fora do que o normal? “Não, pois não é adequado pensar no dólar como uma classe de ativos, e, sim, procurar exposição à moeda por meio de outros investimentos”, explica. “Há uma diferença entre comprar dólar e dolarizar os investimentos”.

É como quem decide fazer uma viagem nas férias. “Se você já sabe o destino para onde vai, quantos dias vai durar o passeio, os hotéis em que pretende se hospedar e quem vai acompanhá-lo, pode esperar uma promoção aparecer para então comprar as passagens”, compara Sgavioli. Começar pelo último passo, só porque os bilhetes ficaram baratos, pode acabar saindo pior que o soneto.

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Raphael Figueredo, sócio e analista da Eleven Financial, concorda que dolarizar uma parte da carteira, independentemente do nível do câmbio, vale a pena.

“Pensando na construção de patrimônio ao longo do tempo, vale fazer investimento no exterior com o câmbio a R$ 4 ou a R$ 6”, avalia. A razão é o nível de diversificação de ativos, geográfica e setorial, que é possível alcançar por meio de uma conta no exterior.

Janela favorável?

É claro que, se for possível expatriar recursos a uma taxa de câmbio atrativa, tanto melhor. “Muitas vezes, nesses momentos, os investidores remetem os recursos para exterior e os mantêm na conta por alguns dias até tomar a decisão de onde alocar”, diz Sgavioli.

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Ao longo dessa semana, vários fatores impulsionaram a moeda americana para baixo – tanto quanto internos quanto lá de fora. “O dólar seguiu a tendência externa e caiu também em relação ao real, após a parada na alta dos juros nos EUA, enquanto o BCE [Banco Central Europeu] elevou mais uma vez as taxas na zona do euro”, afirma Alexsandro Nishimura, economista da Nomos.

A dinâmica das taxas nas maiores economias do mundo sempre pesa sobre o mercado brasileiro. Na quinta-feira (15), BCE decidiu manter o ritmo de aperto de sua política monetária, optando por uma alta de 25 pontos-base em suas taxas de juros. A principal taxa, de refinanciamento, subiu de 3,75% para 4,0% ao ano.

O Fed, por sua vez, já havia decidido na quarta (14) interromper o ciclo de aperto monetário iniciado em março do ano passado, período em que elevou os juros por dez vezes seguidas. Dessa vez, manteve os juros na faixa entre 5% e 5,25% ao ano. Em comunicado, porém, abriu a possibilidade de mais duas elevações de 0,25 ponto percentual até o final do ano. Cortes, só no ano que vem.

Aqui no Brasil, o que animou o mercado foi a revisão da perspectiva para a nota de crédito do Brasil de “estável” para “positiva” pela agência de classificação de risco S&P Global Ratings. A classificação positiva para o país não acontecia desde 2019. O rating brasileiro foi reafirmado em “BB-“.

De acordo com a agência, sinais de maior certeza sobre políticas fiscal e monetária estáveis podem beneficiar as perspectivas de crescimento econômico do país, atualmente baixas.

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Mas como a taxa de câmbio é apenas um dos componentes do rendimento de uma aplicação internacional, Figueredo, da Eleven, reforça a necessidade de avaliar atentamente as perspectivas para os ativos almejados em si.

“Definitivamente, estamos vivendo um dos períodos de maior velocidade na elevação dos juros para combater a maior inflação dos últimos 40 anos nos países desenvolvidos”, lembra Figueredo. Se isso é uma má notícia para os ativos de renda variável, dado que eles costumam desvalorizar em épocas de restrição monetária, pode abrir oportunidades em outros terrenos.

O analista considera que o momento é favorável para investir em renda fixa no exterior, por exemplo. “Os Estados Unidos mantiveram juros negativos ou zerados por anos”, mas atualmente até mesmo títulos do governo pagam taxas atrativas – e em dólar, lembra.

“São os títulos da maior economia do mundo, no ambiente teórico mais seguro do mundo. Se os EUA quebrarem, quebra o mundo”, diz Figueredo. Ele sugere aos investidores dolarizar uma parcela entre 15% e 30% da carteira.

Mariana Segala

Editora de Investimentos do InfoMoney