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Em pleno mês eleitoral, o bom rendimento de fundos multimercados do tipo macro ajudou a classe a atrair uma captação líquida (depósitos menos resgates) de R$ 1,96 bilhão em outubro, até o dia 27. O resultado mensal caminha para ser o melhor registrado pela classe – que aloca em diversas classes de ativos, como ações, câmbio e juros, buscando capturar os efeitos nos mercados das tendências macroeconômicas – nos últimos 15 meses.
Os depósitos líquidos de fundos do tipo superaram essa marca pela última vez em julho de 2021 – quando as entradas líquidas chegaram a R$ 1,98 bilhão, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Foi uma mudança de direção: nos últimos 15 meses, os multimercados do tipo macro só registraram mais depósitos do que resgates em agosto, quando a captação líquida alcançou R$ 23,18 milhões. Nos demais meses, os saques líquidos nessa categoria de fundos foram de R$ 2,3 bilhões, em média.
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Para o analista de fundos da TAG Investimentos Maurício Reis, uma das vantagens dos multimercados do tipo macro é que eles conseguem se posicionar e alterar a alocação mais rapidamente do que um fundo de ações, por exemplo. Na visão do especialista, tais produtos costumam se beneficiar diante de um cenário interno e externo mais incerto, como o atual.
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“Os atores [dirigentes] dos bancos centrais estão testando os limites e vendo como o mercado reage. Há idas e vindas lá fora. Aqui no Brasil, também não há certeza sobre a intensidade, nem quando o BC vai começar a cortar os juros”, observa Reis.
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Outro diferencial dos fundos macro está nas equipes. O especialista da TAG explica que as casas têm investido cada vez mais em reforçar os times, agregando maior capacidade de análise com profundidade de dados macroeconômicos, o que tem sido benéfico em meio a um ambiente de inflação elevada em países desenvolvidos e apertos monetários pesados ao redor do mundo.
Embora reconheça o crescimento da captação dos fundos macro, Reis faz uma ponderação sobre os números da Anbima. Segundo ele, não é possível descartar que os dados estejam poluídos, já que alguns multimercados macro podem ser cadastrados na base de dados como multimercados do tipo livre (que adotam estratégias variadas). Essa categoria lidera os resgates entre os fundos multimercados em outubro.
“De qualquer forma, isso não invalida o fato de que os fundos multimercados macro tiveram uma excelente captação. Isso faz sentido não só pelo histórico de que geralmente os multimercados macro têm boa performance em anos de alta do CDI [taxa de referência da renda fixa], como também pelos retornos registrados neste ano”, afirma Reis.
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Do início deste ano até o dia 27 de outubro, os fundos do tipo macro acumulam rentabilidade de 16,33%, em média. Dentre os multimercados, apenas os fundos do tipo long and short neutro apresentaram retorno superior, de 22,91%, em média, no mesmo período.
Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP, ressalta que os multimercados macro foram bastante penalizados no começo do ano devido ao desempenho aquém do esperado em 2021, mas que conseguiram virar o jogo com posições acertadas ao longo deste ano.
“Com a flexibilidade e a possibilidade de montar uma exposição global, os multimercados ganharam muito dinheiro com posições em juros e Bolsa num primeiro momento e agora, com alocações em dólar”, observa Sgavioli, sem esquecer os ganhos obtidos com exposições a algumas commodities.
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Ele lembra que os multimercados brasileiros foram os que melhor capturaram a alta dos juros nos Estados Unidos, com posições tomadas (que se beneficiam dessa alta), juntamente com exposições que apostam na queda (vendidas) em bolsas do G10.
Mais recentemente, outra alocação que se destacou foram posições em dólar contra moedas como o iene, yuan, euro e a libra esterlina, segundo o especialista da XP.
Bolsa e juros: possíveis destaques nos próximos meses
De olho na possibilidade de atuar nos mais variados mercados, Sgavioli diz que ainda enxerga prêmio para que os gestores capturem ao se posicionar em juros de países que estão em processo de aperto monetário, porque há chance de que os bancos centrais aumentem as taxas para além do que o mercado espera hoje.
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Declarações feitas nesta semana por Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), por exemplo, reforçaram que “há um caminho” a se percorrer no ciclo de aperto monetário e que a taxa de juros terminal americana pode encerrar o processo mais alta do que o divulgado anteriormente.
Ainda que novas altas estejam no radar tanto nos Estados Unidos quanto em outros países desenvolvidos, o especialista da corretora não nega que boa parte da elevação já esteja precificada nas curvas e que haja menor potencial de ganho do que no começo do ano.
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Posições em juros locais também podem ser fonte de ganhos para os multimercados neste segundo semestre. O profissional da XP avalia que os gestores devem ir “calibrando” o tamanho e o melhor momento para adotar posições que se beneficiam da queda dos juros (aplicadas) pelos próximos meses. Outra opção, diz, é que as casas obtenham retornos atraentes com operações em inflação implícita (diferença entre a taxa de juros nominal e real), ou com operações em vértices mais específicos, avalia.
Reis, da TAG Investimentos, também observa que gestores estão olhando com maior atenção para as alocações em juros locais. “Eles estavam fora, mas voltaram a entrar agora que tivemos definições um pouco mais claras. Estamos num final de ciclo monetário e acreditamos que o juro vai cair no ano que vem”, acrescenta.
Na avaliação do analista, as equipes de gestão têm privilegiado posições em títulos atrelados à inflação (NTN-Bs), justamente porque há a proteção contra a escalada de preços, no caso de uma piora do cenário externo, além dos benefícios se a curva fechar, ou seja, o juro cair.
Segundo informações do Relatório Focus, do Banco Central, economistas consultados pela autoridade monetária projetam que a Selic deve começar a cair na reunião que ocorre em junho de 2023. Para o fim do ano que vem, a expectativa é que a taxa básica de juros encerre o período em 11,25% ao ano.
Já ao ser questionado sobre alocações em Bolsa Brasil, o analista da TAG diz que a posição não deve ser o destaque. Ele diz que as casas que acompanha estão com posições mais táticas do que estruturais na renda variável local.
Sgavioli, por outro lado, conta que a XP está com uma visão construtiva para a Bolsa e que algumas gestoras podem ser positivamente afetadas com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com alocações compradas (que se beneficiam da alta) em alguns setores beneficiados por programas do novo governo.
Entre os destaques, ele cita o caso de construtoras mais voltadas para a baixa renda, além de ações ligadas à educação, por causa de programas de financiamento estudantil, como o FIES.
“Havendo uma maior clareza sobre a transição de governo, a Bolsa pode andar e os gestores que estão posicionados podem se beneficiar desse cenário”, diz Sgavioli.
Nas contas da XP, o Ibovespa negocia a um P/L de 7,1 vezes, o que corresponde a um desconto de 37% em relação à média histórica. Nesse sentido, a corretora projeta que o valor justo do principal índice da Bolsa brasileira ao fim de 2023 é de 135 mil pontos.