Com isenção de IR: possível queda de juros favorece alocação em fundos de debêntures incentivadas, afirma XP

Estabilização nos spreads e fechamento da curva podem ajudar a elevar retornos desses tipos de produtos nos próximos meses

Bruna Furlani

(Getty Images)
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A visão mais positiva de parcela do mercado que defende que o Banco Central terá condições de cortar os juros neste ano pode ser favorável para os investidores interessados em alocar em fundos de debêntures incentivadas – produtos que possuem isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas.

A avaliação é da XP Investimentos, que defende que o momento atual é um “bom ponto de entrada” para aplicar nesses tipos de fundos.

Em relatório divulgado nesta semana, a equipe de fundos, renda fixa e macroeconomia da casa destacou que o fechamento da curva de juros, ou seja, o recuo dos juros, pode beneficiar a marcação a mercado das debêntures incentivadas.

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Isso ocorre porque tais papéis possuem uma parte do retorno prefixada, com a taxa conhecida no momento da aplicação, e outra atrelada à inflação. Na prática, uma debênture incentivada costuma oferecer uma rentabilidade de X% acrescida da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao longo de um período.

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Nesse caso, quando ocorre o fechamento da curva de juros, a parte prefixada do papel também se ajusta e tende a recuar. A explicação é que emissores de títulos não precisariam oferecer taxas tão altas para captar recursos, diante de uma certa diminuição do ambiente de aversão a risco.

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Uma queda nas taxas leva ao aumento dos preços dos títulos na chamada marcação a mercado, o que favorece detentores de títulos comprados a taxas maiores, como as atuais, e pode impactar positivamente também as cotas dos fundos.

Na avaliação dos especialistas, por serem fundos com uma duration mais longa, os fundos de debêntures incentivadas podem capturar esse movimento de fechamento de curva de forma alavancada, o que poderia oferecer bons retornos caso esse cenário se confirme.

Atualmente, a XP acredita que o Banco Central poderá iniciar o ciclo de corte de juros a partir da reunião de agosto. Nas projeções da casa, a Selic deve encerrar este ano em 12% e chegar a 11% no primeiro trimestre de 2024 após um corte de 0,25 ponto percentual em agosto, seguido por cortes sequenciais de 0,50 ponto.

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Em sua análise, a casa afirma que o novo arcabouço fiscal não estabiliza a relação dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB), mas traz “alguma visibilidade ao estabelecer limites para a expansão futura de despesas”.

“O arcabouço tende a ser útil para uma política monetária mais frouxa por parte do Banco Central”, observam os especialistas.

Aliado a isso, a casa alerta para o enfraquecimento do mercado de crédito e para a mensagem mais “positiva” apresentada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março.

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Na próxima sexta-feira (12), serão apresentados os números do IPCA referente ao mês de abril.  O consenso Refinitv aponta para uma variação mensal positiva de 0,55% e de 4,10% em 12 meses.

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Estabilização dos spreads

Parte do maior otimismo com os fundos de debêntures incentivadas também é justificado pela recente interrupção das altas e consequente, estabilização dos spreads (juros a mais pagos pelos títulos corporativos quando comparados a um papel público de prazo equivalente) oferecidos pelas debêntures incentivadas, como explicam os especialistas da XP.

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“Após oito meses de alta, os spreads dos títulos incentivados apresentaram um movimento de estabilidade no mês de março, marcando também uma possível retomada de interesse dos investidores pela classe”, afirmaram os profissionais.

A casa lembra que os retornos de fundos de debêntures incentivadas até março deste ano foram afetados pela desaceleração do IPCA, uma queda na demanda por ativos incentivados, o que levou a abertura nos spreads e consequentemente, recuo nos preços.

Durante o período, houve também uma piora em relação a percepção das métricas de crédito no geral, principalmente no primeiro trimestre de 2023, em função da forte volatilidade no mercado de crédito provocada por problemas com a Americanas (AMER3) e Light (LIGT3).

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Após um período mais difícil, com os retornos dos fundos de debêntures incentivadas abaixo do IMA-B 5 – índice composto por títulos públicos atrelados à inflação com vencimento em até cinco anos – nos últimos 12 meses até março, os especialistas começam a ver sinais de uma reversão. Em março e em abril, os fundos que investem em debêntures incentivadas ficaram entre os destaques na renda fixa diante das demais classes de ativos.

“Apesar da volatilidade no mercado de crédito no geral, as debêntures de infraestrutura foram beneficiadas tanto pelo fechamento da curva das NTN-Bs, quanto pelo fechamento, mesmo que marginal dos spreads de crédito IPCA+”, destacaram.

Riscos no radar

Ainda que os profissionais da XP vejam o momento atual como bom ponto de entrada para fundos de debêntures incentivadas, a casa pondera que o investidor não deve investir 100% da sua alocação atrelada à inflação nesse tipo de ativo.

Nesse caso, o ideal é dividir entre papéis atrelados à inflação e fundos. Lembrando que se a exposição ao fundo for maior do que 10% da carteira do investidor, a sugestão dos especialistas é que ele aloque em mais de uma opção.

A casa também não nega que há alguns riscos no radar que devem ser monitorados, como a atuação que o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Embora tanto o presidente quanto ministros tenham sinalizado uma potencial volta da participação mais relevante do banco no fomento ao mercado de crédito privado, a XP avalia que há algumas possibilidades para mitigar o impacto dessa retomada.

Na visão da casa, há uma chance de que o foco da instituição fique mais restrito a pequenos e médios empresários, que apresentam maiores dificuldades para acesso a financiamento no mercado de capitais, além de custos elevados em captações bancárias. Nesse caso, a casa enxerga que empresas maiores continuariam a buscar financiamento via mercado de capitais.

A XP também acredita que a instituição poderá investir em uma diversificação maior dos financiamentos nos próximos anos. Visão que tem como base sinais dados por integrantes do banco em entrevistas anteriores à imprensa. Para os profissionais, isso seria possível por meio da emissão de letras de crédito ou de letras financeiras, que poderiam ser distribuídas por meio de corretoras, ampliando o acesso de investidores e, assim, a própria capacidade de financiamento do BNDES.