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SÃO PAULO – A crise iniciada no setor imobiliário norte-americano, que contaminou o mercado global de crédito e deixa seus impactos nas principais economias do mundo, sela o fim de cinco anos consecutivos de renda variável em alta no Brasil. O conceito de fuga para a qualidade (fly to quality, em inglês) há tempos não ganhava tanta projeção: aumenta a aversão ao risco, aumenta a procura pela renda fixa.
No lado ofertante do mercado de capitais, 2008 também marca uma inflexão. Até o final de novembro o número de emissões com registro ou dispensa na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), 260, já ultrapassava as marcas de 2007 (224) e 2006 (217).
Em volume a história é a mesma: nos primeiros onze meses do ano a renda fixa (R$ 58,5 bilhões) supera o total captado pela renda variável (R$ 34,9 bilhões), e como atualmente na autarquia se encontram em análise apenas as ofertas de ações de Locaralpha Participações e Visanet e a distribuição de certificados de depósitos de ações de El Tejar Limited, tudo indica que pela primeira vez desde 2006 a renda fixa será líder em emissão no mercado brasileiro de capitais.
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O que não significa que, apesar da maior procura por investimentos de menor risco, as empresas encontrem facilidade de colocação de seus ativos. Isto porque cresceu a importância do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) como fonte de financiamento: os desembolsos do banco nos primeiros onze meses do ano bateram recorde, com a cifra de R$ 79,9 bilhões, superior às emissões tanto na renda fixa quanto na variável.
Os protagonistas de 2008
Pouco menos da metade das emissões de renda fixa registradas na CVM corresponde a debêntures, que ano a ano perdem espaço para outras alternativas dentro da renda fixa, como as notas promissórias, que têm por característica menor prazo de vencimento.
Registros de emissões e dispensas de registro | |||
(em R$ bilhões) | 2008* | 2007 | Variação |
Debêntures | 38,949 | 48,073 | -19,0% |
Notas Promissórias | 23,763 | 9,726 | +144,3% |
FIDCs | 12,125 | 12,094 | +0,3% |
CRI | 4,493 | 1,520 | +195,6% |
Ações** | 34,881 | 75,499 | -53,8% |
Fonte: CVM
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*Até 18 de dezembro
**Inclui certificados de depósitos de ações
Em termos percentuais a maior evolução na passagem anual, dentre os ativos com maior volume captado, é apresentada por uma aplicação não tão popular no mercado de capitais brasileiro, o CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários). Em termos de volume, as emissões quase triplicaram na passagem de 2007 para 2008 (até 18 de dezembro).
Tesouro Direto
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Criado em janeiro de 2002 para possibilitar a aquisição de títulos públicos por pessoas físicas pela internet, o Tesouro Direto está entre as opções que mais caíram nas graças do investidor neste ano de 2008.
As vendas acumuladas entre janeiro e novembro somam R$ 1,4 bilhão, com maior participação dos pré-fixados. Por sua vez, o estoque total do Tesouro Direto – títulos públicos em poder dos investidores Pessoa Física – alcançou R$ 2,3 bilhões, 66% a mais do que um ano atrás.
O número de investidores cadastrados avançou 42% em 12 meses, totalizando 142.789 no penúltimo mês de 2008. Aproximadamente 30% das vendas foram de até R$ 1.000, demonstrando o apelo desta opção entre os pequenos investidores.
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Poupança
A tradicional caderneta de poupança também esteve em evidência. Nos primeiros onze meses de 2008 a captação líquida foi superavitária em R$ 12,272 bilhões, resultado da diferença entre os depósitos de R$ 1,053 trilhão e as retiradas de R$ 1,041 trilhão. Em dois meses – abril e outubro – os saques superaram as aplicações, ao passo que o melhor resultado mensal de 2008 foi visto em julho (R$ 2,258 bilhões).
Contando com o rendimento dos recursos já aplicados, o patrimônio líquido da poupança chegou a R$ 263,3 bilhões ao final de novembro.
As aplicações feitas em 1 de janeiro acumulavam rentabilidade de 7,14% no primeiro dia de dezembro, de acordo com a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
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CDB
O estoque valorizado de CDBs (Certificados de Depósitos de Ações) na Cetip mais que dobrou, ao passar de R$ 360,3 bilhões ao final de 2007 para R$ 683,3 bilhões até 18 de dezembro.
É a maior representação (26,2%) em volume dentre os ativos registrados na câmara.
Fundos de Renda Fixa
Tendências opostas foram apresentadas pelas três categorias de fundos de renda fixa listadas pela Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
Os fundos de curto prazo, os mais conservadores dentro das opções de fundos de renda fixa, acumulavam até 17 de dezembro captação líquida de R$ 7,7 bilhões. A rentabilidade média da categoria no ano, ponderada pelo patrimônio líquido, era de 11,85%. Com isso, a categoria ganhou participação no PL total da indústria doméstica de fundos de investimento entre o final de 2007 (2,5%) e o último dia 17 (3,51%).
Já os fundos tradicionais de renda fixa, embora ainda liderem o market share do mercado de fundos do País, perderam participação de 0,43 ponto percentual no período, atualmente em 30,4%. Em 2008 os resgates destes fundos superaram as aplicações em expressivos R$ 44,9 bilhões. A rentabilidade média da categoria, na mesma base comparativa, é de 12,26%.
Por fim, os fundos DI, apesar da captação deficitária de R$ 2,8 bilhões no ano, ganharam 1,13 ponto percentual de participação de mercado, agora em 16,42%, graças à rentabilidade da aplicação, de 11,63% no intervalo em questão.