Descasamento de liquidez pode ser “3º dominó a cair” após anos de dinheiro fácil, diz Larry Fink, da BlackRock

Em carta a investidores, Fink destacou que é cedo para saber quão generalizado será o dano a bancos após falência do SVB

Mariana Segala

Larry Fink, CEO da BlackRock
Larry Fink, CEO da BlackRock

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Em uma carta destinada aos investidores publicada nesta quarta-feira (15), Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, avaliou que o “descasamento de liquidez” pode ser mais um problema que se tornará visível daqui para frente, como um efeito dos anos de políticas fiscais e monetárias “extraordinariamente agressivas” adotadas após a crise financeira de 2008.

Após o colapso do sistema financeiro de 15 anos atrás, que teve as hipotecas americanas de alto risco como pano de fundo, bancos centrais ao redor do mundo mantiveram os juros em níveis perto de zero – movimento acentuado com a eclosão da pandemia de coronavírus em 2020.

“Como resultado dessas políticas, vimos a inflação subir acentuadamente para níveis não vistos desde a década de 1980. Para combater essa inflação, o Federal Reserve [Fed, banco central americano] no ano passado elevou as taxas em quase 500 pontos-base”, descreveu Fink. “Este é um preço que já estamos pagando por anos de dinheiro fácil, e foi o primeiro dominó a cair”.

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A consequência foi a desvalorização dos títulos de renda fixa em circulação a mercado, devido aos efeitos da marcação a mercado – que representa a atualização dos preços dos papéis segundo as condições de negociação vigentes. Em momentos de taxas em alta, a tendência é de que os títulos desvalorizem. No mercado americano de bonds, lembrou Fink, a queda foi de 15% em 2022.

“Na semana passada, vimos a maior falência bancária em mais de 15 anos, quando os reguladores federais tomaram o Silicon Valley Bank (SVB). É uma incompatibilidade clássica entre ativos e passivos”, disse o executivo. O banco usou capital para comprar títulos o governo e privados, do segmento de hipotecas (MBS, na sigla em inglês). Quando precisou vendê-los para honrar resgates que vinham sendo solicitados, seu valor havia reduzido fortemente em função dos juros mais altos – a taxa básica saiu da faixa entre zero e 0,25% para os atuais 4,50% a 4,75% ao ano.

Destacando que outros dois bancos menores também faliram na semana passada (o Silvergate e o Signature Bank), Fink afirmou que é cedo para saber o quão generalizado será o dano. “Até agora, a resposta regulatória foi rápida e ações decisivas ajudaram a evitar riscos de contágio. Mas os mercados continuam no limite”, disse. “O descasamento entre ativos e passivos serão o segundo dominó a cair?”, questionou.

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Na esteira dos desdobramentos dos tempos de juros baixos, Fink argumenta que o “terceiro dominó a cair” pode ser o descasamento de liquidez. “Anos de taxas mais baixas tiveram o efeito de levar alguns proprietários de ativos a aumentar seus compromissos com investimentos ilíquidos – trocando a liquidez mais baixa por retornos mais altos”, descreveu. Agora, eles correm o risco de incompatibilidade de liquidez, especialmente aqueles com carteiras alavancadas.

Embora considere que o sistema financeiro seja mais forte hoje do que era em 2008, as ferramentas monetárias e fiscais disponíveis para as autoridades lidarem com a crise atual são limitadas. Nos Estados Unidos, Fink acredita que o Fed seguirá focado no combate à inflação, mantendo o aumento dos juros.

“Com taxas de juros mais altas, os governos não conseguem sustentar os níveis recentes de gastos fiscais e os déficits das décadas anteriores. O governo dos EUA gastou um recorde de US$ 213 bilhões em pagamentos de juros sobre sua dívida no quarto trimestre de 2022, um aumento de US$ 63 bilhões em relação ao ano anterior”, afirmou.

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Para Fink, depois de anos de crescimento global impulsionado por gastos dos governos e juros baixos, o mundo precisa do setor privado para desenvolver as economias e elevar os padrões de vida da população. “Precisamos que os líderes governamentais e corporativos reconheçam esse imperativo e trabalhem juntos para liberar o potencial do setor privado”.

Na visão do executivo, é inevitável que alguns bancos reduzam o volume de empréstimos para fortalecer os balanços. Por isso, a longo prazo, a atual crise bancária tende a ressaltar a importância dos mercados de capitais, avalia. “À medida que os bancos se tornam potencialmente mais limitados em seus empréstimos, ou à medida que seus clientes despertam para essas discrepâncias de ativos e passivos, prevejo que provavelmente recorrerão em maior número aos mercados de capitais para financiamento”.

Mariana Segala

Editora de Investimentos do InfoMoney