Dividendos em dólar: as 66 ações que pagam todo ano, há décadas – e podem render acima do S&P 500

Imagine investir nas empresas que são as melhores pagadoras de dividendos dos Estados Unidos. Não pagadoras pontuais. Pagadoras consistentes e crescentes, que remuneram seus acionistas ano a ano – sem pular nenhum – há pelo menos 25 anos.

Existem pelo menos 66 empresas listadas nas bolsas americanas que fazem exatamente isso. Elas estão agrupadas em um índice seleto, o S&P Dividend Aristocrats. Só são incluídas nele ações que, além do histórico de 25 anos ininterruptos distribuindo proventos, sempre em valores maiores, façam parte do S&P 500, o índice das 500 maiores empresas de capital aberto do país.

Além de proporcionar ganhos com a distribuição de proventos, as “aristocratas dos dividendos” também valorizaram mais que a média do mercado em janelas de tempo recentes. Nos últimos 12 meses até maio, o índice avançou 1,45%, contra 0,91% do S&P 500. Em três anos, a alta do Dividend Aristocrats foi de 13,45%, ante 12,7% do benchmark.

Em períodos mais longos, como cinco ou dez anos, o desempenho do S&P 500 foi mais alto. A razão é a composição do benchmark. Entre as 500 maiores companhias dos EUA, muitas são empresas de crescimento que tendem a se valorizar com o passar do tempo. Já o índice de dividendos possui empresas mais resilientes e consolidada. Nos últimos anos, com a crise da pandemia e a guerra na Ucrânia, as “aristocratas dos dividendos” perderam menos valor.

Existem empresas pouco populares entre os brasileiros na lista, como Cardinal Health (CAH), Aflac (AFL) e W.W. Grainger (GWW), dos setores de saúde, finanças e indústria, respectivamente. Porém, há também companhias muito conhecidas, como McDonald’s (MCD), Coca-Cola (COCA34), Colgate-Palmolive (CL)e Johnson & Johnson (JNJB34).

A Coca-Cola já completou mais de seis décadas de pagamentos consecutivos de dividendos, assim como Colgate-Palmolive e Johnson & Johnson.

Embora no Brasil as empresas sejam obrigadas por lei a pagar dividendos aos seus acionistas, nos Estados Unidos não há essa regra. Por lá, é comum as companhias reinvestirem os lucros para crescer cada vez mais, em vez de distribuí-los aos investidores. Basicamente: transformar dinheiro em mais dinheiro.

Mas existem as “vacas leiteiras”, termo que o mercado usa para designar as empresas com grandes lucros, boa geração de caixa e distribuição periódica de dividendos. Em suma, essas companhias estão saudáveis, bastante consolidadas em seus setores e têm menos espaço para crescimento acelerado.

“Muitas dessas empresas são multinacionais que não conseguem entregar crescimento de lucro e receita como empresas que estão em expansão. Então elas atraem investidores e acionistas de outra forma, com suas histórias consolidadas e bons dividendos”, diz Marcus Vinicius Leoncio, economista e gerente da mesa internacional da Nomos.

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Renda em dólar

Segundo Leoncio, essas empresas são ótimas opções para investimento por brasileiros por três motivos:

• Menos risco: são empresas consolidadas, com exposição em muitos países e costumam resistir aos cenários mais difíceis. Por isso, as ações têm menos volatilidade e menos risco;
• Diversificação: investir nessas empresas oferece diversificação geográfica para a carteira, com exposição a muitos países, não só aos Estados Unidos;
• Renda em dólar: além de ser uma moeda forte que perde menos valor com o tempo do que o real, cada dividendo que cai na conta é aumento de patrimônio em dólar.

Nos últimos dez anos, as empresas listadas no S&P Dividend Aristocrats ofereceram uma taxa de retorno com dividendos de 2,45% anuais, em média. É menos do que o retorno de 3,59% do Ibovespa. Porém, há de se considerar que os proventos das empresas americanas são pagos em dólar – e isso faz muita diferença.

O preço médio da ação da Exxon Mobil (XOM) em 2018 era de US$ 79,96. Quem tinha cem ações da empresa naquele ano recebeu US$ 400,98 em dividendos, com um dividend yield de 3,86% – ou R$ 1.443,53, considerando a cotação média do dólar naquele ano (de R$ 3,60) e sem descontar impostos e encargos de câmbio.

Em 2022, as mesmas cem ações renderam US$ 602,50 em dividendos, já que o dividend yield aumentou para 5,80%. Só que o dólar subiu muito mais: a cotação média, de de R$ 5,23, ficou 60% acima da verificada quatro anos antes. O salto dos dividendos em reais, portanto, foi muito maior – os pagamentos mais do que dobraram, para R$ 3.153,12.

Os cálculos envolvem apenas dividendos, sem considerar os ganhos com a valorização da ação – que foi de 31,87% no mesmo período.

Mas isso não quer dizer que vai ser sempre assim. Neste ano, entre janeiro e maio, o dólar desvalorizou 4,32% frente ao real. Nas cotações atuais, os mesmos proventos de US$ 602,50 depositados pela Exxon Mobil em 2022 totalizariam R$ 2.979,66.

Este é o risco de investir em ativos atrelados ao dólar – além dos riscos intrínsecos de investir em ações.

De modo geral, o risco embutido no S&P Dividend Aristocrats é muito similar ao do seu índice de referência. Em cinco anos, o risco anualizado do índice de dividendos foi de 17,57%, enquanto o do o S&P 500 foi de 18,63% – ambos menores do que os 21% do Ibovespa.

Como investir nas “aristocratas dos dividendos”

Existem duas principais opções. A primeira é montar uma carteira própria de ações com papéis listados no índice. Dá trabalho, pois requer o estudo de cada uma das empresas escolhidas e o acompanhamento dos balanços, fatos relevantes e pagamentos de proventos.

A outra é investir no fundo de índice (ETF) que acompanha o S&P Dividend Aristocrats. O principal deles é o ProShares S&P 500 Dividend Aristocrats ETF (NOBL). O fundo, listado na BZX Exchange, espelha as ações incluídas no índice e distribui os dividendos das companhias.

Entretanto, o NOBL tem uma taxa de administração de 0,35% ao ano, considerada alto em comparação com outros ETFs americanos.

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Outro custo é o imposto que os Estados Unidos cobram sobre os dividendos. A alíquota é de 30% sobre os pagamentos para quem não é cidadão americano. Porém, a própria empresa recolhe na fonte e o investidor não tem nenhuma obrigação em relação a essa taxa. Como já pagou lá fora, não é necessário pagar de novo aqui no Brasil. Mas existem outras taxas internas.

Para investir no exterior, é necessário mandar o dinheiro para fora e convertê-lo em dólares. As corretoras de investimentos prestam esse serviço, mas cobram uma tarifa de conversão, além do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) cobrado pelo governo. As taxas de conversão variam entre 1% e 2%, enquanto o IOF é de 0,38%.

Veja a seguir a lista completa das empresas consideradas “aristocratas dos dividendos”: