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Comum no mercado financeiro, a estratégia de investimento que foca em dividendos também vale para quem quer ter renda em dólar, desde que se escolha bem os papéis que vão compor a carteira. Lá fora, assim como no Brasil, as ações de petroleiras costumam ganhar espaço. Mas, qual papel oferece os maiores ganhos?
No Brasil, a Petrobras (PETR4), apesar de ter deixado os melhores dias de proventos para trás, ainda reina nesse segmento, e é uma das maiores pagadoras do mundo, distribuindo US$ 10,92 bilhões somente no primeiro semestre de 2023, segundo a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet).
Mas, as estrangeiras também não fazem feio.
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Dados da Aepet também mostram que as americanas Exxon Mobil (XOM) e Chevron (CVX) distribuíram US$ 7,44 bilhões e US$ 5,68 bilhões, respectivamente, no mesmo período. Além disso, recompraram ações recentemente, entregando retorno adicional para os investidores que já têm posições.
As inglesas Shell e BP também estão na lista de boas pagadoras, com US$ 4,01 bilhões e US$ 2,34 bilhões distribuídos na primeira metade do ano.
“É uma indústria antiga, com companhias muito consolidadas que não estão em um movimento de expansão. Isso aliado à forte geração de caixa torna o retorno aos acionistas uma estratégia consistente”, diz Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter.
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Qual petroleira paga mais dividendos?
Para além do valor cheio do provento, é preciso calcular qual empresa paga mais relativamente à quantidade e ao valor da ação.
Alguns indicadores podem ajudar a responder esta pergunta. O mais comum é o dividend yield (DY), que relaciona o volume de pagamento de dividendos com o preço da ação.
Se uma empresa pagou US$ 1 por ação nos últimos doze meses e o preço da ação é US$ 10, significa que o dividend yield é de 10%. Quanto mais alto for esse percentual, significa que mais dividendos a empresa paga proporcionalmente ao investimento.
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Sob essa ótica, apesar de não entregar o maior volume total de proventos, a BP é a empresa com o maior DY ao ano, de 19,09%. Exxon, Chevron e Shell apresentam números bem menores, entre 2,5% e 3%.
O investidor que visa se aposentar com dividendos em dólar pode se importar menos com o desempenho de papéis que não pretende vender, mas é preciso olhar para além do dividend yield. Isso porque o indicador é um retrato do passado, calculado com base em proventos que já foram pagos – portanto, apenas projeta quanto poderá distribuir no futuro.
Por esse critério, a BP também é a campeã de retornos (ações + dividendos), com ganhos de 35% no acumulado de 2023. A Shell aparece na sequência, com 20% de retorno. Já as americanas Exxon e Chevron, apesar de entregarem yield similar ao da Shell, apresentam rentabilidade negativa no ano, de -1,94% e -17,28%, respectivamente.
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Empresa | Código | Dividend yield 2023 | Retorno total 2023 | Retorno 2023 (ações) |
Chevron | CVX | 3,14% | -17,28% | -19,58% |
Exxon Mobil | XOM | 2,59% | -1,94% | -4,31% |
Shell | SHEL* | 2,73% | 20% | 16,52% |
BP | BP* | 19,09% | 35,04% | 10,62% |
*ADR negociada nos Estados Unidos, a listagem original é na Europa.
Fonte: Economática, consulta em 27/10/2023
“É um movimento de correção natural após os números recordes de 2022. Conforme as empresas apresentam lucros menores e pagamentos menores, em linha com a queda na cotação do petróleo, é normal que os investidores optem por realizar seus lucros”, diz Joubert, sobre a queda no preço das ações e o retorno negativo da Exxon e, principalmente, da Chevron.
Lucros menores x dividendos maiores
Em 2023, balanço após balanço, as petroleiras estão apresentando lucros menores quando comparados com o mesmo período de 2022, que registrou recordes. No terceiro trimestre, o lucro da Exxon recuou 54% em relação ao mesmo período de 2022, para US$ 9,1 bilhões. A queda da Chevron também foi grande, de 42%, para US$ 6,5 bilhões. Entretanto, algumas anunciaram aumento de pagamentos de dividendos.
Ben Lofthouse, head de rendimento de ações na Janus Henderson, afirma que os dividendos das petroleiras continuam robustos e aumentando ano a ano.
“Muitas empresas de petróleo estão com níveis de equilíbrio entres custo e lucro mais baixos, após terem reduzido custos consideráveis nos últimos anos”, diz Ben Lofthouse, head de rendimento de ações na Janus Henderson.
Em 2022, a Chevron pagou US$ 1,42 por ação ao longo do ano. Em 2023, o valor aumentou para US$ 1,51. A Exxon já promoveu dois aumentos este ano, assim como Shell e BP.
Empresa | Código | Dividendo por ação 2022 (US$) | Dividendo por ação 1º sem 2023 (US$) | Dividendo por ação – 2º sem 2023 (US$) |
Chevron | CVX | 1,42 | 1,51 | 1,51 |
Exxon Mobil | XOM | 0,88 | 0,91 | 0,95 |
Shell | SHEL* | 0,50 | 0,57 | 0,66 |
BP | BP* | 0,36 | 0,39 | 0,43 |
*ADR negociada nos Estados Unidos, a listagem original é na Europa.
Fonte: Status Invest, consulta em 31/10/2023
Joubert, do Inter, destaca que essas empresas já eram boas pagadoras de dividendos antes dos recordes de lucros em 2022 e, provavelmente, continuarão sendo.
Lucas Schwarz, da VG Research, afirma que não são apenas as grandes petroleiras que oferecem bons números. Companhias menores também são oportunidade. A ConocoPhillips, uma multinacional norte-americana que atua na exploração de petróleo e gás, distribuiu US$ 2,65 bilhões no segundo trimestre de 2023. “Com o aumento nos preços do petróleo, o mercado tem previsto uma aceleração no crescimento do lucro de 2024, em cerca de 18%”, diz.
Outro exemplo é a EOG Resources, que foca em exploração onshore em solo norte-americano. Segundo Schwarz, a empresa se comprometeu recentemente em distribuir 60% do seu fluxo de caixa livre para os acionistas.
Fundamentos são a chave
Os lucros e, consequentemente, os dividendos distribuídos pelas petroleiras dependem bastante da cotação do petróleo. Após um 2022 de preços altos, a cotação em 2023 arrefeceu e diminuiu os lucros e dividendos dessas companhias.
Tudo mudou em setembro. No dia 27 daquele mês, o barril Brent rompeu os US$ 97 durante o pregão e fechou aos US$ 96,55 – maior valor do ano. O gatilho foi a queda acentuada nos estoques dos Estados Unidos, gerando uma preocupação com a oferta da commodity.
O início de uma segunda guerra internacional, entre Israel e Hamas, fortaleceu a tese de que o preço do petróleo deve ficar alto por mais tempo, devido às incertezas do conflito e as chances de prejudicar a produção no Oriente Médio, que responde por 30% da oferta global.
Entretanto, Alberto Amparo, head de análise internacional da Suno Research, acredita que o momento de identificar uma boa petroleira é justamente quando o preço da commodity está em baixa.
A exploração de petróleo é um negócio custoso, que depende do lucro para ser sustentável. As companhias que têm o menor custo de extração saem na frente”, diz Amparo. “A questão é, se mesmo com a cotação baixa, a empresa está tendo lucro, ela é uma boa opção. Porque até ela ter problemas, as concorrentes já quebraram.
Alberto Amparo, head de análise internacional da Suno Research
Neste sentido, o especialista indica que é importante conhecer as reservas da companhia, se estão produtivas e lucrativas, quais os custos de extração e a margem de lucro do negócio.
“Não é uma questão de preço do petróleo, mas do valor do negócio”.